Diário do Amapá - 09/05/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANAMELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANAMELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br á 90 dias, uma nova palavra surgiu no vocabulário do mundo: coronavírus. Para muitos, ela apareceu como sinô- nimode preocupação epânico.Mas, averdade é que de nada adianta "entrar empânico", por- que estaé apenasmaisuma situaçãocomplexa que precisa ser encarada. E, nesse caso, quanto mais lucidez e bom senso, melhor. Se olharmos pela janela, as ruas estão maisvazias.Aulas suspensaspara as crianças. Quem pode, está em home office. Algo que começou do outro lado do mundo impacta diretamente nosso dia a dia. Parece o cenário daquela velha canção: "o dia em que a Terra parou". Mas, na verdade, ela continua girando como sempre, no mesmo ritmo. Quem teve de parar fomos nós. E, em vez de lamentar, temosa oportunidade de olhar para um outro prisma desta situação.Acorreria do dia a dia parecia interminável?Agora, o ritmo é mais lento, e ganhamos de presente mais tempo, para alguns o bem mais precioso e luxuoso da sociedade contemporânea. Claro que é difícil encontrar equilíbrio emtempos tão desafiadores. O caos refletido nas notícias nos afeta e agora elas chegam pela TV, pelo computador, pelo celular… Lidar com esse cenário exige mudanças em nossa postura diária. Se às vezes as reuniões de família eram sinônimo de pessoas isoladas olhando para uma tela de celular, agora somos obrigados a olhar-nos nos olhos, porque estare- mos o tempo todo "confinados" em nossas casas, sem poder "fugir" para ambientes maiores e círculos sociais mais amplos. Mas, amelhor parte disso é que este "confinamen- to" acontece no mesmo ambiente em que estão as pessoas que mais amamos, e a quemescolhemos para serem nossos laços mais íntimos. Nesse momento em que precisa- mos focar em coisas simples como lavar bem as mãos, a palavra "empatia" tem sido usada por diversas autoridades, dos mais variados países: precisamos pensar nos outros, para não contaminar quem pode estar mais suscetível; precisamos cuidar do todo para diminuir o nosso próprio risco. Essa inversão é uma linda chance para que, de fato, passemos a olhar para o outro, suas necessidades e dificuldades. É uma oportunidade para voltarmos a conversar, para estabelecermos uma relação mais har- moniosa com as pessoas. Para exercitar a escuta atenta, para retomarmos relaciona- mentos que haviam sido comprometidos por opiniões diferentes e pontos de vista discor- dantes. Como afirma Oren Jay Sofer, professor de mindfulness, meditação e comunicação não violenta: "É possível conversarmos sobre estes assuntos (política, religião, saú- de) sem prejudicar relacionamentos. Ao invés de culpar, julgar ou rotular, pode- mos falar de coração, sobre como nos sentimos emrelação a determinados assuntos e o porquê. Dizer que gos- taria que todos fossem tratados com respeito, não importa cor, nacionalidade, sexo ou religião… ". Para ele, a questão é tentar olhar para além de si mesmo. "Quando permanecemos com nossos pró- prios sentimentos, em vez de tentar imputá-los a outras pessoas, podemos minimizar conflitos". Podemos aproveitar o momento para voltar a olhar commais calma para o outro. Umoutromuito próximo, quemora namesma casa, que faz as refeições ao nosso lado. Pode- mos investir em dialogar mais, em brincar com as crianças, em apenas passar o tempo e aprender com nossa família. E, o mais impor- tante, não deixar o medo tomar conta, agindo de forma lúcida. Nesse aspecto, mindfulness nos ajuda a criar espaços, "olhar fora da caixinha" sem nos fecharmos emnosso próprios problemas. Se nos fechamos em um problema, as nossas reações neurológicas fazemcom que não pos- samos ver outras possibilidades, mas quando damos um passo para trás, conseguimos ver este espaço, e nele enxergar o que há de posi- tivo. Isso tem a ver com não se fixar numa posturamuito estreita demente e também com enxergar o lado bom das coisas. pandemia do novo coronavírus tem aumentado a preocupação com os pacientes com doenças pré-exis- tentes. Um grupo chama ainda maior aten- ção, que são das pessoas com diagnóstico de câncer. Independentemente do tipo de tumor que afeta esses pacientes, há uma população que tem uma grande alteração imunológica, aumentando os riscos para outras doenças. Um trabalho recente de um grupo de clínicos do Departamento de Medicina da Icahn School of Medicine em Mount Sinai, Mount Sinai Beth Israel de Nova Iorque, nos Estados Unidos, procurou determinar se os pacientes com câncer e com a Covid-19 naquela localidade têm um prognóstico pior. Em um artigo publi- cado no Annals Of Oncology, os autores escreveram que, sem ajustar para faixas etárias, os pacientes com câncer foram intubados com maior frequência. Porém, a taxa de morte não foi significativamente diferente. O levantamento realizado pelos espe- cialistas dos EUA aponta ainda um risco maior de intubação em pacientes com câncer com idades entre 66 e 80 anos. O estudo não encontrou diferença expressiva no risco de intubação em outros grupos etários. Porém, os pacientes com câncer com menos de 50 anos apresentaram uma taxa de mortalidade maior. No entanto, no grupo de pacien- tes com faixa etária acima de 50 anos, as taxas de mortalidade pelo novo coronavírus em pacien- tes com câncer foram menores do que naqueles pacientes sem câncer, apesar de não serem estatisticamente significativas. Isto pode refletir uma ten- dência no efeito do impacto dos cuidados redobrados recebidos pelos pacientes oncológicos em virtude da doença de base. Apesar de ser um pequeno panorama do cenário atual, o levantamento reali- zado nos EUA nos aponta para o forte impacto da Covid-19 nos pacientes, prin- cipalmente naqueles com câncer. O momento requer atenção redobrada e não podemos deixar de acompanhar essa população com a devida atenção que ela exige. O paciente com câncer também faz parte de uma emergência médica. Por isso, o diagnóstico e o trata- mento devem ser seguidos con- forme os critérios estabelecidos pelos especialistas. Não há motivo para adiar os cuidados e isso pode, na maioria dos casos, aumentar ainda mais os riscos para os pacientes oncoló- gicos. Mesmo diante de uma pande- mia, não podemos esquecer que, para alcançar melhores resultados com os pacientes com câncer, o tratamento deve ocorrer na fase inicial da doença. Quanto mais precoce ocorrer o diagnósti- co, podemos avançar para um tratamento menos invasivo em alguns casos. O adia- mento só reduz as chances de cura. Inclusive, manifestações da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SP) ressaltam que o acompanhamento do paciente com câncer não deve ser interrompido, com riscos de prejuízos futuros. Os médicos responsáveis pelos pacientes devem avaliar os casos em que isso pode ocorrer.
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