Diário do Amapá - 09/06/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANAMELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANAMELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br essência do Plano Real foi a valorização de nossa moeda. No entanto, mesmo antes da Covid-19, a política econômica do atual governovempermitindosua desvalorizaçãoemnível bemsuperior aodasestrangeiras.Afaltadebomsenso naquestãodapreservaçãodoRealacarretouemmuito a perda de investimentos externos. Somente nos 17 primeiros meses do mandato de Jair Bolsonaro, os investidores estrangeiros foram forçados a sair do País com cerca de US$ 60 bilhões (mais de R$ 300 bilhões),indoparaoutraseconomiasemergentesmais confiáveis, como oMéxico, que tem sinalizado uma política econômica com crescimentobemmaior que o nosso. Desde 2014, o Brasil vive uma verdadeira pan- demia econômica, da qual nenhumministro da área foi capaz de resgatá-lo. Esse problema tem sido tão nocivo para a vida dos brasileiros quanto a Covid- 19. O novo governo, com mais de um ano, já teve tempo suficiente para apresentar resultados que cor- respondessemàspromessasdoatual titulardoMinis- tério da Economia. Entretanto, além da sua política salarialserapior detodasasmedidas, aatualestratégia cambial está sacramentando a mais grave crise eco- nômica das últimas décadas. Somente de julho de 2019 a maio de 2020, o Real desvalorizou-se acima de 40%, permitindo o encolhimento, nesse mesmo percentual, dos recursos em moeda nacional dos investidores estrangeiros que ainda permanecem no Brasil.Jáoslucrosdomercadofinanceiroespeculativo (comodólar), demodooposto, elevaram-se nomes- mo percentual (isso é grave e, nomínimo, suspeito). Antesdapandemia,jáhavia nestegovernoalguns recordes negativos: dívida pública, déficit da Previ- dência, fuga de capitaisestrangeiros,desvalorização doreal,quedadasreservascambiaisepreçodoscom- bustíveis.Tambémjáestamosperdendoalgumasposi- çõesnorankingmundialdasmaioreseconomiaspara a Rússia,oCanadá ea CoreiadoSul,caindodonono para o 12º lugar. É preciso considerar, ainda, os R$ 103 bilhões com as privatizações de 2019e osmaisde US$40bilhões dasnos- sas reservas cambiais usados apenas para tampar o buraco deixado pela desastrosa política econômica do Governo Bolso- naro. A queda da inflação à custa de uma recessão econômica não representa nenhumméritodoministrodaEconomia. Apenas retrata um péssimo sinal para o crescimentodoPIB.Se aqueda da inflação fosse por força da valorizaçãodoReal,seria plausível.Afinal,ospreçosdetodososinsumos eprodutos importadosouexportadosvariamem linha com a flutuação do câmbio, determinando demodoautomáticoonível da inflação.Porém,cabe frisar que nossa baixa inflação atual está exclusiva- mente sob o domínio de um processo recessivo. Ataxabásicadejuros(Selic)deveser considerada o segundo oxigênio para a economia, ficando atrás apenas dos salários das classes de baixa renda. Seu presente nível é o ideal, mas há um fator agravante: pouco está influenciando na queda dos juros reais para os tomadores de empréstimos e muito menos para os usuáriosdos cartõesde crédito. Nada melhor para os bancos, pois captam recursos a 3% ao ano (conformeSelicatual)e cobramaté322%noscartões decrédito,cujos jurosestão107vezessuperioresaos da taxa básica. Isso não é apenas abusivo, é um ver- dadeiroassaltoàsclassesde baixarenda,quenãotêm alternativas a não ser cair nas presas venenosas dos bancos, que cobram juros em patamares superiores aos de agiotagem. Agravidade fiscal do País já era prevista desde o primeiromomentodapresentepolíticasalarial.Asus- pensão temporária doaumentorealdosaláriomínimo foiapior emaisretrógradadecisãodoatualgoverno. Comomíserovalor vigentee osbancos,semomenor escrúpulo, abocanhando boa parte dele, não teremosdemanda deconsumosuficientepara o crescimento econômico. Comofundador de um grupo empresa- rial responsável pela geração de alguns milhares de empregos, defendo expressi- vosaumentosreaisdosaláriomínimo, por entender que qualquer elevação do custo público e privado decorrente disso impli- cará umretornobemsuperior. Paraosetor produtivo, seria pelo menos duas vezes maior,movidopelocrescimentodademanda deconsumoea consequentereduçãodoscus- tos pelo volume. Para estados e municípios, tambémseriabemsuperior, devidoao incremento dasarrecadaçõesdoICMSe doISS,bem comodos repassesda União.Para oGovernoFederal, seria ainda maisexpressivo,emdecorrênciada expansãodasarre- cadações tributáriaseprevidenciárias. Somenteascon- tribuiçõesdaprevidênciapúblicaedaprivada já cobri- riam os respectivos custos, seguidas de significativo aumento do recolhimento dos demais tributos. Mesmo sem os reflexos significativos da Covid- 19, cuja influência se deu apenas após o dia 20 de março, deverá ser frustrante ocrescimento projetado pelo ministro da Economia para os primeiros três meses de 2020. Acredito que a estratégia do Banco Central para valorizar o Real nestes últimosdiasseja para diminuir o impacto cambial após a divulgação dodesastrosoresultado do PIBdeste primeiro trimes- tre. Entendo que asprevisões mirabolantesdo minis- tro, de que oaumento seria por volta de2,4%, gerarão grande desconfiança do mercado que ainda acredita na sua política. O fato deverá assustar ainda mais os investidores externos, provocando a desvalorização do Real, ou seja, depreciando muito a nossa moeda em relação às estrangeiras. Númerosefatosnãodeverãoser ignoradosapenas em função de esdrúxulas desculpas. pandemia donovocoronavírusmudouaroti- na de bilhões de pessoas do mundo. Se, por um lado, muita gente reclama de rotina, por outro é ela que nos ajuda a estar mais confortável diante das incertezas da vida. O que a chegada da COVID-19 fez foi nos lembrar de que adaptar-se é essencial. Professores precisaram se adaptar a dar aulas online e à distância; crianças e adolescentes tiveram de aprender a aprender sem o apoio físico dos colegas e em um modelo novo não apenas para eles, mas também para pais e professores. Isso sem falarnas insegurançasnaturaisdomomento:famílias com menos recursos, muitos tendo de lidar com a doença; afastamento de familiares e amigos. Nesse contexto, adquirir e desenvolver compe- tências sócio-emocionais é fundamental para lidar- mos com essa realidade de maneira mais tranquila. O Coletivo para Aprendizado Acadêmico, Social e Emocional(em inglês, CASEL) define aprendizado sócio-emocional comoa maneira pela qual crianças eadultosaprendemaentender eadministraremoções, definir metas, mostrar empatia por outras pessoas, estabelecer relações positivas e tomar decisões res- ponsáveis. De acordo com a instituição, existem cincocompetênciasfundamentais:autoconsciência, autogerenciamento, consciência social, habilidades relacionais e tomada de decisão responsável. Em ummomento como oque omundoestá pas- sando, saber identificar e administrar as emoções pode ser a chave para sentir-se melhor e estar no mundodeumamaneiramaisconfortável.Alémdisso, desenvolvercompetênciassócio-emocionais também irá contribuirmuitoparaoaprendizadodasdisciplinas tradicionais.Afinal,paraaprender novoscon- teúdos, também é necessário ter foco, con- centraçãoe disposição."Estamosvivendo uma dose cavalar de nós mesmos" diz Gabriel Matos, diretor pedagógico da Escola Integra, que capacita seuseduca- dores em mindfulness para sala de aula comaMindKids.Ele completa, "Ospais têmficadopositivamenteimpressionados com a calma com que as crianças têm se portadodurante aquarentena, comasprá- ticasderespiraçãoque ascrianças têmfeito, comofatode quea quarentena nãoestá atin- gindoascrianças. Elasestãoprocurando fazer as atividades, respirar e tratar com mais calma as situações dodia a dia. Nocaso do Fundamental, o que mais tem chamado a atenção é a calma, a con- centração e o foco para fazer as avaliações". Mindfulness éum caminhoparainserir essetema nas aulas.Aprática de mindfulness nãovai mudar o que acontececonosco;maspodealterar aforma como nosrelacionamoscomoque acontececonosco,sejam essas experiências desejadas ou indesejadas. Especialmente as práticas de empatia e compai- xãosãodedicadasa despertar aconsciênciada impor- tância do cultivo das qualidades do coração, de usar essas qualidades e perceber a importância de desen- volver conexão e afeto. Elassãobastanteefetivasnoambienteeducacio- nal, poispreparamalunose professores para estarem mais abertos ao aprendizado, numa relação de duas viasem queoalunoensinaao professor e oprofessor ensina ao aluno. Inserir o ensino de competências sócio- emocionais nas aulas on-line dos estudantes dasmaisdiversasfaixas etáriaspode, ainda, ajudá-los a se sentirem conectados aos outros alunos e aos professores, mesmo que apenas virtualmente. Criar espaços seguros para que os estudantes possam falar de seus medos, inseguranças e anseios é importante para que eles se sin- tammaisà vontade noprocesso de apren- dizado. Conhecer suas emoções, saber o que elesestãosentindo, criar umespaçopara que falem sobre isso é essencial em um momento como o que estamos vivendo. Embora ainda haja muita incerteza com rela- ção à quando tudo voltará ao normal, é importante desde já que as instituições de ensino se preocupem comascompetênciassócio-emocionaispara omomen- tode retornoàs aulaspresenciais.Apsicóloga e peda- goga Ana Carolina C D’Agostini, que trabalha como desenvolvedora de conteúdo do Programa Semente e supervisora científica do Instituto Ame sua Mente, reflete: "Embora ainda seja incerto quandoas escolas serão reabertaspara as aulas presenciais, éimportante refletir sobre comodeverá ser esse retornoe quaissão osefeitosnosâmbitos acadêmico, social e emocional dada a experiência sem precedentes como a que esta- mos vivendo agora. Atransição totalmente online paraa voltaàs aulas presenciaispode trazer alegria,empolgação,ansiedade, preocupação e diversas outras emoções. Somado a isso, estudantespodem ter vivenciado traumas, luto e estresse agudo no período de isolamento social.

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