Diário do Amapá - 23/04/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANAMELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANAMELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br e nós precisávamos lembrar que vivemos em um mundo interconectado, o novo coronavírus tornou isso mais claro do que nunca. Nenhum país pode resolver esse problema sozinho, e nenhuma parcela de nossa sociedade pode ser desconsiderada se quisermos efetiva- mente enfrentar este desafio global. OCovid-19 é um teste não apenas de nossos sistemas e mecanismos de assistência médica para responder a doenças infecciosas, mas tam- bém de nossa capacidade de trabalharmos juntos como uma comunidade de nações diante de um desafio comum. É um teste da cobertura dos benefícios de décadas de progresso social e econômico em relação aqueles que vivem à margem de nossas sociedades, mais distantes das alavancas do poder. As próximas semanas e meses desafiarão o planejamento nacional de crises e os sistemas de proteção civil - e certamente irão expor defi- ciências em saneamento,habitaçãoe outros fato- res que moldam os resultados de saúde. Nossa resposta a essa epidemia deve abran- ger e focar,de fato, naquelesa quem a sociedade negligencia ou rebaixa a um status menor. Caso contrário, ela falhará. A saúde de todas as pessoas está ligada à saúde dos membros mais marginalizados da comunidade. Prevenir a disseminação desse vírusrequer alcance a todos e garantia de acesso equitativo ao tratamento. Isso significa superar as barreiras existentes para cuidados de saúde acessíveis e combater o tratamento diferenciado há muito tempo baseado em renda, gênero,geografia,raça e etnia, religião ou status social. Superar paradigmas sistêmicos que ignoram os direitos e as necessidades de mulheres e meninas ou, por exem- plo, limitar o acesso e a participação de grupos minoritários será crucial para a prevenção e tratamento efica- zes do COVID-19. Aspessoas que vivem em institui- ções - idosos ou detidos - provavel- mente são mais vulneráveis à infecção e devem ser especificamente incluídas no planejamento e resposta à crise. Migrantes e refugiados - independente- mente de seu status formal - devem ser plena- mente incluídos nos sistemas e planosnacionais de combate ao vírus. Muitas dessas mulheres, homens e crianças se encontram em locais onde os serviços de saúde estão sobrecarregados ou inacessíveis. Eles podem estar confinados em abrigos, assentamentos, ou vivendo em favelas urbanas onde a superlotação e osaneamentocompoucos recursos aumentam o risco de exposição. O apoio internacional é urgentemente neces- sário para ajudar os países anfitriões a intensi- ficar os serviços- tantopara refugiados e migran- tes quantopara as comunidades locais - e incluí- los nos acordosnacionais de vigilância,preven- çãoe resposta. Não fazer isso colocará em risco a saúde de todos - e o risco de aumentar a hos- tilidade e o estigma. Também é vital que qualquer restrição nos controles das fronteiras, restrições de viagem ou limitações à liberdade de movimento não impeça as pessoas que possam estar fugindo da guerra ou perseguição de acessar a segurança e proteção. Além desses desafios muito imedia- tos, o coronavírus também testará, sem dúvida, nossos princípios, valores e humanidade compartilhada. Espalhando-se rapidamente pelo mundo, com a incerteza em torno do número de infecçõese com uma vaci- na ainda a muitos meses de distância, o vírus está provocando ansiedade e medos profundos em indivíduose socie- dades. Sem dúvida, algumas pessoas sem escrúpulos procurarão tirar vantagem disso, manipulando medos genuínos e aumentando as preocupações. Quandoo medoe a incerteza surgem,os bodes expiatórios nunca estão longe. Já vimos raiva e hostilidade dirigidasa algumaspessoasde origem do leste asiático. Secontinuarassim,o desejodeculpare excluir poderá em breve se estender a outros grupos — minorias,marginalizados ouqualquerpessoa rotu- lada como “estrangeira”. As pessoas em deslocamento, incluindo refu- giados, podem ser particularmente alvo. Noentan- to,o próprio coronavírus não discrimina; os infec- tadosaté omomento incluem turistas,empresários internacionais e até ministros nacionais, que estão localizados em dezenas de países, abrangendo todos os continentes. O pânico e a discriminaçãonunca resolveram uma crise. Os líderes políticos devem assumir a liderança, conquistando confiança através de informações transparentese oportunas, trabalhan- do juntos para o bem comum e capacitando as pessoas a participar na proteção da saúde. surgimento e a rápida propagação do novo coronavírus pegou o mundo e o Brasil de surpresa. Após um mês da chegada da primeira pessoa ser infectada no país, cresce a preocupação com a assistência às milhares de famílias que vivem em con- dições precárias nas cidades. Com o aumento exponencial e a aproxi- mação do contágio na população empobre- cida, o prenúncio é de grande tragédia, caso medidas efetivas não forem tomadas e com urgência. Quase 10% da população brasileira vive em habitações precárias. O último censo do Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE) contabilizou 6.329 favelas espalha- das em 323 municípios brasileiros. São nas favelasque vivem 13,5milhões de brasileiros na extrema pobreza e que passam omês com menos de R$ 145. Na região metropolitana de São Paulo, 2 milhões de pessoas, conforme também o IBGE, vivemem3mil favelas ouocupações. Em outras capitais, a porcentagem é até maior e chega a ultrapassar os 20%. Onecessário isolamento social para conter a pandemia e a aprovação da renda emergencial de R$ 600 por três meses não trazem segurança aos moradores das favelas. Com várias pessoas repartindo apertados cômodos e com mora- dias adensadas, o coronavírus encontra lá ambientes propícios para se alastrar. Para essa população ao medo do vírus soma-se o temor da fome. Os desafios são como escapar da doença e como conseguir a subsistência da família. As crianças têm na merenda escolar a sua principal refeição. Se a renda emergencial andar a passos de tartaruga para chegar, a ameaça de fome será real nesseslares. E se outras medidasefetivas não forem tomadas e com urgência, o pre- núncio é trágico. Nesta frente de batalha, as populações mais vulneráveis ganharam um importante aliado. Promotoresdo Ministério Público de São Paulo acabam de solicitar à Prefeitura plano de contingência emergencial para tentar frear o coronavírus nas fave- las. No pedido ao prefeito Bruno Covas (PSDB), os promotores reforçam que as habitações são precárias e não têm infraestrutura básica como rede de água e de coleta de esgoto. Agravidade da situação está tra- zendo à tona asdesigualdades sociais do país, a importância do fortalecimen- to do SUS (Sistema Único de Saúde) e a revogação da Emenda Constitucional 95 que congelou verba da saúde até 2036. Essasquestões sempre foram solenemente ignoradas pela elite e por grande parte da mídia. Essas são as tarefas que se impõem. Num futuro não muito distante, será difícil esconder a imensa desigualdade no Brasil. Apesar do ex-capitão afirmar com ar de deboche que “brasileiro pula esgoto emerece ser estudado por não acontecer nada”, para esses milhares de brasileiros a dura realidade precisa com urgência ser transformada.
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