Diário do Amapá - 14/02/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / envelhecimentodapopulaçãoéumfenômeno mundial. Tem exigido de todos os governos implementaçãode políticaspúblicas, visando assegurar aqualidadede vidadessafaixaetária. Neste contexto, o Brasil começa a ver a sua população envelhecer. Tudo a ver com redução de filhos pelas mulheres e crescimento da expectativa de vida. SegundooIBGE, em1960a taxade fecundidade no Brasil era de 6,3 filhos por mulher. Em 2010, regis- trou 1,87. Como vemos, em cinco décadas a natali- dade veio sofrendoquedagradativa.Para2030,esti- ma o IBGE, será de 1,51 a taxa de fecundidade. Para o demógrafo e professor José Eustáquio, “(...) issodecorreemfunçãodatransiçãodemográfica. O Brasil passa por uma mudança na estrutura etária queserefletenuma diminuiçãorelativanaproporção de crianças e jovens, e num aumento da proporção de adultoseidososnoconjuntodapopulação.Segun- doaDivisãodePopulaçãoda ONU, apopulaçãobra- sileira de 60 anos e mais era de 14,2 milhões de pes- soasem2000,oquerepresentava 8,1%dototal, sendo que, em 2050, a população idosa deve chegar a 66,9 milhões, representando 29% do total populacional do país. Aponta ainda o órgão da ONU que a popu- laçãobrasileiravaicrescer1,3,ouseja,30%. Todavia, apopulaçãode60anosemaisdevecrescer 4,7vezes. Então, o envelhecimento é inevitável. As consequências do envelhecimento serão o grande desafio dos gestores públicos. As políticas públicasserão impactadas, especialmenteem relação à seguridade social, saúde e educação. Especialistas já preveem aumento do gasto público. Do ponto de vista da saúde, o governo federal toma medidas e estabelecendo políticas que ajudam a melhorar a qualidade de vida da pessoa idosa. O Pacto pela Vida, de 2006, propôs explicitamente a questão do ciclodoenvelhecimento comoum tema fun- damental na área de saúde, e o Estatuto do Idoso, de 2003, assegura, por exemplo, o tratamento de saúde e a assistência de um saláriomínimoparatodo idosoqueesteja na linha de pobreza. Estudo divulgado emoutubrode2017peloCentrode Estu- dos Estratégicos da Fiocruz de Minas Gerais apontou que 30,1% dos idosos brasileiros têm alguma dificuldade para realizar atividades da vida diária, como tomar banho, fazer compras e utilizar o transporte público. Nesta mesma ocasião, oMinistérioda Saúde divulgoumedidas para reduzir o risco de perda da capacidade funcio- nal, alémdeaumentar asobrevidae odesempenho cognitivo da população da terceira idade, que já representa 14,3% dos brasileiros. Parafazerfrente aoaumentodapopulação idosa, o Brasilnecessita destinar recursos suficientes para garantir que as políticas públicas de saúde do idoso sejam efetivadas, especialmente pelos estados e municípios. Nos pequenos municípios, principal- mente, a implementação dessas ações tende a ser mais difícil. O Sistema de Indicadores de Saúde e Acompanhamento de Políticas do Idoso(Sisap/Ido- so,da Fiocruz, propõe um guia para oplanejamento e tomada de decisões com relação às dimensões estruturaispara a saúde do idoso, que sãoas seguin- tes: Demografia: em primeiro lugar é necessário conhecer o tamanho da população idosa a ser con- templadapelos serviçosque precisam ser oferecidos e em que magnitude. Ambientais, socioeconômica e familiar: dimensionar qual a situação de vida da população idosa no que se refere à renda, escolari- dade, condiçõesde residência, suporte familiar, etc.. Comportamentais: conhecer os principais hábitos de vida da população idosa, princi- palmente aqueles quesãoconsensualmente reconhecidos como fatores de risco para doençaseestratégicosparaa gestão. Mor- talidade:Doque morre a população ido- sa? Essa talvezsejaa perguntamaisclás- sica quando pensamos em estudar a situaçãode saúde da população.De fato, conhecer as causas de mortalidade de uma população nos informa muito sobre as condições de vida e saúde dela. Morbi- dade: deve ser analisada tanto no que se refere às doenças prevalentes na população quanto na morbidade hospitalar; aquelas que mais são motivos de hospitalização. Serviços de saúde: esta fase é uma das mais importantes, pois visa conhecer os equipamentos, recursos humanos e estrutura instalada disponível para atendimento da população idosa.Esse é opontomestrepara organizar a rede de serviços para atender esta população. A partir dessa análise será possível planejar quais ser- viços precisam ser ampliados e quais precisam ser reorganizadosno territóriopara atender às demandas de saúde de forma organizada e efetiva. As políticaspúblicas para a saúde da pessoa idosa devem ser planejadas e executadas de forma seg- mentada. Neste campo são inegáveis os avanços da saúde no Brasil, principalmente com o advento do SUS. Um exemplo é o Estatuto do Idoso, que esta- beleceuobrigações legais para cumprimento e ações de atenção à saúde do idoso. O desafio para os ges- tores públicos ainda é colocá-lo em prática. Existe uma distância a ser percorrida entreaspolíticaspúbli- cas e os direitos e deveres legais. É um verdadeiro hiato, ou seja, a teoria ainda está longe da prática. termo “niilista” se presta a muitos usos. De modinha para jovens que posam de niilistas pra dizer que são fodões e não padecem dos males dos fracos que creem em deuses, uma espécie deMeursaultnutella(opersonagemniilistadeCamus no livro O Estrangeiro), até um uso filosoficamente mais consistente, e que merece nossa atenção e cui- dado. Nosegundosentido, oniilismopodeser uma con- dição para a qual você “escorrega” mesmo sem ter plena consciência disso. Uso a expressão “condição niilista” para descrever este segundo sentido. Oniilismoé um termoque nosremeteà ausência de fundamento da vida. “Nihil”, em latim, é nada. Essa ausência de fundamento da vida implica em ausênciadefundamentoparatodaumagamadevalo- res quevãodobeme domala temascomoaverdade e a mentira. Ao afirmar o nada como nossa origem e nosso fim, estaríamos de alguma forma afirmando nosso “parentesco”comessenada,comoalgoquenoscorrói desde a nossa raiz. Namaioriadocasos,oniilismovemacompanhado doateísmo(nãoqueserateuimpliquenecessariamente ser niilista, ateus podem ser kantianos e sustentar a ética em decisões racionais públicas e privadas) e do relativismo (não existe verdade absoluta). Mas, mesmoentre os crentes, onada permanece no horizonte. Filósofos como o russo Nikolai Ber- diaev (1874-1948), dostoievskiano, defendia que este mesmo nada – do qual saímos pelas mãos de Deus – nos acompanha e nos ameaça. Nesse sentido, Berdiaev afirmava que apenas uma vida criativa (um tanto nietzs- chiana), sem medo da espontaneidade, poderia nosdistanciar desse nadaque nos constitui. Nada estequenosespreitanãoapenas comosolhosdamorte, mas tambémcom asgarrasdo tédio, dabanalidade,dovazio de sentido, enfim, da “queda no nada” comoafetodo tornar-se inexistente, doafo- gar-se lentamente na irrelevância e na invi- sibilidade da vida moderna emancipada. As redes sociais, nesse sentido, são o paraíso dos irrelevantes histéricos(eleassim diria seas tivesse conhecido). Oniilismoé,assim,umacondição,nãoumaesco- lha. É um dado da “história” do homem, mais con- creto do que uma “linha de pensamento” que esco- lhemos. Primeiro,porqueele estásemprepresentequando uma pessoa é incapaz de experimentar a esperança no cotidiano. Você pode experimentar o niilismo mesmo que nunca tenha ouvido falar dele. Niilismo é o conceito filosófico irmão da melancolia. Sentir- se caindo na inexistência e na irrelevância é afogar- se no niilismo como realidade psíquica. O niilismoexige cuidados, principalmente quan- do com ele se flerta em aulas de humanas, levando osalunos à conclusãode que caminhamos sobre um vazio de sentido e de fundamento moral. Asreligiõese apolítica,muitasvezes, vêm em socorro dessa ameaça, que hoje, com a transformação de tudo em produto, torna- se a cada dia mais presente no horizonte dos mais jovens. Você pode, faceiramente, estar pre- gando o relativismo típico de antropólo- gos e sofistas sem se dar conta que seu ouvinte,casoelesejaumapessoahonesta, corajosaesincera(oquevocêmuitasvezes não é porque está ali apenas pregando seu credorelativista“libertadordepreconceitos”), facilmente chegará à condição niilista como consequência lógica e existencial do que ouve. As pessoas têmmedo do niilismo porque o asso- ciamàfalta de moral. Niilistasnãosãoconfiáveispor- que “comem criancinhas”. Do ponto de vista filosófico você teve, ao longo dahistória,trêsgrandesatitudesniilistasdianteda vida. Uma é a melancólica que tende à passividade. Uma outra é a “alegre” do tipo nietzschiana, afirmando a vida porque, justamente, ela é “nada”. Uma outra é a russa, de teor político, que desaguou na revolução comunista. Nikos Kazantzákis (1883-1957), escritor grego, dizia: “Nãoespero nada, nãodesejo nada, sou livre”. Esta é a forma mais bela, entendo eu, de afirmar o niilismocomo modo de vida. Mas a condição niilista exige cuidados, e não estamos prestando muita aten- ção em como esta condição tem tomado corpo entre os mais jovens.

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