Diário do Amapá - 19/02/2020

/ / / / fechar os olhos. Só que a coceira passava para o pé, para a perna e ia caminhando. Era uma loucura. Como não tínhamos dinheiro para comprar fol- dam ou thiabena, medicamentos caros que eram pres- critos para a Larva migrans, descobrimos na Far- mácia Escola, onde estagiávamos, com o mestre pro- fessor Sandoval, um “burilante” derivado do alcatrão da hulha, de odor horrível e de cor escura, chamado óleo de cade Nós mesmos preparávamos, espatu- lando o material com vaselina, até formar uma poma- da homogênea. Depois dessa descoberta científica e barata, não tinha Larvas migrans que resistisse e pas- samos ser fornecedores oficiais para os outros hós- pedes da Casa, parasitados pela Larva migrans. Só assim eu e o Alacid podemos dormir em paz. Parece que o parasita só ataca a noite para tirar o sossego. Só depois que vim saber porque a única rede do nosso quarto era bastante disputada, embo- ra cada um tivesse cama de solteiro. Na verdade, não era bem a rede, mas sim o punho da rede. Era ali que se encontrava o alívio para a coceira desesperada que a Larva migrans provocava. O nome do parasi- ta é larva que migra, realmente ela fazia um cami- nho mesmo sob a pele e ía provocando aquele comi- chão desesperador. O remédio milagroso realmente curava. Mas, logo éramos reinfestados novamente porque voltá- vamos a jogar o nosso futebol na Vila sapo. E assim continuava novamente a nossa luta para debelar o parasita. Talvez o meu colega Alacid, não se lembre mais desses fatos e pense que estou criando fatos imagi- nários, mas o seu irmão Jair Guimarães, o famoso “Jaca”, não me deixa mentir. Por um amigo comum, soube ontem que o Ala- cid, o Raimundinho, era craque do Comercial, o time oficial da família Guimarães em Mocajuba. Se isso é verdade o Alacid quando chegou em Belém, não deixava de bater suas peladas nas tardes de sábado. ranscorria o ano de 1968, morava na Casa Uni- versitária do Pará. Um casarão do início do século XX parecia um navio. Lá morava cer- ca de 70 jovens. Nos fundos havia um “puxadinho” de quartos. Outrora, lá ficava um igapó que fora ater- rado, aonde nas noites de inverno coaxavam as rãs, por isso foi apelidado de Vila sapo. O aterro fora feito de terra da praia, ambiente con- vidativo para uma prática da pelada de futebol nas tar- des de sábado e lugar ideal para os gatos da redonde- za enterrar suas fezes. Combinação perfeita. O ciclo estava fechado. Nas fezes dos felinos habitam um para- sita chamado Larva migrans. Os gatos nas noites escu- ras e silenciosas depositavam suas Larvas migrans, escondidas nas fezes, nas areias branquinhas da Vila Sapo. Nas tardes de sábado eu e o Alacid, descíamos e íamos jogar a nossa pelada. Passado dois dias, uma coceirinha gostosa come- çava entre os dedos. O Alacid que gostava de uma rede ficava esfregando os dedos nos punhos da mesma até Matriarca de tradicional família política local, a ex deputada Francisca Favacho reuniu várias lideranças locais em sua festa de aniversário e ratificou determi- nação com a vida pública. Completou 6.5 e foi logo avisando: “Ainda não parei!”. Foto: Maksuel Martins

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