Diário do Amapá - 21 e 22/06/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / s discípulos perguntaram ao mestre: - Qual é o maior inimigo da ilu- minação? – O medo. Respondeu o mestre. – E de onde nasce o medo? Quiseram saber. – Do engano. Respondeu o mestre. – Mas o que é o engano? Continuaram a questionar os discípulos. – Engano é acre- ditar que as flores ao nosso redor sejam ser- pentes venenosas. – Mas então, como é possível conseguir a iluminação. Eles continuaram a indagar. – Abram os olhos e reparem bem. Res- pondeu o mestre. – Reparar o que, mestre? Falaram juntos os discípulos. – Que aqui, ao nosso redor não tem cobra nenhuma! Concluiu o mestre. “Não tenhais medo!” São as palavras de Jesus repetidas três vezes no evangelho do 12º Domingo do Tempo Comum. Mas por que ter medo? Depois da escolha dos “12”, o evangelista Mateus coloca mais um dis- curso de Jesus para orientar a missão dos apóstolos. Ele é o primeiro a saber que anun- ciar a novidade do Reino de Deus não será um trabalho fácil. Eles encontrarão muitas dificuldades, serão “como ovelhas emmeio a lobos” (Mt 10, 16), serão rejeitados pelos próprios familiares e odiados por muitos. O que Jesusestá pedindo é a participação deles numa missão audaciosa, com resultados duvidosos e prêmio imediato nenhum. Ele chega a dizer: “Se ao dono da casa chama- ram de Belzebu, quanto mais aos membros da casa!” (Mt 10, 25). Eles teriam, portanto, todo direito de ter muito medo. Mas Jesus insiste: Não tenhais medo”. Para vencer esse medo é neces- sário acreditar, ao menos, em três coisas. A primeira é a promessa que tudo o que ficou escondido será revelado. A referência pode ser as grandes ilusões que fasci- naram e continuam a atrair grande parte da humanidade. Todo sistema se considera perfeito e toda ideologia infalível, por isso tem um conjunto de “verdades” indiscutíveis que devem ser aceitas cegamente pelos seguidores. Quem não concorda é considerado um perigoso inimigo. Outra possibilidade é que o evangelho fale das inúmeras calúnias levantadascontra os cristãos para eliminá-los. Por isso, logo depois, Jesus fala de não ter medo dos que podemmatar o corpo, mas não a alma. Essa é a segunda afirmação na qual precisamos acreditar e nela acreditaram os mártires cris- tãos de todos os tempos. Preferiram desistir desta vida terrena que deixar de proclamar a própria fé em algo bem superior: aquela Vida plena que somente Deus pode dar aos seus amigos.Mártir significa “testemunha”. Quem não está disposto a sofrer por aquilo que acredita ser tão bom, justo e valioso ao ponto de arriscar perder a sua vida, deixa muitas dúvidas sobre no que acredita real- mente. Que lição para nós, sempre dispostos a acomodar as coisas! Os mártires verda- deiros nunca foram atrás do martírio, mas quando chegava o momento, não o consi- deravam uma punição, mas, nada menos, que um “dom” de Deus. Pediam força para vencer o medo, não para serem poupados. Loucura?Não, fé luminosa, por- que confiavam na infinita miseri- córdia do Pai. Essa é a terceira e a mais importante verdade na qual precisamos acreditar. É a decisiva. OPai, diz Jesus, toma conta dos pás- saros, conhece e ama a cada uma das suas criaturas mais do que pensamos. Omedo toma conta de nós quando nos encontramos na frente do desconhecido, daquilo que não entendemos e que escapa ao nosso controle. Por isso, os poderosos deste mundo querem saber tudo e todos os detalhes das manobras dos adversários. Nós também temos medo da opinião dos outros, de ser apontados como esquisitos, beatos, atrasados e tudo aquilo que muitas vezes escutamos. Isto não significa que devemos sempre apa- nhar, mas que vale mais a fidelidade nossa e de toda a Igreja ao Evangelho que um con- senso duvidoso ou uns aplausos interesseiros. Ao contrário, o medo e a desconfiança de ser usados para outros fins que não sejam o bem comum e a justiça podem nos ajudar a sermos mais fiéis à causa de Jesus. Devemos sempre pedir a luz doDivino Espírito Santo para dis- tinguir as cobras venenosas das serpentes ino- fensivas. Muito mais devemos apreciar o per- fume das muitas flores ao nosso re dor, par a que a vida se torne um jardim para todos. Têm muitas pessoas de boa vontade, graças a Deus! Basta saber vê-las. omo é difícil acolher e construir a vida! De fato, todos nós nascemos, mas não livres. Por quê? Experi- mente pensar um pouco e veja que não fez nenhuma opção para nascer, mas se achou no mundo por vontade do pai e da mãe. Não impôs nenhuma preferência de vida. Simplesmente se achou no mundo dentro de uma raça, de um país, de uma língua, de uma religião, de uma condição socio- política. Nasce no anonimato. Porém, com o passar dos anos, toma consciência da sua existência e passa a ter liberdade de ação. Isto significa que vai construindo sua vida pelas suas escolhas que a alicerçam. É verdade que você recebeu a vida, mas depende também de como vai plasma-la na sua vida. Ela é uma obra nas nossas mãos. E a passagem da vida recebida desde o começo vai se realizando pela educação. É essa educação que permitirá ao ser huma- no crescer em um terreno fértil das relações. A convivência com os outros se configura como intercâmbio para ensaiar a própria liberdade, característica fundamental para dar vida à sua autenticidade e realidade presente. É nisso que a vida se torna realmente uma ‘mestra’, porque ajuda alcançar o “Bem” dentro os intercâmbios de solidariedades, interpessoais e de vivência. E, neste sentido, fala também o papa Francisco: “Toda geração deveria pensar em como transmi- tir seus saberes e seus valores à geração futura, pois é através da educação que o ser humano alcança o seu potencial máximo e se torna um ser consciente, livre e responsável. Pensar na educação é pensar nas gera- ções futuras e no futuro da humanidade. É algo profundamente arraigado na esperança e exige generosidade e coragem”. Assim sendo, a nossa vida se torna uma verdadeira aprendizagem em que nunca se acaba de aprender. Como verdadeiros estudantes, a cada dia se aprende sempre algo de novo que promove os aspectos de conhecimentos, de relacionamentos e afetos que enaltecem a mesma realidade. Conhecimentos em todos os sentidos. Lembra-me o que o gran- de filósofo Sócrates dizia: “Eu sei que não sei de saber”. Isto quer dizer que a nossa vida é uma mestra e que precisamos sempre aprender, reco- nhecendo as nossas limitações e desejosos de construir a própria vida nos alicerces da educação. A nossa liberdade cresce na medida em que cresce a nossa edu- cação, qual potencialidade da nossa vontade. As características disso são marcadas pelo diálogo como dom para a realização do outro. Na realização do outro se define a própria realização. Esta verdade se fundamenta sobretudo na Palavra de Deus. E esta verdade se constrói aos pou- cos e com muita paciência. O ser humano é ser humano na medida em que consegue ser um educador, fazer da vida uma mestra sem fim. É esta mestra que nos ajuda a buscar uma real aproximação do outro e, por isso, Jesus Cristo põe o grande mandamento a seguir: o amor. O amor que nos rende mais próximos e viver melhor a liberdade para que fomos chamados. Nisto consiste a nossa felicidade.

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