Diário do Amapá - 13/02/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / pacata capital Uruguai vive dias de tensão depois de que o governo anun- ciou que o número de homicídios no país cresceu 66% na primeira metade de 2018 com relação ao mesmo período do ano pas- sado. Também subiram os registros de furtos a domicílios e assaltos à mão armada. Segun- do as autoridades locais, 40% desses delitos estão relacionados a conflitos entre gangues do crime organizado. Para o ministro do Inte- rior, Eduardo Bonomi, “o aumento da violên- cia é resultado do aumento dos enfrentamentos de gangues, muitas ligadas ao tráfico de dro- gas”. A informação consta de recente matéria do jornal Folha de S.Paulo. O Uruguai, que já permitia o consumo da maconha, legalizou a produção e a venda da droga em julho de 2017. Naquela ocasião, em entrevista à revista Veja, o presidente Tabaré Vázquez, que ocupa o cargo pela segunda vez, falou a respeito da política de drogas de seu país. Indagado se acredita que a regulação da maconha vai reduzir o narcotráfico e a crimi- nalidade, Vázquez deixou claro que estão caminhando em terreno desconhecido e incer- to. “É muito cedo para tirar conclusões desse tipo. Teremos de esperar um tempo maior. Só então veremos o que aconteceu”. É uma aven- tura. Pode custar muitas vidas. Os resultados da aventura estão aí: aumento assustador do número de homicídios. Na verdade, os defensores da regulação, lá e aqui, armados de uma ingenuidade cor- tante, acreditam que a descriminalização redu- zirá a ação dos traficantes. Mas ocultam uma premissa essencial no terrível silogismo da dependência química: a compulsividade. O usuário, por óbvio, não ficará no limite legal. Sempre vai querer mais. É assim que a coisa acontece na vida real. O tráfico, infelizmente, não vai desaparecer. A psiquiatra mexicana Nora Vol- kow é uma referência na pesquisa da dependência química no mundo. Foi quem primeiro usou a tomografia para comprovar as consequências do uso de drogas no cérebro. Desde 2003 na direção do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, Volkow é uma voz res- peitada. No momento em que recrudesce a campanha para a descriminalização das dro- gas, suas palavras são uma forte estocada nos argumentos politicamente corretos. A cientista foi entrevistada também pela revista Veja, faz alguns anos. O semanário trouxe à baila um crime que chocou a socie- dade. O cartunista Glauco Villas Boas e seu filho foram mortos por um jovem com sinto- mas de esquizofrenia e que usava constante- mente maconha e dimetiltriptamina (DMT), na forma de um chá conhecido como Santo Daime. “Que efeito essas drogas têm sobre um cérebro esquizofrênico?” A resposta foi clara e direta: “Portadores de esquizofrenia têm propensão à paranoia e tanto a maconha quan- to a DMT (presente no chá do Santo Daime) agravam esse sintoma, além de aumen- tarem a profundidade e a frequência das alucinações. Drogas que produ- zem psicoses por si próprias, como metanfetamina, maconha e LSD, podem piorar a doença mental de uma forma abrupta e veloz”. De lá para cá nada mudou. Quer dizer, a descriminalização das drogas facilitaria o consumo das substâncias. Aplainado o caminho de acesso às drogas, os portadores de esquizofrenia teriam, em princípio, maior probabilidade de surtar e, consequente- mente, de praticar crimes e ações antissociais. Ao que tudo indica, foi o que aconteceu com o jovem assassino do cartunista. Essa suposi- ção, muito razoável, é um tiro de morte no dis- curso da ingenuidade. Além disso, a maconha, droga glamourizada pelos defensores da descriminalização, é fre- quentemente a porta de entrada para outras dro- gas. “Há quem veja a maconha como uma dro- ga inofensiva”, diz Nora Volkow. “Trata-se de um erro. Comprovadamente, a maconha tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear receptores neurais muito importantes”. Pode, efetivamente, causar ansiedade, perda de memória, depressão e surtos psicóticos. Não dá para entender, portanto, o recorrente empe- nho de descriminalização. As drogas estão matando a juventude. A dependência química não admite discursos ingênuos, mas ações firmes e investimentos na prevenção e recuperação de dependentes. forte onda de automação proporcio- nada pelo uso de novas tecnologias dentro de empresas dos mais variados segmentos já tem reflexos importantes no planejamento das empresas para os próximos anos. E já é uma realidade em áreas cujas tarefas são repetitivas, como o relacionamen- to com o cliente, desde o momento da con- quista desses consumidores até sua retenção e fidelização. Estamos em um novo cenário que traz for- tes questionamentos sobre os limites da auto- mação desses processos. Afinal, até onde as empresas vão conseguir automatizar? Até onde vale a pena apostar nas inovações para reduzir custos e agilizar alguns procedimentos? A resposta exata para esses questionamen- tos é impossível de ser dada, mas alguns fato- res nos ajudam a criar hipóteses sobre o tema. A busca constante das pessoas por socializa- ção, por exemplo, é um fator comportamental que nos permite entender que, por mais bene- fícios que a automação de processos traga para o nosso dia a dia, uma empresa simples- mente nunca poderá ser totalmente automa- tizada. As redes sociais são um fenômeno global que exemplifica bem a necessidade humana de conectividade com outras pessoas. Além disso, ao mesmo tempo em que a automação agiliza processos, reduz custos, permitindo que as empresas apostem no fator humano, que será sempre um diferencial para a atração de clientes para a maio- ria das marcas. As empresas investem cada vez mais em experiências humanas e personalizadas para seus consumidores. Uma tendência que mostra que elas estão atentas e investindo constantemente no com- ponente humano, independente- mente das inúmeras possibilidades de automatização de seus processos internos e externos. Voltando aos limites das inovações tecnológicas, podemos afirmar que as empresas não conseguirão automatizar os trabalhos mais versáteis, que demandam cria- tividade, inovação e riscos desconhecidos. Some-se a isso o fato de o ser humano ter uma capacidade enorme de ser flexível, tanto men- tal quanto fisicamente. Isso o torna muito útil para as companhias. As novas tecnologias vão, sim, modificar ainda mais as formas de relacionamento entre as pessoas e, consequentemente, das empresas com seus consumidores, parceiros, fornece- dores e com o mercado em geral. Mas, neste mesmo contexto, precisamos lembrar que o aumento da produtividade gera- do com automação torna produtos e serviços mais baratos, enriquecendo as pessoas. E, assim, novas demandas por relacionamentos surgem junto com novas ofertas. Desde a Revolução Industrial até hoje, vimos vários trabalhos manuais em fábricas e fazendas serem substi- tuídos por máquinas. A diferença é que agora as máquinas vêm substi- tuir alguns processos mentais. Todas as fábricas estão sem gente? Não, e a situação vai ser parecida nos escritórios. A reflexão é um tanto óbvia, mas ainda válida: uma máquina que fabri- ca fraldas é mais eficiente que qual- quer humano para fabricar fraldas de uma determinada qualidade, mas não ser- ve sorvete ou olha para os clientes e reflete sobre o que mais eles poderiam consumir. A máquina não cria modelos de negócios, não fabrica outras máquinas, não pensa em como melhorar seu próprio processo. A inteligência artificial que temos hoje ainda está muito dis- tante de ter a mesma cognição que um huma- no. Essas são apenas algumas das razões para acreditarmos que há, sim, um limite para a auto- mação dentro das empresas. Não há motivos para se assustar e achar que tudo será automa- tizado. A automação não vem para todos os processos, absolutamente. O ser humano demanda – e sempre vai demandar – o contato humano. Estamos falando de uma demanda que, por muito tempo ainda, só poderá ser aten- dida por pessoas, não por máquinas.
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