Diário do Amapá - 17 e 18/05/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / m jovem, toda semana, vinha de muito longe participar de um curso de autoco- nhecimento. Um dia chegou até o pro- fessor e disse-lhe: - Mestre, tenho notado o comportamento de seus alunos. Alguns deles tiveram a vida com- pletamente transformada, outros mudaram em alguma coisa, mas existem muitos - e eu estou entre eles – que nada mudaram. Que explicação o senhor tem para isso? Depois de olhar serenamente para o rapaz, o professor respondeu: - Filho, você vem toda semana de longe ouvir-me falar, não é? – Sim, mestre. – Você conhece bem o caminho? – Com certeza. – Se alguém lhe perguntar como fazer para chegar até a cidade onde você mora, o que você faria? – Eu explicaria o caminho da melhor forma possível – respondeu o jovem. – E você acredita que só chegariam com sua explicaçãoouseria preciso percorrer o cami- nho? – É claro que só chegariam os que percor- ressem o caminho. Nesse momento, o professor concluiu: - Assimmesmo são os meus ensinamentos. Eu osensino da melhor maneira possível. Todos podem ouvi-los atentamente, mas só irão se transformar aqueles que realmente os colocarem em prática. O caminho é ensinado a todos, mas só chegam aqueles que fazem o percurso. O mestre da historinha não ensinou nada demais ao seu aluno: não basta saber que existe o caminho; para che- gar à meta precisa percorrê-lo até o fim. Isso significa enfrentar dificul- dades, lutar para superar obstáculos, vencer ou perder desafios e tudo o mais de imprevistos que podem apa- recer. Pensamosna nossa vida. Todos estamos a caminho e muitas coisas acontecem, alegres e tristes, banais e marcantes. Sempre existe a possibili- dade de assistir à nossa vida como a um filme protagonizado por outros. Se alcan- çamos alguma meta será pelos empurrões e não porque a buscamos com afinco. Ao con- trário,podemos decidir entrar na lida assumindo pessoalmente asnossasresponsabilidades. Tam- bém se não alcançaremos metasextraordinárias, experimentaremos o entusiasmo da caminhada em lugar do tédio de ver a vida passar. No domingo anterior, Jesus nos dizia clara- mente que ele é o caminho, a verdade e a vida. Quem aceita se deixar conduzir por ele pelo caminho encontra também o sentido da vida e aquela luz que desfaz toda escuridão e incerteza. No entanto, devemosreconhecer que andar pelo caminho de Jesus não é nada fácil. Nunca vai ser cômodo ou tranquilo. Pela simples razão que ainda não estamos livres de tentações, que- das e sofrimentosfísicos e, também, espirituais. Cada um de nós deve, de certa forma, desbravar a vereda que se abre a sua frente. Estamos sozi- nhos nesta prova? De jeito nenhum. No evan- gelho de João, deste Sexto Domingo da Páscoa, Jesus promete “outro defensor” que oPai dará porque ele mesmoo pedi- rá para nós (Jo 14,16). Esse “advoga- do” de defesa é o Divino Espírito San- to. Depois, Jesus usa uma linguagem ainda mais familiar e carinhosa: “Não vos deixarei órfãos” (Jo 14,18). Ou seja, desamparados, como quem está tristemente sozinhona vida. Os nossos pais podem não ser perfeitos, mas algo bom sempre doam aos seus filhos. Melhor ainda se, acima de tudo e dos bens materiais, que podem ou não nos oferecer, nos amam assim como nós somos, semelhan- tes e, ao mesmo tempo, diferentes deles. Nos amam sem condições, queixas ou chantagens. Chegamos, assim, ao assunto central do trecho evangélico deste domingo: por duas vezes Jesus repete que quemo ama “guarda”, acolhe e obser- va os seus mandamentos. Jesus não impõe, nos ama e garante nosacompanhar sempre. Somente pede, também,de ser amado. Com efeito,o maior de todos os mandamentos de Jesus é, justamente, o mandamento do amor. Com aquela qualidade especial e exigente que para amar a Deus, que não vemos, temos que amar o irmão que está ao nosso lado (1 Jo 4,20). Para alcançar a meta final do Amor Divino, da Vida plena, temos que saber amar já,por aqui, caminhando, dia após dia.Meta e caminho, então, se confundem? Não. É que o amor é o próprio caminho. Quem não sabe amar não vai acertar a meta porque não quer andar pelo “percurso” certo para chegar lá. mundo católico de hoje se apre- senta como uma vivência bem composta e diversificada na polí- tica. Isto é, os católicos não são unâni- mes em seguir uma única linha política, mas cada um segue conforme o seu modo de pensar e viver. Eu, porém, ten- taria enuclear asexperiências dos cató- licos na política sobre dois pilares que chamariaassim: laicidade/identidade e direita/esquerda. O primeiro pilarcon- juga consciência-liberdade, mediação da identidade-obediência eintegridade. No segundo pilar polariza conservação, ordem, tradição,mercado, justiça, igual- dade, comunidade, inclusão, entre outros. Sãonesses dois pilares que gira o mundo cultural católico no quadropo- lítico moderno. Portanto, diria que existe um pilar de caráter eclesial e outro de caráter civil. E o cruzamento desses dois pilares se divide, por sua vez, em outras dife- rentes posições. A partir daí, podemos constatar, por exemplo, que a consciên- cia da laicidade da política distingue os católicos chamados democráticos dos católicos sociais. Além do mais, em contraposição ao catolicismo democrá- tico se poderia colocar a posição dos católicos intransigentes, que sustentam fé e política em ver- são de saudade da cristandade pré-moderna e refletem umconservadorismo, tradicio- nalismo em relação às ques- tões políticasatuais, modernas. De fato, os intransigentes rejeitam, em geral, a moderni- dade e usam a democracia como lugar para exercitar adefesa de interesses católicos, enquanto sus- tentam uma visão estática, atemporal do corpo social, não obstante que pos- sam ser amavelmente prestativos em relação aos mais pobres. Efetivamente, existem católicos ou crentes que são intransigentes porque acham de encon- trar soluções para os problemas atuais com a ‘própria’ fé,sem se preocupar tan- to em mediações e pesquisas. Quais as consequências de tudo isso? Eu acho que a própria identificação no seu ‘cre- do’ veio se fechando, encolhendo. Sob o aspecto político, ficam parados a for- mas do passado, sem se preocupar às novastransformações da época atual. Essas pessoas têm dificuldades dedialogar, saber escutar. Certa- mente, essa maneira de agir não é muito cristã, não consegue se identificar com o Mestre Nosso Senhor Jesus. Podemos viver o Reino de Deus se tivermos a capacidade e disponibilidade de buscar mediações necessá- rias e, portanto, abertos às cola- borações, procurando o bem possível que nos leva ao bem absoluto que Deus nos doa no seu Reino. Assim sendo, compromissados com as frentes de mudança social, preocupa- dos com a grande desigualdade que está aumentada na nossa sociedade,com- preendemos a necessidade de uma polí- tica que possa melhorar as condições de vida dos cidadãos, sem se deixar atrair pelo mal. É possível isso? Eu creio que sim. Porém, precisamos ser mais atentos em conhecer e aprofundar o nosso ser cristão para fazer uma sériaabordagem no mundo em que vivemos. Não pode- mos admitir ingenuidades nesta atuação. Tudo se deve verificar à luz da história permeada pela Palavra de Deus e pelo Magistério da Igreja.

RkJQdWJsaXNoZXIy NDAzNzc=