Diário do Amapá - 05 e 06/04/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / uando escrevo estas palavras ainda não sabemos como será a Semana Santa que iniciamos com o Domin- go de Ramos. Talvez tenhamos a possi- bilidade de realizar as celebrações pre- vistas pela Liturgia, ao menos do Tríduo Pascal, nas Igrejas, com poucas pessoas, distantes entre si, ou nem isso. Talvez, por precaução e segurança, tenhamos que ficar em casa, esperando dias melhores. Por tudo isso e sem saber o que nos aguar- da, posso afirmar, com certeza, que será uma Semana Santa “diferente”. Em primeiro lugar, porque muitas per- guntas e novos sentimentos se ajuntam em nossas cabeças e em nossos corações. As previsões são sombrias, para alguns até catastróficas. Muitos acham que a humanidade, depois que essa tempestade passar, será diferente. Concordo, mas será melhor ou pior? Por melhor entendo uma humanidade mais solidária e fraterna consciente que as nossas divisões e fron- teiras podem ser defendidas com muros, cercas, armas, leis e impostos, mas na realidade somos mais família humana do que pensamos. O vírus se espalhando pro- vou que todas essas defensivas servem para pouco ou nada. Essas barreiras fun- cionam para as mercadorias, os migran- tes, os que fogem das guerras inúteis, para povos inteiros deslocados das suas terras, mas não para um inimigo quase invisível. Pode ser, porém, que acordamos, um dia, piores. Preocupados com a nossa sobre- viv& ecirc;nc ia, com a falência das empresas, com os negócios parados e os lucros sumindo; pode ser que tenhamos medo uns dos outros, como se todos fossem inimigos e nos roubassem algo que nos pertence. Será que iniciaremos grandes ou pequenas guerras pela água, pelo chão, pelos remédios capazes de nos prote- ger no futuro de novos vírus letais? Se assim acontecer esta pobre humanidade estará perdida. Eu espero e acredito que teremos aprendido a unir mais as forças. Países de lados diferentes, com interesses e polí- ticas opostas, não negaram ajuda a quem precisava. A quem especula complôs internacionais e disputas pelo controle do planeta, respondem os milhares de volun- tários prontos a ajudar, arriscando as pró- prias vidas. Quantos aplausos e sinais de gratidão já ganharam os médicos e todo o pessoal dos hospitais? Muitos deles já pagaram com a vida o seu desprendimen- to. Sem contar todos aqueles e aquelas que acolheram desabrigados e moradores de rua, todos os que prepararam e distri- buíram alimentos para a sobrevivência de quem não podia parar de trabalhar ou não tinha mais nenhum recurso financei- ro. Saber que fábricas de automóveis se transformaram em fábricas de respirado- res para atender às urgências dos doentes graves, é um sin al confo rtante. É ver- dade que alguns estão assaltando pedes- tres nas ruas desertas, outros querem lucrar acima do lícito vendendo más- caras protetivas, álcool em gel, ali- mentos, remédios e tudo o que, na falta, costuma ficar mais caro. Sempre haverá aproveitadores, como também profetas de des- graça. O caminho do bem é lon- go e difícil. Eu quero ser testemunha da esperança, como Papa Francisco a nos repetir as palavras de Jesus, “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé”? Creio sim, na bondade de Deus, na sua paternidade e miseri- córdia. Não estamos sozinhos nesta luta. No entanto, devemos acreditar também em nós, na força do povo que descobre o seu potencial de generosidade e partilha. Quantos gestos de fraternidade e esperança nos surpreendem todo dia, talvez vindo de pessoas que tínhamos julgado insensíveis, gananciosas ou superficiais. Na Semana Santa que iniciamos, acompanharemos, mais uma vez, Nosso Senhor Jesus Cristo, no caminho do Calvário. Assim ele quis partilhar a condição humana, fraca e mor- tal. Deu-nos o exemplo, ensinou-nos a ofe- recer tudo, a não poupar nem a própria vida, para que outros passam viver mais felizes. Ele fez tudo isso por amor. É sempr e e some nte o amor que doa vida, ampara e consola. É o amor que transforma até a morte em vida nova. Após o silêncio da Cruz, cantaremos o Aleluia da Ressurrei- ção. Acreditemos e nós também seremos uma humanidade nova e melhor. odo mundo sabe, exceto aqueles que ignoram a história, que a Igreja marcou profundamente sua história, com o testemunho da caridade, sobretudo com os mais pobres e doentes. Estamos vivendo agora tempos difíceis e marcados pelo medo. Temos medo por esta pande- mia que toma conta do pequeno planeta terra. Temos medo pelo futuro incerto e tantas limitações que estamos passando. Portanto, a insegurança presente e o futuro incerto nutrem medo e enfraquecem a esperança. É evidente que, para vencer tudo isso, precisamos combater o egoísmo e superar o individualismo que tanto nos sufoca. Perante um cenário como esse, como o cristão deve agir? Temos muitas tentações a respeito, mas sobretudo aquela de se deixar atrair por uma espiritualidade que pretende se refugiar numa salvação como bem-estar individual. Estamos na presen- ça de uma crença em um Deus único, supremo, mas personalizado e providen- cial. Assim sendo, parece que estamos diante de um Deus energia, de um mora- lismo proveniente da antropologia, a sal- vação como paz e tranquilidade do cora- ção. Nestas posições bem indivi- duais, a verdadeira esperança some e, principalmente não pode ser cristã. Por quê? A esperança é para todos ou não é? Se espera por todos ou não? A esperança como os cristãos não pode se fechar no egoísmo. Então, surge a pergunta: qual é a esperança que se anuncia na nossa missão cristã? Creio firmemente que Jesus Cristo nos dá essa resposta. Vivendo o seu ensino e testemunho, fica evi- dente que aquela atenção que deu para os últimos, os doentes, os sofredores, os opressos é uma ação de grande amor. Aquela cruz tão horrível é a profunda ação de amor totalmente doado para toda a humanidade. Assim sendo, a esperança se determina nesse imenso amor para todos. Jesus viveu e morreu não para alguns, mas para todos. Por isso, a verda- deira esperança cristã se fundamenta além do próprio “eu”. Uma esperança que se baseia no amor não tem limites de ir ao encontro de pessoas, de espaço e de tem- po. Esse amor não pode terminar, mas dar a esperança da grande perspectiva da grandeza da vida. E a ressurreição de Jesus é a resposta definitiva que o seu amor para a humanidade não foi em vão, não foi tempo perdido, mas, pelo contrário, revelador de VIDA. E a esperança que devemos propor, para todos e sempre, é que o Amor está acima da morte. O Amor de Jesus é mais forte que a mesma morte. É essa a esperança que devemos anunciar e testemunhar. As pessoas estão sedentas disso, dessa esperança forte que abranja o mundo todo. De saber que a nossa huma- nidade é projetada além do quotidiano. Isto caracteriza o grande impulso mis- sionário. Perante tantos problemas e indi- ferenças em relação a Deus e a Igreja, vamos testemunhar a Esperança que se centraliza em Jesus Cristo. Uma Esperan- ça que nos sustenta e dá coragem na nossa peregrinação terrena de ir sempre ao encontro do outro para ouvi-lo e se soli- darizar com ele: "Este é o meu manda- mento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo.” (Jo 15,12)

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