Diário do Amapá - 23 e 24/02/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / erta vez, uns bandidos chegaram à cabana onde morava um eremita. Dis- seram para ele: - Viemos para levar tudo da tua casa. Ele respondeu: - Meus filhos, podem levar tudo aquilo que estão vendo. Eles pegaram tudo aquilo que encontra- ram e foram embora. Porém esqueceram uma pequena bolsa que não era visível. Então o monge pegou a bolsa e correu atrás deles chamando-os: - Meus filhos, tomem esta também! Vocês a esqueceram! Eles ficaram tão surpreendidos pela força de suportação do sábio que se arrependeram e lhe devolveram tudo. Disseram entre eles: - Ele é de verdade um homem de Deus!” No evangelho deste domingo, Jesus segue com a sua proposta de uma “maior justiça”. “Olho por olho, dente por dente” continua sendo aquela que nós chamamos de justiça “retributiva”, ou seja: tanto tirei, tanto devo repor. Nada mais, mas tambémnada menos. Essa justiça, já era melhor do que uma pos- sível vingança exagerada ou de uma conde- nação a uma pena desproporcional com o crime cometido. Portanto, pode parecer uma justiça, digamos, justa. No entanto as coisas são mais complexas. Os anos de prisão, não devolvem à família o ente querido que, por exemplo, foi tirado ou os bens que foram roubados. Muitas vezes esse tipo de justiça se assemelha mais com a satisfação de uma vingança do que com uma real transforma- ção dos relacionamentos humanos. Devemos reconhecer que essa justiça é fria e incapaz de mudar as pessoas. Oprocesso se torna umamontoado de papeis e, às vezes, se arrasta por anos nos tribunais. Sobram mágoas, raiva e revolta, talvez também, claro, arrependimento. Por isso, de alguns anos para cá, ousamos falar de justiça “restaura- tiva”, algo diferente que ten ha como objetivo a recuperação das pessoas envolvidas seja do lado dos criminosos, seja do lado das vítimas e dos seus fami- liares. Precisa muita paciência, humildade e desejo de recomeçar. Quando a aproximação entre os dois lados funciona, todos se tornam mais humanos. Quem errou percebe o estra- go que fez, mas também as vítimas se liber- tam dos sentimentos do ódio e da vingança. Jesus, no evangelho, en sina-nos a surpreen- der quem nos tirou a túnica, oferecendo-lhe também o manto. Tudo isso para aprender a dar muito mais valor aos relacionamentos entre às pessoas do que aos objetos, que tal- vez nos tenham sido tirados. No fundo, existe sempre uma grande “dívida” social com os mais pobres e excluídos. Somente a gene- rosidade e a partilha podem resgatar vidas e apaziguar os ânimos de todos. Em seguida, Jesus nos pede para amar os nossos inimigos e rezar por aqueles que nos perseguem. Parece algo impossível e, com certeza, não é nada fácil. No entanto, mais uma vez, para que as coisas mudem de verdade, precisamos agir de uma for- ma nova, fazer algo a mais, que desarme quem disputa conosc o. J&aac ute; deveríamos ter procu- rado a reconciliação com o irmão, que tem algo contra nós, antes de apresentar a nossa oferta ao altar (Mt 5,23-26), mas se o nosso irmão não quer a paz, e age como inimigo nosso, o que podemos fazer? Dessa vez, entra em jogo o nosso orgulho e a nossa convicção absoluta de estarmos do lado certo. Foi o outro que nos ofendeu, é ele que deve pedir desculpa, é ele que deve dar o primeiro passo. E se ele não fizer nada, porque pensa igual a nós? Continuaremos ini- migos para sempre, vivendo o resto da nossa vida de costas viradas um para o outro? A nossa consciência não sente, nem um pouco, o desejo da reconciliação? Construímos muros, para nos escondermos, mas também para não vermos, não nos aproximarmos e nemdeixarmos que o outro se aproxime. Que- remos deixar claro que por lá passarão somen- te os q ue consi deramos e selecionamos como “amigos”. Os demais, podem não ser inimi- gos, mas nãomerecem confiança, que fiquem fora. Segurança é uma coisa, mas discrimi- nação e exclusão é outra. Estamos muito longe de ser “perfeitos” como o nosso Pai celeste é perfeito. Mas não vamos desistir. Talvez baste umpequeno passo, uma pequena bolsa esque- cida e oferecida, para transformar o coração nosso e dos outros. s pessoas tem familiaridade em aces- sar a rede on-line. Tornou-se quase um ponto de referência para conhecer e estabelecer diálogos, criando, assim, uma praça digital. Porém, a gente se pergunta: “o que tudo isso comporta na nossa vida real?” Parece, segundo algumas pesquisas realizadas pelos americanos, que comparti- lhar informações on-line influencia as opi- niões e pode prejudicar as capacidades de prever as coisas ou fatos pelos grupos socias. O que ajuda nisso tudo é um princípio chamado de sabedoria da massa, que, segun- do o autor James Surowiecki, é uma inteli- gência coletiva que sabe analisar problemas e tomar decisões em uma comunidade de seres inteligentes. De fato, vemos as multi- dões de pessoas que geram diariamente uma grande quantidade de conhecimentos pela rede e nos parece que tudo isso seja verda- deiro. Cientificamente, a inteligência da massa popular se expressa de maneira bem evidente quando tem certo consenso comum naquilo que se tinha previsto. Para melhor entender isso, imaginemos uma competição em que as pessoas devem advinhar o peso de pacotes com dez abaca- xis. Ganha a prova o competidor que se apro- ximar do peso real das frutas. Podemos ter a certeza de que todas as decla- rações de peso podem chegar bem perto do peso real. Este é o princí- pio da sabedoria da massa popular aplicada à dinâmica de previsão. Agora, imaginamos de potenciar digitalmente esta possibilidade, juntando elementos de previsão pela rede. O que vai acontecer? Parece que a nossa sabedoria começa a hesitar, vacilar. Éa conclusão da pes- quisa que nos conta Matteo Motterlini, no jornal itáliano Sole 24. Praticamente, a nossa compartilha rela- cional continuada de conteúdos, via digital, acabaria com o efeito da sabedoria damassa popular. O conhecimento, justamente via on-line, das opiniões dos outros, dos nossos amigos, nos leva à ilusão de pensar que nós temos um consenso comum naquilo que queremos prever. A convergência das aná- lises individuais leverá, na verdade, a um afastamento do fenômeno de prever. Vendo via on-line aquilo que os outros pensam, e nisto não são poucos, alimenta uma depen- dência, condicionamento social, que nos pode levar a se deixar levar pela massa da praça digital a uma conformação de opinião. No entanto, explica James Suro- wiecki, para ter um bom funciona- mento da teoria da sabedoria da massa popular é preciso respeitar alguns princípios entre a diversi- dade de opinião e a independência das pessoas. Com isto, significa que as pessoas não devem se influenciar entre elas e que cada pes- soa precisa dizer a própria opinião, embora totalmente diferente. Ora, parece evidente que aquilo que se produz nos sites, paginas digitais, têm uns condicionamentos que proveem das relações sociais de amizade, de status, de grupos, ideologias etc. Eis aqui o perigo de transformar a sabedoria da massa popular em “estupidez do rebanho”. De fato, o limite entre essas duasrealidades, sabedoria e estupidez, é bem pequeno e pode se discer- nir na falta de autonomia de julgar de quem faz uso da network. Essa autonomia de opinião, justamente, vem menos devido ao fato de ter, constate- mente, necessidade de saber o que as pessoas pensam, dizem e, assim, se deixam levar para isso.

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