Diário do Amapá - 29/02/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / ndecisão.Política.Brasil.Campanhas.Liber- dade.Prisão.Sócom essascincopalavras,eu tenhocerteza de que jáfoi montadoum cená- rioem sua mente, repleto de imagense significa- dos. São os “signos linguísticos”. Elementos da linguagemquecarregam conceitos,osquaisforam atribuídosaossignosapartirdasnossasvivências, aprendizagens e relações.. Isso é apenasparademonstrar que a formaçãodo nosso pensamento está diretamente conectada à linguagem.Sócom aquelascincoprimeiraspala- vras, você já pode até estar com uma opinião – positiva ou não – formada sobre mim. EstandooBrasilàsportasdoiníciodascampanhas eleitorais – o período de campanha vai de 16 de agosto a 6 de outubro –, vale nos questionarmos se, de fato, estamos tendo liberdade para pensar ou se nosso pensamento está sendo cerceado por clichês limitantes. Em um país cujo oligopólio das comunica- ções,compostopor apenascincogrupos,controla 50% dos veículos de maior audiência nacional, comoafirma a pesquisaMonitoramento da Pro- priedadedaMídia (2017),financiada pelogover- no da Alemanha e realizada pelas organizações Intervozes e Repórteres Sem Fronteiras, é fun- damental ativar o pensamento crítico e, assim, avaliar o conteúdo que tem chegado até nós e quesignosestãosendoformadosemnossasmen- tes.Sãoessessignosque contribuem paraa nossa tomada de escolhas e atitudes. Alguémquefoi expostoàideiadeque “lugar de mulher não é na política” tem em sua mente o signo “mulher” asso- ciadoaosignificadodequeuma pessoa dessegêneronãopode ocupar um car- go político ounão tem condiçõespara bem desempenhá-lo, por exemplo. Logo, age de maneira contrária à can- didatura de mulheres ou, por vezes, expressa pensamentos misóginos. Opensamentoseformaapartirde tudo aquiloaquesomosexpostos.Porisso,refle- tirsobrealiberdadedepensamento incluitam- bém investigar o que antecede o pensar e o que está em torno desse ato – inclusive, revendo o nosso posicionamento como cidadãs e cidadãos para garantir a liberdade de pensamento. A liberdade de pensamento é um direito fun- damental previsto no artigo 5.º da Constituição Brasileira,assimcomonoartigo18daDeclaração UniversaldeDireitosHumanos.Sobreessedireito, afirma-sequetodasaspessoas têm apossibilidade de ter suas próprias ideias e mudá-las a qualquer tempo–oqueéumprocesso íntimoquenãopode serrestringidoporoutraspessoas,nempela mídia e nem pelo Estado. De acordo com a pesquisa acima citada, “o pluralismo da mídia é uma questão chave em sociedades democráticas”. Uma mídia plural é aquelaqueapresentaà esfera públicadiver- sospontosdevista epor diferentesfontes. Ouseja: aoligarquiadacomunicaçãoque vivemos hoje compromete a efetiva liberdadedepensamentoeademocracia do país. Dificilmente os veículos serão imparciais, porque,por trás dasempre- sas de comunicação, estão pessoas como eue você,com interesses e ideias também. Justamente pela maculação da imparcialidade, éimprescindível que nós, noexercício de nossa cidadania, busquemos diversificar as fontes de informação e ques- tionar asbasesdoque tem se formadoem nossas mentes, para, de fato, vivermos uma liberdade de pensamento. A notícia de esperança é que os signos, por maisenraizadosnadiscriminaçãoque elesestejam, podem ser ressignificados. Eu tenho um amigo comquem dividoum apreçopor esta palavra: res- significação. Em 2018, ainda há quem pense que lugar de mulhernão é na Assembleia Legislativa, na Câmara, no Senado ou no Palácio do Planalto. Mas agora, diante do crescimento das discussões de gênero,do mitocaídode que mulheressãofra- cas e sem inteligência, ainda se continuará pen- sando da mesma forma e agindo-se com ódio? A potência da liberdade de pensamento está em se permitir ressignificar. Vamos nessa? pedagogia é a ciência do ensino que estuda diversos temas relacionados à área educacional, tanto no aspecto teórico, quanto no aspecto prático. Seu obje- tivo principal é a melhoria no processo de ensino e aprendizagem, por meio da reflexão, sistematização e produção de conhecimentos. Como ciência social, estuda as normas edu- cacionais vigentes no país e a estrutura que a compõe. Dentro dessa estrutura, a educação infantil vem ganhando cada vez mais campo de pes- quisa. Por se tratar da base inicial do desen- volvimento cognitivo – e também por ser o momento em que determinará o sucesso da vida escolar da criança –, essa fase trabalha fatores que vão além de conteúdos. Ela trata de fatores sociais, motores, emocionais e afe- tivos que também interferem no processo de aprender. A esses fatores deve ser dado todo tempo e atenção. Todos esses conhecimentos, relacionados ao desenvolvimento infantil e ao olhar cuida- doso que se deve ter à infância, são temas per- tinentes em especial à pedagogia, pois esse profissional dedica seus estudos e tem o conhecimento científico necessário para pla- nejar e executar ações que sejam realmente relevantes e significativas a essa faixa etária, assim como pensar em mudanças, decisões e definições que modifiquem estruturas educa- cionais. Decisões estas, sobre a idade de corte, que não podem ser vistas de forma aleatória, mas sim compreendidas como pontos determinantes para o bom desenvol- vimento infantil. Paulo Freire, em seu livro Edu- cação como Prática da Liberdade, de 1989, cita que “A teoria sem a prática vira ‘verbalismo’, assim como a prática sem teoria vira ati- vismo. No entanto, quando se une a prática com a teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da rea- lidade”. Ou seja, ao se pensar em uma realidade educacional, ou em qualquer modificação que se faça em sua estrutura, essa deve ser pensada considerando todos os saberes elaborados em torno do desenvolvi- mento humano. Para que toda mudança – e em especial ao se tratar da idade de corte – tenha significado real, ela precisa de análise teórica e prática de especialistas na área, pois terão propriedade me expor os motivos reais dessa tomada de decisão. Sabe-se que se faz urgente mudanças que transformem a realidade educacional brasi- leira. Algumas ações estão sendo trabalhadas acerca desse tema, como a data de corte, que discute a transição da educação infantil para o ensino fundamental, a qual foi aprovada no STF como sendo 4 e 6 anos completos até 31 de março respectivamente para ingresso nes- ses níveis. Aliás, decisão coerente, que ressalta o valor da infância e valoriza o tempo cogni- tivo da criança. No entanto, esse e outros temas relacionados a decisões educa- cionais não podem ser vistos e anali- sados com superficialidade, mas sim acordado frente à opinião de peda- gogos e especialistas na área que, além de ter o conhecimento teórico sobre o desenvolvimento cognitivo, conhecem a prática escolar. Ao se tratar de um processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental, muitas questões estão em jogo: a maturidade biológica da criança, a predisposição maturacional para o processo formal de alfabetização e aprendizagens de base matemática, o desen- volvimento motor que está diretamente ligado ao sucesso da escrita, a socialização adequada que permite à criança interagir com os demais e com o conhecimento adquirido, ou seja, são muitas nuances que trazem para esse tema uma profunda responsabilidade de decisão, que no caso da idade de corte foi assertiva. Mas, e se os votos do STF tivessem sido contra essa idade de corte? Baseado em que fundamentos cog- nitivos esses votos são aplicados? Sorte, ou realmente uma análise detalhada do STF sobre desenvolvimento infantil antes da votação? A educação precisa ser levada a sério. E esta seriedade só terá visibilidade a partir do momento em que decisões que envolvam aspectos educacionais e de aprendizagem pos- sam ser analisadas e executadas com a contri- buição de especialistas nessa área.

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