Diário do Amapá - 12 e 13/07/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / m pai acompanhou seu filho à Univer- sidade. Quando viu o plano dos estudos, meneou a cabeça em sinal de desapro- vação. Conseguiu um encontro com o Reitor da Universidade e lhe perguntou: - Meu filho deve seguir este programa? Não seria possível encurtar? Ele quer acabar logo. O Reitor respondeu: - Com certeza seu filho pode seguir um Cur- so mais breve. Tudo depende daquilo que ele quer ser. Quando Deus quer fazer crescer um carvalho, demora vinte anos. Mas gasta só dois meses para fazer crescer uma abóbora. Uma historinha “da roça” para introduzir a parábola de abertura do capítulo 13 do evan- gelho de Mateus, a bem conhecida parábola do semeador que encontramos neste 15º domingo do Tempo Comum. Essa parábola é toda especial. É a primeira do “discurso em parábolas” e suscita, imediatamente, a curio- sidade dos discípulo que querem saber por que Jesus ensina dessa forma e não com discursos eloquentes e claros. Mais do que a explicação da parábola em si, que também encontramosno evangelho deste domingo, é, justamente, a resposta de Jesus à pergunta dos discípulosque deve chamar a nos- sa atenção. Segundo ele, as parábolas têm uma mensagem, digamos, escondida; são “os mis- térios do Reino dos Céus”. No entanto, a alguns é dado entendê-las ( Felizes sois vós... Mt 13,16) e a outros não. Seria essa compreensão, então, um privilégio, uma discriminação ou outra coisa? Não. A explicação de Jesus é clara: não basta ter ouvidos para escutar e nem olhos para ver. A condiçãonecessária para a compreen- são das parábolas é ter, antes de tudo, um coração sensível e aberto. As pará- bolas não são en igmas in compreensí- veis. O que falta é a vontade de se deixar questionar por elas e, portanto, a indisponi- bilidade a se converter e ser curado. O que Jesus disse vale para sempre e para todos, porque serve para toda a Palavra de Deus! Não basta “ler” as parábolas – ou a Bíblia toda - para que elas consigam alcançar o mais profundo da nossa vida. Precisa algo mais. As parábolas, como os gestos, os ensinamentos e, sobretudo, a própria pessoa de Jesus, “revelam” a novidade surpreendente do Reino. Nele já está presente o Reino. Os “pequeninos” con- seguem ver isso, mas não os “sábios e enten- didos”, como dizia o evangelho de domingo passado. A maior verdade que Deus quis nos fazer conhecer, que afinal é o seu amor sem limites, é simples e pequena, como uma semen- te e, de muitas formas, é oferecida a todos. A semente que o semeador espalha, a Palavra, o anúncio do Reino, se não vem logo roubada, é fecunda, brota sempre, também em condiçõ ;es adve rsas. No entanto só pode produzir fruto quando os terrenos, que, afinal, somos nós - a humanidade - a defen- demos, a cuidamos, dispomo-nos a deixá-la crescer. Pela parábola, apren- demos que o semeador não olha para os terrenos antes de jogar a semente. Ele a espalha assim mesmo, com abundância e até desperdício se temos uma visão gananciosa. Mas ao Pai e ao Filho, que ele enviou, não interessa poupar a semente, interessa alcançar os terrenos, as diferentes circunstâncias da vida, a diversidade das pessoas e dos seus corações. Somos sempre nós que reagimos, de tantas formas diferentes, à fartura da Palavra que nos é oferecida. Provavelmente todos nós já temos experi- mentado o entusiasmo que dura pouco, o medo das críticas e das zombarias, o sufoco das preo- cupações deste mundo. Nem precisa incomodar o Maligno para admitir o quanto pouco fica das missas, pregações e rezasdas quais participamos. Continuamos o nosso caminho, indiferentes, como se tivéssemos ouvido e visto nada. Sim- plesmente distraídos ou superficiais. Graças a Deus, o “semeador” nunca desiste. Manda uma mensagem atrás da outra, na esperança que um dia possamos produzir algum fruto. Pode ser o simples “frango de rama”, como o nosso povo chama a abóbora , mas, que bom, quando a semente cresce até ser uma árvore frondosa. Mas esta já é outra parábola (Mt 13,31-32). lgum tempo atrás, escrevi que o racio- nalismo tecnológico se torna protago- nista da vida das pessoas e dos jovens. Porém, esse racionalismo algorítmico tem uns limites. Por que isso? Porque os com- promissos e as analogias das aproximações algorítmicas levam a suprimir tudo aquilo que não se compreende. A nossa sociedade hoje é envolvida nisso e, então, a verdade é geralmente e exclusivamente pessoal. Assim é difícil dialogar. Mesma a reli- gião, se não é possível compreender nem se percebe ter entendido, migra-se com facili- dade para outra crença. Tudo se generaliza e se formaliza, dizendo que mais ou menos tudo é igual. A verdade se torna subjetiva e não objetiva e o pensamento mágico é um claro processo algorítmico. Além do mais, o perigo é raciocinar que o pensamento humano e os processos da computação são como idênticos. Nós confundimos o conhe- cimento e o significado, o processo e o pro- pósito. Efetivamente, se o nosso raciocínio é cada vez mais dependente dos sistemas de com- putação tanto mais deveremos enfrentar pro- cessos racionais que estão fora do nos- so controle, e mais dependentes da técnica informática. Por isso, com toda sinceridade, confiamos e dele- gamos a esse processo algorítmico o nosso pensar e agir. De tal modo, a verdadeira ameaça cultural ainda somos nós, porque fomos nós a dar todo esse poder ao processo algo- rítmico computacional. É assim que o novo Diretório para a Catequese quer ajudar a renovar a catequese na evangelização nesse novo processo cul- tural digital. O que é este Diretório para a Catequese? É um documento da Santa Sé para todas as igrejas no mundo. Os envolvidos diretos com o uso desse diretório são Bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e catequistas. A preo- cupação desse documento é ajudar a realizar uma catequese mais eficaz aos tempos de hoje. Tempos que mudaram totalmente a cul- tura, como falava acima, tecnológica e digi- tal. A proposta de Jesus deve passar neces- sariamente pelos meios de hoje, em que o imaginário é muito reforçado, eu diria cons- titucional. Assim sendo, denota-se uma séria preocupação de como melhor encar- nar a proposta de catequese em nos- sos dias. A Cultura digital, já glo- balizada, determina o nosso proces- so evangelizador. Estamos numa transformação radical da nossa con- vivência e da mesma identidade pes- soal. Portanto, é necessário um mode- lo de comunicação, de novas lingua- gens que possam responder a esta nova realidade. Este novo diretório pretende inspirar novos percursos para que a catequese possa oferecer aos fiéis deste mundo digitali- zado capacidades de compreender e acolher a Boa Notícia de Jesus Cristo. Realmente, eu me questiono: se, no passa- do, a evangelização se deixou manipular pela linguagem da escrita e verbal, por que hoje a mesma não pode se deixar manipular pela lin- guagem digital? É demais importante a evan- gelização e devemos fazer de tudo para que se torne sempre mais eficiente. Assim sendo, a catequese não pode estar separada da evan- gelização e não pode ser uma teoria abstrata, mas um instrumento existencial.

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