Diário do Amapá - 09 e 10/02/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / aindo do convento, frei Francisco encontrou frei Ginepro. Este era um homemsimplese bome Franciscogos- tava muito dele. Disse-lhe: - Frei Ginepro, vamospregaro evangelho! - Meu pai – respondeu o frade – o senhor sabe que eu tenho pouca instrução. Como poderei pregar ao povo? Mas, porque Franciscoinsistia elefoi junto. Andaramportodaa cidade,pregandoemsilên- cio a todos aqueles que trabalhavam nas ofi- cinase nashortas. Sorriram às crianças, espe- cialmente aosmaispobresemaltrapilhos. Tro- caram alguma palavra com os idosos. Acari- ciaram os doentes. Ajudaram uma mulher a carregar alguns baldes de água. Depois de ter atravessadoa cidadealgumasvezes, Francisco disse a frei Ginepro: - Está na hora de voltar para o convento. - E a nossa pregação? - Perguntou o bom frade - Já a fizemos, já a fizemos. - respondeu o santo sorrindo. Depois de ter iniciado o sermão damonta- nha com a proclamação das Bem-Aventuran- ças (que teria sido o evangelho de domingo passado), o evangelista Mateus coloca duas afirmações de Jesus dirigidas aos discípulos. Ambas iniciam com um forte “Vós sois” e, logo em seguida, vêm as duas comparações: “sal da terra” e “luz domundo”. Não são pala- vras de convite ou de exortação. É questão mesmode identidade e demissão. Ouseja: ou os “cristãos” são “sal e luz”, emmeio à humanidade, ou, a esta, faltará ogosto dotemperoe obrilho iluminador.Por isso, Jesus continua explicando que seosalperde osabor nãoservemais para nada e se a luz fica escondida também não cumpre o seu papel, torna-se inútil. O mais curioso das duas comparaç&ot ilde;es é que uma, o sal, quando se mistura, desa- parece, ao passo que a outra, a luz, para iluminar deve ser bem visível. Parece uma contradição: afinal, os cris- tãos devem sumir ou chamar atenção? A resposta está no próprio evangelho. O que vale nãoé oesquecimento ou sucessodos cristãosemsi, masosfrutos, asconsequências do ser “sal” quetempera epreserva e ser“luz” que clareia ao seu redor. O que vale, para o sal, é que o alimento fique gostoso ou, lem- brando o uso do sal para a conservação dos alimentos como era costume naquele tempo, queafé, aAliança,oamoraDeuse aopróximo sejam preservados. Se o sal nem tempera – não motiva mais a vida e nem salva do apo- drecimento – a fé é abandonada. De fato, não serve para nada. Igualmente, as boas obras doscristãos,podemseratéluminosase chamar atenção, mas aqueles que as virem louvarão ao “Pai que está no céu” e não os cristãos em si.Aalegria dosdiscípulosdeJesusn&ati lde;o deve estar, portanto, naafirmação enosucesso pessoal, mas na possibilidade de colaborar na memória viva e no louvor a Deus. Atitude da qual os próprios cristãos sempre devem zelar. Aqui está a nossa fraqueza, mas também,acredito, anossa consolação. Onossodefeitoéquererserreconhe- cidos,receberaplausoseelogios,nem que seja de um pequeno grupo de seguidores sempre prontos a bater palmas. De outra forma, não consigo explicartantosgruposegrupinhosden- tro e fora da Igreja. Parece que o sal, em lugar de preservar a unidade, serve maisparasalvaguardaralguma posiçãoou poder. Temosmedodesersóe simplesmente “cristãos”. No entanto, esta qualidade é a con- solaçãodemuitosemuitasquenunca aparecem enuncachamamatenção, massãofiéiscadadia ecada horanascoisassimplesdavidaedosseus compromissos: na família, no trabalho, com os vizinhos, conhecidos ou não, e com qualquer outro que precise de ajuda. Quantas “obras” maravilhosas de amor, de serviço, de paciência e gratu idade são praticadas sem ser divulgadas poraí.Abondade,graçasaDeus,nãopedebada- lação, simplesmenteage, fazacontecer.Émuito bomque continue assim, porque se não fosse, o dia em que uma obra boa virasse manchete, poderia significar que nos acostumamos tanto comaviolência,a corrupçãoeamorte, queseria o bema parecer estranho. Não, por favor, que o bemcontinuea realizarasua “pregação” humil- de, simples e escondida e, seja o mal, infeliz- mente, achamaraatenção.Claro,paranóstodos, conhecendo-o, fugirmos dele. vangelhode Mateus5, 13-16 No Evangelho de hoje, recebe- mos uma importante instrução sobre a missão da comunidade. Qual é o comportamento que ela deve ter para ser missionária. A resposta é que ela deve ser o sal da terra e a luz do mun- do.O sal é um elemento indispensável na vida do ser humano. Ele não somente dá sabor aos alimentos, mas também aju- da o equilíbrio dos minerais que o nosso corpo precisa e que ajudam a saúde.Jesus se serve deste exemplo para indicar a sabedoria que caracteriza a verdadeira vida cristã. O sal e a luz não existem por si, mas para dar sabor e iluminar o cami- nho.Por isso, falou Jesus: “Ninguém acende uma lâmpada para colocá-la debaixo de uma vasilha, e sim para colo- cá-la no candeeiro, onde ela brilha para todosos que estão em casa.” A comunidade não existe para si, mas para servir o povo.Mateus escrevia o seu evangelho para as comunidades conver- tidas dos judeus. Elas se sentiam margi- nalizadas pelas sinagogas, pois estas cor- tavam o passado delas, que foi judeu. Tudo isto gerava tensões, conflitos e dúvidas.A abertura de alguns parecia criticar a observância de outros. Neste sentido, levou-os a se fecharem em si mesmos.Era natural, portanto, que se perguntassem, no final, qual é a nossa missão? E Mateus procura ajudá-los com as palavras de Jesus,que demons- tram qual é a missão e a razão de ser de cada comunidade cristã: ser salvo. Esta sabedoria é, sobretudo,dom do Espírito Santo que precisa protegê-la de tudo o que possa prejudicá-la.E esta sabedoria é saber dar espiritualmente sabor a tudo que fizermos em nome de Jesus, o Cristo. Revela-me também os meus irmãos para compreender, perdoar, ajudar e servir. Quem não consegue entrar nesta lógica é como o sal que não serve mais pra nada e é pisado pelos homens. Também a luz do mundo repre- senta a comunidade que deve iluminar através das suas boas obras. Tudo isto não se faz para poder aparecer, mas para manifestar a presença de Deus. A luz, como o sal, não existe para si. Assim deve ser a comunidade. É bom observarmos aqui que Deus é apresentado como Pai. Por que isso? Na cultura da época, Pai é aquele que gera e no mesmo tempo comunica a vida. Portanto, é Ele a nossa garantia de vida. Assim sendo, o convite de Jesus o Cristo é de ter- mos atitudes, exemplos que ajudem a sociedade, como um todo, a ser ilu- minada pelo Evangelho, porque ela tem sede da verdade de Deus. Por conseguinte, não podemosnos fechar em nós mesmos, mas sim testemu- nhar a presença de um Deus como nosso Pai.Desse jeito se torna uma presença amorosa e confortadora que nos fortalece e sustenta na nossa caminhada. No final, pergunto-lhe: como se torna sal e luz para o mundo que está ao seu redor? Como tes- temunha o seu real interesse por Jesus?Como contribui para que a sua comunidade seja luz para a sociedade? E na sua família?
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