Diário do Amapá - 11 e 12/06/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANAMELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANAMELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br batidos pela alta incidência da covid-19 e a baixa ofertadeleitoshospitalaresdecui- dado intensivo, os estados amazônicos podemver onúmerodepacientescomproblemas respiratóriosexplodir apartirdaspróximassema- nas, quando começa a temporada do fogo na região. Com ofim do períododechuvas,desma- tadorescostumam retornam aos locaisondea flo- resta foi derrubada anteriormente para queimar os restos e, assim, "limpar" o terreno. Estimativas divulgadas nesta segunda-feira (08/06) pelo Instituto de Pesquisa da Amazônia (Ipam) indicam que este deve ser o destino dos 4.509 quilômetros quadrados de Floresta Ama- zônica - oequivalente a quatrovezes a cidade de Belém,noPará- derrubadosentrejaneirode 2019 eabril de 2020e que aindanãoforamqueimados. "Se continuar o ritmo intenso de desmatamento nos próximos meses, que é quando, geralmente, há aumento porque fica mais seco e mais fácil de entrar na mata com o trator, haverá uma área bemmaior pra queimar,que pode chegar a 9 mil quilômetros quadrados", afirmou Paulo Mouti- nho,pesquisador sênior do Ipam. "Pode ser uma área nunca vista antes para queimar", adverte. A nota técnica identificou áreas desmatadas no ano passado, mas que ainda não queimadas. Em 2019, a Amazônia em chamas gerou fortes críticasàspolíticasambientaisdo presidenteJair Bolsonaro. Em reação, o governo enviou em agosto soldados das Forças Armadas para con- trolar a situação. A ofensiva levou muitos des- matadores a se esconderem e adiarem a etapa do fogo."Todo desmatamento é seguidodo fogo.É custoso derrubar floresta, pode custar de 800 a 1.200 reais por hectare. Por isso que quem der- rubou a mata vai querer garantir o investimento e vai voltar para queimar", acrescenta Moutinho. Essacatástrofeambientalpodeainda gerar uma tragédia de saúde pública. Afumaçaatingeem cheioospulmões já expostos ao novo coronavírus, que provoca uma síndrome respiratória aguda grave. Um estudo prestes a ser publicadopor pesquisadoresdaFacul- dade de Saúde Pública de Harvard, nos EstadosUnidos,apontaque mesmo um pequenoaumentodapoluiçãopodeelevar a taxa de mortalidade por covid-19. No Brasil, pesquisas feitas nas últimas décadas traçam a relação direta entre o fogo na Amazônia e internações por problemas respira- tórios. Mais recentemente, um levantamento da Fundação OswaldoCruz (Fiocruz) concluiu que viver em uma cidade próxima a focos de calor aumenta em 36% a probabilidade de internação. "Criançaseidosossãoosmaisvulneráveis",com- plementa ofísico PauloArtaxo,da Universidade de São Paulo(USP).Atéquem estálonge dofogo éatingido: apoluiçãodasqueimadasdaAmazônia viaja porquilômetroseatingepopulaçõesisoladas que respiram o ar insalubre, acrescenta o cien- tista. Apesar da abertura recente de novos leitos para tratar pacientes com covid-19, a taxa de ocupação segue elevada em alguns estados da Amazônia. O Pará, por exemplo, está com 85% de sua capacidade ocupada, segundo profissio- naisdosistema público ouvidospela DWBrasil. JuntamentecomMato Grosso, Rondônia eAma- zonas,o estado faz parte do grupoque concentra 88% da área de floresta derrubada à espera da queima. Seca, desmatamento e fogo Além do cenário identificado pelo levantamentodoIpam,uma possívelseca nos próximos meses pode intensificar atemporadadofogo.Uma notatécnica assinada por cientistas do Instituto Nacional dePesquisasEspaciais(Inpe) e Centro Nacional de Monitoramento eAlertasde DesastresNaturais(Cema- den) apontou um aumento da tempera- tura acima de toda a média histórica foi identificadono oceanoAtlântico,fenôme- noque tende a causar secas em regiões pró- ximas ao Acre. "Estas secas induzem a uma intensificação das queimadasnasáreas desmatadas,e aumentam o risco de incêndios florestais nas áreas em que o fogo é utilizado para manejo da terra", afirma a nota. De agosto de 2019 a maio de 2020, foram detectados 78.443 focos de queimadas na Ama- zônia, um número maior do que o registrado no mesmo período entre 2018 e 2019. "Com muita área para queimar, com o impacto da seca e o númerogrande de infectados pelovírus,a pressão sobre o sistema hospitalar será enorme", pontua Moutinho. A saída para evitar uma catástrofe ambiental e de saúde pública, sugerem os pesqui- sadores, é evitar que a grande área já desmatada vire cinzas. "É fundamental que o poder público crie uma estratégia de combate não só às queimadas, masà raiz do problema, que é o desmatamento", argu- menta Moutinho. "Com queima da floresta e a pandemia,oproblema éagravado.Se não for feito nada, a conta virá em número de mortes, além da perda de biodiversidade e da mudança do clima regional", adiciona. gilidade deve ser uma palavra impositiva para qualquer governo na recuperação econômica após os fortes impactos cau- sadospelapandemiadaCovid-19.Nesseprimeiro momento,nossapreocupaçãodeveestarna oferta dos serviços essenciais de saúde, sem esquecer que, em apenas alguns meses, estaremos reto- mando as atividades commilhões de desempre- gados e milhares de empresas com dificuldades de sobrevivência. A história tem ensinado o papel indutor do Estadocominvestimentosem construçãodeobras de infraestrutura como forma de criar trabalho e renda para milhões de trabalhadores e serviços para as corporações. A flexibilização orçamentária, já considerada como essencial nesse momento, deve caminhar parainvestimentosquetragamretornosubstancial. Por isso, omomentoexigedecisões robustaspara começar,desde agora,estudoseprojetosdeenge- nharia para estarmos preparados para a saída da quarentena. A pandemia do novo coronavírus trouxe um panorama de incerteza mundial, reduzindo os investimentos em todas as indústrias.Antes dos impactoscausadospelaCovid-19,caminhávamos para o ordenamento do setor de infraes- trutura por meio de privatizações, PPPs (Parcerias Público Privadas), conces- sões, entre outros instrumentos para impulsionar os empreendimentos imprescindíveis para as próximas décadas.O cenáriomudoucompleta- mentee asprevisões iniciaisprecisam serrevistaserecuperadaspor umoutro viés.Aretomadadoscertamesprevistos demandaum tempoque jánão podemos esperar diante da atual urgência. A engenharia consultiva pode, neste momento,preparar estudose projetosque agi- lizem edeem segurançaparanovosinvestimentos em empreendimentos. O setor de saneamento, por exemplo,atende demandasurgentese que já poderiam ter sido sanadas no passado. Um país que convive com 35 milhões de bra- sileiros sem acesso a água potável e outros 100 milhõescommoradiasque não estão conectadas à rede de coleta e tratamento de esgoto, dificil- menteconsegueevitara proliferaçãode doenças. Nessa pandemia, encontramos pessoas que sequer conseguem atender ao quesito básico de lavar as mãos com água limpa, uma das medidas preventivas adotadas pelas autoridades de saúde.Vale lembrarainda dados da OMS, queparacadaUS$1 investidoem sanea- mento, há um retorno de outros US$ 4 em saúde,melhoriadaqualidadedevida, produtividade, entre outros benefícios. Anossa resposta noatendimentoda universalização do saneamento tem sido tímida nos últimos anos. As pro- jeçõespara onovomarco legal dosanea- mento, em discussão no Congresso Nacional,preveeminvestimentosnaordem de R$700bilhõesaté 2033,comuma média de R$ 53 bilhões anuais. Infelizmente, temos alcançado,nomáximoR$15bilhões poranonas últimas décadas. Osaneamentodevesetomarumadasprioridades esetransformaremumapolíticapermanente, inde- pendentedogovernodeplantão,paraajudarosmais de 5.500 municípios a oferecer infraestrutura ade- quadadeabastecimentodeáguaeesgotamentosani- tário. Caso contrário, continuaremos a relegar às populaçõesmaispobrescondiçõesde vidaqueofe- recemriscosàsaúde.Éhoradetocarprojetosefazer diferençaegarantirumfuturocommelhorqualidade de vida para todos.
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