Diário do Amapá - 09 e 10/02/2020
/ / Agora vai aparecer ummonte de gente chorando sobre o lei- te derramado. Os rios Araguari e o Piratuba perderam suas for- ças; suas rotas migratórias de peixes, sua água doce e pro- priedades fantásticas como a pororoca. Nada mais a música pode avisar, nada mais tenho pra cantar sobre esses santuários profanados. Todo esse prejuízo passou sob os narizes empinados de nos- sos pobres políticos que podiam exigir do governo federal pelo menos mais cuidados técnicos, mais eficiência no trato com o meio ambiente e mais benefícios para a população do Amapá. O estado do Pará caiu nas mesmas historinhas de impacto ambiental, e agora suas populações tradicionais sofrem. Aqui, os técnicos deram um parecer a favor desses projetos que serão energia para o país, ao qual parece que não pertencemos. Sem- pre cantei isso também. Os fazendeiros não querem pagar pela cerca que pode salvar o Piratuba, para o gado já descontrolado não arrasar com tudo. Sejamos francos: o governo federal e essas empresas poderiam resolver essa sacanagem que fizeram com a gente, como forma de aliviar nossas dores. E que seja a última. Tenho falado aos povos indígenas que vamos precisar pegar em armas se quiserem um dia exterminar nossos rios e reservas. O Araguari é o Cristo, e que nãovenha acontecer com outros rios,como oCalçoene, por exemplo. Precisamos crescer, sim, mas com inteligência. Pra mim, o Amapá sempre foi roubado, injustiçado e proje- tado para o Brasil com os mais ridículos resultados de pesquisas e imagens, como se o país não tivesse seus podres. Existe uma conspiração voluntária ou involuntária que quer manter o povo dependente de currais políticos. O que vamos fazer com nossos filhos depois que saírem das faculdades? Empregá-los no esta- do ou município? Como podemos ter tanta esperança, através de nossas canções que acreditam em um estado a partir do turismo ecológico e da cultura para viver bem, para ser mais bonito? O maior dos emblemas de nossa incompetência politica é o que acontece com o rio Amazonas, que é agredido por nossos dejetos o tempo todo. Salvem o grande rio! Essa é nossa maior responsabilidade com água e com nós mesmos, pois a natureza é o espírito de Deus. Peço ao povo que nasceu aqui, e ao povo que abraçou o Ama- pá como terra sua e de seus filhos: pelo amor de Deus, não dei- xem que nos vendam, que nos destruam, pois nada mais tenho para cantar. Bom domingo.
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