Diário do Amapá - 01/07/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANAMELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANAMELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br icar em casa o dia todo não parecia uma má ideia, até que a chegada do coronaví- rus provou que a obrigatoriedade do ato está longe der ser algo agradável. Nos últimos meses, o termo "isolamento social" é falado, ouvido ou lido diariamente por todos os brasi- leiros e, junto com as inúmeras incertezas do momento, traz cada vez mais desconforto psí- quico para os cidadãos, que sentem saudade, medo,ansiedade,angústia, depressão e até mes- mo uma mistura desses e de tantos outros sen- timentos. Para ajudar a lidarcom essas questõesduran- te o isolamento social, a telemedicina ganhou força. Na Doctoralia, maior plataforma de con- sultas online do mundo, as especialidades mais procuradas para atendimento remoto são psi- cologia e psiquiatria. Desde março, mais de 165 mil consultas por vídeo já foram agenda- das, dessas, 80 mil foram para cuidar da saúde mental. Segundo a psicóloga Bruna Muraka- mi, membro da Doctoralia, a telemedi- cina é um facilitador para o paciente e para o profissional, pois permite que aqueles que já se tratavam continuem a terapia e dá a oportunidade de ofe- recer ajuda às pessoas que começa- ram a sofrer com o isolamento social. "Não há mais espaço para o estigma de que ‘psicólogo é coisa de maluco’. Sabemos que as dificuldades emocio- nais podem ser muito estigmatizadas. Estar no mesmo barco favorece na busca à ajuda psicológica sem ser julgado", escla- rece. Ainda de acordo com a especialista, as quei- xas dos pacientes têmmudado ao longo da pan- demia. "No início, eram referentes à adaptação com a nova rotina. Em seguida,o descobrimento de uma nova dinâmica, com colegas e chefes fisicamente distantes e familiares, parceiros, filhos e/ou pets fisicamente perto demais. Já os pacientes que começaram a terapia nesse momento, apresentavam deman- das já pautadas em angústias e ansie- dade", revela. O prolongamento desse estado de afastamento tem trazido à tona, tam- bém, medos relacionados à perda de uma vida ‘normal’. "Assim, as estra- tégias passam a ser de auxiliar os pacientes a estabelecerem novas roti- nas que garantam que eles conseguirão retomar as rédeas de suas vidas aos que perderam seus empregos, por exemplo: o que podem fazer - ainda que de casa - para continuarem atraentes para o mercado ou con- seguirem novos empregos? Tenho visto que, para meus pacientes, manterem-se focados em ações efetivas, que tragam a sensação de reso- lução, geram excelentes respostas terapêuticas à ansiedade", conta. az muito que não ligo uma televisão. Faz muito tempo mesmo que não sei o que é atirar a carcaça na frente da caixinha de ilusões para, estrebuchado,mergulhar num tran- se sorumbáticodiante da programaçãode algum canal de televisão. Digo issonão para contarvantagem. Parecerá esquisito o que direi, mas só de pensar em ficar na frente dum aparelho de televisão me dá uma preguiça danada.Não sei por que cargasd’água, mas brota em mim uma má vontade sem par só de pensar em ver a telinha abrir os seus olhos para projetar suas sombras sobre minha alma através de seu brilho sem graça. Bem, se esse eletrodomésticoé uma caixinha de perdição, fui salvo não por uma virtude car- dinal, mas sim, por um vulgar vício carnal. É. Deusescreve certo,sempre, por entre linhas tor- tas. Glória a Ele! Sim,eu sei que há muitascoisas interessantes na programação de um canal de televisão; porém,nem tudoo que é interessante acaba sen- do necessariamente bom e, nem tudo o que se apresente como sendo aparentemente benévolo irá nos fazer realmente algum bem. Espere aí; sóum pouquinho. Devoestar diva- gando. Não. Nãoestou. É issomesmo. Osmeios de comunicação de um modo geral, mas a tele- visão e as redessociaisde uma forma particular, ocupam um papel central na vida moderna e, consequentemente, acabampor se tornar, como direi, os mentores do modo de vida que impera em nossa época. Como bons mentores, a televisão e as redes sociais estão a nos instruir das mais variadas formasemqualquer tempo sobre osmaisdiver- sos assuntos e, nessa condição,esses trens estão nos inculcando valores e hábitos sem que nós nos demos conta disso, similar aquelas charges onde é retratado um sujeito qualquer que entra dum jeito numa máquina e sai dela, do outro lado, totalmente desfigurado. Muitos são os novos valores que tomaram conta da mente dos caboclos modernosos,de nós, que acabaram tor- nando-se os novoscritérios supremos para validação da importância de algo oude alguém.Valores essesque sim- plesmente absorvemosatravés desses trambolhos tecnológicos. A lista desses valores e critérios, infelizmente, não é nem um pouco apequenada, como também não é nem um pouco dignificantee,por isso mesmo, merecem a nossa atenção e ponderação. Todavia, como havia dito linhas acima, a preguiça e a má vontade não me largam se estou diante de uma telinha, por isso, peço des- culpas ao amigo leitor, mas irei apenas escrevi- nhar uma e outra palavrinha sobre um desses valores que, por influência da televisão e das redes sociais,acabaramocupando um lugar cen- tral na vida contemporânea, degradando-a. O sucesso. Isso mesmo. O sucesso acabou tomando o lugar central no dia a dia moderno, tomando o lugar da beleza, da bondade e da ver- dade. Sem nos darmos conta, ou estando ciente disso, testemunhamos a deterioração de tudo o que está em nossa volta porque simplesmente tudo passou a ser julgado à sombra desse nosso pontode convergência: o sucessoacima de tudo. Para um indivíduo desse século, se algo é famosinho, logo é bom; se algo é repetidomeca- nicamente por um bom punhado de pessoaspor algum tempinho, issoé verdadeiro; sealgoarras- ta o desejo dos indivíduos em uma temporada, isso é belo. Estando em alta, fazendo algum sucesso, qualquer tranqueira passa a ser consi- derada digna de nossa atenção e respeito, digo, da perda de ambos. E num mundo onde tudo é tido como relati- vo,meu amigo, para melar todoo meio de cam- po da vida é dois palitinhos. Por essas e outras que estou com o escritor portugaAntonio LoboAntunes, e nãoabro, quandoele diz que o sucesso nada mais seria que um fracasso atra- sado. Isso mesmo. Um fracasso com retardo. Há muitas razões patentes nessa afirmação feita pelo referido escritor lusitano. Muitas. Mas duas merecem, penso eu, serem destacadas. Tudo o que ontem estava nas paradas de sucesso, que ocupava o centro das aten- çõesagrilhoadas às telas midiáticas,em pou- quíssimo tempo tornaram-se óbolo de vergonha. Quer dizer, sempre foram uma vergonha, mas como o tal do sucesso tomou o lugar da beleza, da bondade e da verdade, acabamos por não nos dar conta do fiasco em tempo hábil. E temoutra.Nesta vida, todosnós saímos der- rotados. Pouco importa quem sejamos ou o que estamos fazendo, cedo ou tarde a realidade da brevidade de nossa passagem por esse vale de lágrimas baterá junto a fronte de nossa alma e aí, todas aquelas superficialidades que tanta impor- tância dávamos, só porque muitos faziamo mes- mo, revelar-se-ão a nós como de fato o são: pó e sombras. Pó e sombras que eram incensados pelos aro- mas do momento sem conexão alguma com a eternidade. A instantaneidade fomentada pelas mídias fazem nossos corações se voltarem para a efe- meridade dos momentos vaziose nos distanciam de tudo aquiloque poderia nos auxiliar emnosso encontro com aquiloque é muito mais nósdo que nós mesmos e isso, me parece, é uma baita duma barbaridade que toma conta de nossa época. Não é a única, mas, por sua natureza, fomen- ta várias outras que, de mãos dadas estão redu- zindo nossa humanidade a um punhadinho de distrações e banalidades.
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