Diário do Amapá - 01/04/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANAMELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANAMELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br pandemia do novo coronavírus assusta o mundo pelos impactos na saúde, eco- nomia e no bem-estar social. Essa crise mundial vai provocar mudanças profundas na maneira como os mais diversos governos enca- ram a saúde pública. No Brasil, oenfrentamento da Covid-19 vai se deparar com um panorama de 100 milhões de brasileiros sem acesso à rede de coleta e tratamento de esgoto, além de 35 milhões de habitantes sem água potável. Esse é um cenário devastador e propício para a propagação do novo coronavírus.Aindicação para evitar a proliferaçãoda doença é lavar bem as mãos com água e sabão, mas uma parcela significativa dos brasileiros sequer conta com acesso aos recursos hídricos adequados. Um estudo da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária eAmbiental (Abes), a partir dosdados do Datasus, aponta que nasmaiores cida- des com saneamento precário a taxa de internação por doenças causadas pela veiculação hídrica – como diarreia, gastroenterites, cólera, febre tifoide, entre outras - é três vezes maior em comparação com os municípios pró- ximos da universalização. ACovid-19 reforça o que os espe- cialistas já ressaltam há muito tempo. O saneamento básico deve ser priori- dade de qualquer nação interessada a reduziras abissaisdiferençasentre a popu- lação mais abastada e os mais pobres. Por- tanto, deve seruma política permanente de Esta- do, independentedo governode plantão.Os pre- juízoscausadospela faltadetratamentoadequado do esgoto e de abastecimento de água tratada, principalmente com apandemia dessenovo coronavírus, são incalculáveis. Para alcançar a universalização des- ses serviços, todas as esferas governa- mentais têm o desafio de contribuir para um planejamento minucioso, de curto, médio e longo prazo. Ele deve ser capaz de atender às demandas regionais, embasado em informações consistentes dos mais de 5.500 muni- cípios brasileiros. O enfrentamento a pandemia poderia ser menos traumáticaseo paíscontasse com melhores condições de infraestrutura na área de saneamento. É uma lição que não podemos esquecer e precisamos transformar esse aprendi- zado em política capaz de reverter os péssimos indicadores que ainda colecionamos na área. e novo ambicioso e possivelmente pre- maturo, cabem algumas reflexões, ainda que básicas em vários aspectos, sobre o consumidor DC: Depois do Coronavírus, em especial na nossa realidade. Temos em transformaçãoumprocesso inten- so, profundo, amplo, global e local,que envolve as mudanças que nos foram impostas, ou nos impusemos, decorrentes da combinação dos efeitos da pandemia causada pelo COVID-19, potencializada pelos dramáticos reflexos eco- nômico-financeiros,que alteram de forma estru- tural o comportamento dos consumidores. É sabido que ao longo do tempo existe um processo natural de amadurecimento e desen- volvimento dos consumidores por conta das transformações da economia, tecnologia e da sociedade como um todo. Mas eventos extem- porâneos, comoguerras, pandemias, crises eco- nômicasou disrupção tecnológica intensa, alte- ramo ciclo evolutivo natural,precipitam ou alte- ram comportamentos no momento de sua ocor- rência e geram mudanças estruturais que se incorporam de forma permanente. Como contribuição para um pensar mais estratégico sobre essas mudanças comporta- mentais, a partir da leitura, observação, análise e a experiência de termos vividomomentos tam- bém intensos em alteração do ciclo evolutivo natural, listamos alguns temas sobre os quais deveríamos refletir e avaliar seus impactos em nossas vidas, atividades, relacionamentos, ati- vidade profissional e negócios. E essa simples ordem na sequência já é indicativa dessas mudanças. 1) Para o mundo que eu quero descer – Eis aí um fato que o calor do momento precipita. Muitos tendem a repensar criticamente seus valores pessoaise em relaçãoà vida,à sociedade, às atividades sociais, profissionais e empresa- riais. De forma marcante o momento precipita um repensar mais profundo sobre o que essas pessoas têm feito, agido e se sensibilizado e o resultado será um pensamento mais crítico,cau- teloso, consciente sobre temas que passavam como menosrelevantes ou indiferentes.Ao con- trário. 2) Meu espaço, meu mundo, se tor- naram menores – Outro aspecto que deve emergir, influenciando compor- tamentos e atitudes, se refere à pro- funda interconexão de tudo e todos que se torna flagrante pelas limitações impostas e o convívio compulsório com a nova realidade.Acomeçarpelo fato, inconteste,que umproblema nas- cido numa feira de uma província na China se espalhou pelo Mundo e impõe uma nova ordem sem que praticamente nenhuma região ou população consiga se isolar do problema maior. 3) Mais frágil e não tem como negar – A combinaçãoperniciosa de fatores, lideradospelo COVID-19e as reaçõesde toda ordem, algumas mais passionais,mas todas destacandoo caráter compulsório das restrições pessoais e sociais criam um sentimento de fragilidade individual talvez sem precedentes e talvez só comparável ao ocorrido emperíodosde guerra e convulsões. Esse sentimento ocorre no plano mais geral e é ainda maior no individual já que as limitações impostasporcortes,restrições, reduções,ajustes e eliminações envolvendo toda sorte de temas, criam no indivíduo esse sentimento de maior fragilidade. 4) Hiperconveniência comonovo paradigma – Era um processo em natural evolução e resul- tado da convergência de dois fatores simulta- neamente. De um lado as dificuldades, restri- ções, segurança e tempo envolvidos em deslo- camentos,em especial nosgrandescentrosurba- nos, que empurravam as pessoas para um com- portamento demandante de maior conveniência, reduzindo especialmente o tempo e gerando facilidade e racionalidade. 5) Menos fidelidade, mais experimentação – Em outro artigo desta série já havíamos tratado deste tema, que é também uma aceleração de umprocessonatural derivado doaumentoexpo- nencial de alternativaspara escolha de produtos, marcas, locais, canais e empresas. O tema aumento das alternativas de escolha foi muito explorado no livro O Paradoxo da Escolha de Barry Schwartz. 6) Mais razão e menos emoção. Não tem outra opção – A pressão desmedida a que todos estão submetidos reflete-se num crescimento inevitável do vetor razãono processode avaliaçãoe com- pras de produtos e serviços. Histori- camente, por segmento ou geografia, existem pesosrelativosconsiderados nosprocessos de escolhas. Por exem- plo, determinadas regiões por predo- minância da ascendência europeia com uma cultura forjada em vetores mais racionais, tem maior peso nas decisões esse ladoda moeda.Em outras, o emocional tende a ter maior peso. E ao longo do tempo e ao sabor das experiências e do momento, esse processo, do peso relativo do racional e do emo- cional, tende a variar, privilegiando um ou outro em termos relativos. 7) Foi decisivo, não será esquecido– Em todos os sentidos. São em períodos de intensa carga emocional, tensão e pressão que a sensibilidade fica especialmente atenta a tudo que toca nossas vidas. E as marcas, produtos, serviços, canais, pessoas, líderes e colegas que possam ser impor- tantesnesse momento,criam um vínculo de longo prazo que condiciona comportamentos e atitudes com respeito a preferências e escolhas agora e por muito tempo mais. Por essa razão muitas empresas nesse período estão sendo cautelosas em oferecer algo que não seja institucional. Passado o momento mais agudo, ficará pre- sente os que foram solidáriose apoiaram e osque tentaram se aproveitar.E issoenvolve temas inclu- sive como empresas que, aproveitando a alta demanda, aumentam preçospara um equivocado benefício momentâneo.Asaçõessensíveis e posi- tivasaumentarão o ativo intangível das empresas, marcas e negócios e, de outro lado, o comporta- mento mesquinho de melhoria de vendas e mar- gens emmeio aoquadrode absolutoestresse fica- rá marcado no longo prazo das relações com as pessoas. É líquido e certo que a complexidade do com- portamentohumanoé grande demais para,ambi- ciosamente, listar apenas alguns tópicos para reflexão sobre o que veio para ficar em termos de ações, atitudes, valores, percepções e reações de consumidores.
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