Diário do Amapá - 10/06/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANAMELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANAMELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br loqueio, isolamento, distanciamento social, pandemia, novonormal.Webinário,live,más- cara, drive-thru,tele-entrega,trabalhoe ensino remoto. Tantas palavras entraram na nossa rotina e novas experiências para assimilar. Nosso dia a dia foialterado, alguns projetos perdidose muitas dúvi- das e incertezas. Nossa mente se agita a pensar em como ficará a vida após a pandemia, como será o novo normal? Por vezes ela se entristece, vai para o passado, para os sonhos que se perderam com o distanciamento social, para asaudadedeummundoconhecido. Nos- sa mente se movimenta em padrões habituais sem que tenhamos a menor noção de que mundo mental é esse que vive em nós, do que se alimenta, como nos arrasta sem que tenhamos controle. Nemna nossa educaçãoescolar,universitária ou familiar tivemos extensa orientação de como lidar com a nossa mente, e é com ela que teremos que lidar durante toda a vida. Nem ao menos sabemos que temos uma mente que comanda boa parte do espetáculo/drama/comédia/tragédia que sedescortina no nosso dia a dia. Socialmente nos habituamos a dizer que há realmente uma realidade lá fora que é a causadora disso que acontece aqui dentroe que,se controlarmos a realidade, estará tudo certo. Geral- mente quantomais sólidaessa realidade épercebida e quanto menor a liberdade que temos, maior é o sofrimento. Esse foi um aprendizado que pude comprovar trabalhandocompacientespsiquiátricos há unsanos atrás. Quando nossa mente se agita, ela perturba o sono, altera toda adelicada bioquímica doorganismo e pode gerar doenças. Quando a tristeza e a deso- rientaçãoaumentam,ocorpo tambémsofre,ficamos lerdos, não conseguimos pensar direito ou ficamos irritados por precisar dar conta de tarefas. Isso que chamamoscorpo,emoçõesemente sãorótulos total- mente arbitrários para podermos visualizar certos fenômenos com maior clareza, mas que na nossa experiênciasão muitodifíceisde diferenciar. E, de fato, na prática eles são “um”. Poderíamosprevenirmuitosdenossos padeceres educando gentilmente a nossa mente(corpoeemoçõesestão juntos) não amimandodemais,mas tambémnãoexi- gindodela oquenãonos pode daragora. Paraissoprecisamosconhecê-la, nãoser- mos demasiado subservientes às deman- dasexternasnemàs internas,mas também não as ignorando nem reprimindo. Ajustedifícil? O processocorpo-emoções- mente émuitofluidoeimpermanente,intrincado com toda a rede em que está inserido para que a gente consiga acompanhá-lo e conhecê-lo detalha- damente. Simplesmente nãodá tempo, a menos que ficássemos24horassóprestandoatençãoaoquesur- ge na nossa mente. Então, umaespécie de plantonista interno vigilante precisaria estar observando tudo isso e respondendo com bom senso para que o tão desejadoequilíbriose estabeleça. Bom sensoé uma palavra importante aqui, pois nosso organismo se rebela com controle excessivo. Mas quando nossa rotina se altera e o mundo parece vir abaixo, então já é tarde demais pra criar um ambiente físico e mental respirável. O delicado equilíbrio entre corpo, emoções e mente só pode ser alcançado pelo exercício regular e pela vontade de quemestádo ladodedentro.Issoemcondiçõesestá- veis,sejamelas internasouexternas.Numapandemia não estamos emuma situaçãoestável. Muitosde nós passam longos períodos sem uma estabilidade para poder parar, olhar para dentro e se cuidar. A tríade saúde física, mental e espiritual – que foi o tema do meu doutorado no ano de 2000 – parece tão óbvia quando estudada teoricamente, mas é tão difícil de harmonizar em nossa vida cotidiana. Muitos fatores também não estão ao nosso alcance. As informações de quase tudo estão todas dis- poníveis para a maior parte das pessoas via Google. Mas como escolher as melhores, as que de fato nos servem? E quais são as que melhor nosservemAGORA? Para saber o que nos serve, precisamos ter consciência de quemsomose doquequeremos.Como respondeu o coelho para Alice (no país das maravilhas): se você não sabe para onde vai, qualquer caminho serve. Então, nessa complexidade aparente- mente simples, assimilamos conteúdo, mas não aprendemos a buscá-lo, no sentido de onde encontrá-lo, quais as melhores fontes. Tambémprecisamos interpretá-lo ecolocá-loem prática (de que serve um conhecimento engaveta- do?).Depois precisamos de acompanhamento, orien- tação ealgumestímulonessa aplicação. Essasfunções podem ser desempenhadas por pais atentos e profes- soresdedicados. Nem todos, contudo, temosessa sorte. Em geral, você é seu próprio professor, seu próprio pai e mãe, seu médico, seu conselheiro –, o próprio algoz e também a vítima. Bem, ao menos você é a pessoa que melhor conhece a si própria neste mundo. Por favor, não se abandone! O delicado equilíbrio corpo-emoções-mente em geral é o resultado de hábitos e condições anteriores. Colhemos hoje o que plantamos antes. Ele também nãoduramuito,poisoser humanoéumsistemaaberto a inúmeras influências (um vírus que pode ser mortal para uma pessoa é uma “gripezinha” para outra). Mas umavisãopanorâmicada nossavida queparta decerto autoconhecimentopodeajudara escolher uma direção, um sentido que nos dê estímulo para não desistir. Aboanotíciaéquenossoorganismocomoum todo aprende atéo último dia de vida, e a plasticidadecere- bralfaz de nósalgovivoetotalmente abertoereagente a intervenções. Dessa forma, sempre dá pra começar de qualquer ponto em que estejamos para seguir por umcaminhomaiscondizente comoquenosharmoniza e alegra, mesmo emmeio a uma pandemia. Parei para analisar os resultados de pesquisas de opinião realizada peloIPO – Instituto Pes- quisas de Opinião emváriascidadesdoRS na última semana. São pesquisas que avaliam o com- portamentoea percepçãoda populaçãogaúcha sobre omomentoemque vivemose as medidasrestritivas impostas pelos governa É difícil para as pessoas responderem pesquisas deopiniãoquetratamsobreaCodiv-19.E essedilema está associado à dicotomia entre o que aparece na televisão e a realidade em que se vive, o cotidiano de cada cidade. Amaioria da população afirma que está preocu- pada e bem informada sobre oCoronavírus. Na prá- tica,afirmamque“nãoaguentammais” recebermen- sagens sobre a Covid-19 pelo WhatsApp ou assistir àsnotíciaspelos meiosde comunicação,emespecial, pelos telejornais. Écomose assistissemauma novela onde o vilão não para de fazer maldade. E essesentimentoocorreporque há muita incer- teza e dúvidas. De um lado, se vê as estatísticas das mortes, asnotíciassobre enterrosemmassa, hospitais entrando em colapso e os tristes depoimentos de quem perdeuumfamiliar. De outro lado, se saià rua coma sensação de que nãoháperigoeminente.Tem- se a percepção de que a vida irá voltar ao normal e, inclusive, há quemacreditequeo isolamento foi um exagero. Quando o tema avaliado questiona o isolamentosocial, hámaisdúvidas.Meta- de dosgaúchoséfavorável ao isolamento e a outra metade é contra. Mas essa ava- liação não está associada apenas a uma posição, a uma opinião. Ela é resultado de uma necessidade básica de sobrevi- vência, que tem como base a ideia de que a economia é mais importante do que a defesade“umaciênciaqueparecenãoenten- der a realidade das pessoas”. Osqueconcordamcomo isolamento, sãoaque- les que tem renda fixa, maior graude escolaridade e condições de executar as suas tarefas remotamente. Agrande maioria, que se mostra contra o isolamento social,viveodilema de manter seuempreendimento, de lutar pelo seunegócio, de garantir oseu emprego ou até mesmode tentar sobrevivercomo trabalhador autônomo ou informal. São pessoas que nãos sabem como irão pagar as contasquechegam oucomo irãoalimentar suafamí- lia. Muitas pessoas que têm essa opinião estão nas filas do auxílio emergencial, sendo que alguns con- tinuam invisíveis ao sistema de proteçãosocial (não tendo nem CPF). Quemé contrao isolamento pela neces- sidade de subsistência básica afirma que “se o vírus não matar, a fome irá matar”. A maior parte dessas pessoas tendem a apoiar as indicações do Presidente Bol- sonaro,pedindoaretomadadasatividades econômicas. É como se o Presidente entendesse a angústia dessas pessoas e as representasse. Quemestá focadona neces- sidade econômica não acredita que haverá mortese muitos indicamumculpado, sejaum paísouatémesmoosensacionalismodosmeios de comunicação. Aspessoassãomovidasporexpectativasoudores. E nessemomento, muitos gaúchossepreocupamcom a realidade econômica e a sua dor está associada à diminuição das perdas econômicas ou à necessidade de provir a alimentação de sua família. A realidade dá o passo para a opinião e se alinha, naturalmente, a posições políticas que tratam a pan- demia como uma crise qualquer. Essa instabilidade política na condução da pandemia pode transformar a dor daqueles que sofrem com as perdas ou as difi- culdades econômicas em um luto pela morte de seus amigos e familiares.

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