Diário do Amapá - 15/02/2020

Quando a gente se depara com uma menina de três ou quatro anos brincando com uma boneca, daquelas que lem- bram um bebê, não titubeia em pensar na existência de um instinto materno. Mas será mesmo que toda mulher já nasce preparada para se dedicar a um filho? UOL Comportamentofez essa pergunta a trêsespecialistas de diferentes áreas: uma antropóloga, uma psicóloga e um fisiologista. A argumentação de cada um deles é diversa, mas acaba chegando sempre à mesma conclusão: o instinto materno não existe. A antropólogaMirianGoldenberg diz que falar de instinto aprisiona as mulheres ao papel de mãe. "Elas também podem ser outras coisas", diz ela, que é professora da UFRJ (Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro). Essa ideia, construída culturalmente, vem sendo demolida pelas transformações ocorridas no país nos últimos anos. "Cresceu o número de mulheres que não têm filho ou adiam a gravidez. Isso mos- tra que o instinto materno não existe", afirma a antropóloga. Pressão interna e externa De acordo com Mirian, as brasileiras começam a derrubar omitodeque só serãofelizesse constituíremuma família. Mas há muita estrada pela frente. "Esses valores ainda estão muito introjetadosnelas. Asmulheres sofrem pressão internae exter- na para terem filhos. Ainda não é uma escolha legítima". As mulheres questionam umas às outras: você não vai passar por uma experiência tão determinante? Até o mercado estimula a crença no instinto materno para aquecer as ven- das em efemérides como o Dia das Mães. As que não desem- penham esse papel se sentem deslocadas diante da enxur- rada de propagandas para a segunda data mais importante do ano para o comércio. / / / / / /

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