Diário do Amapá - 01 e 02/03/2020

/ / / Acaba de desembarcar no Brasil um remédio oral que pode melhorar bastan- te a vida de mulheres com câncer de mama avançado – estima-se que de 20 a 50% delas chegue a essa fase, quando a doença invade outros órgãos. Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o comprimido ribociclibe, da farmacêuti- ca Novartis, mostrou ser um bom inimigo contra o tumor, ao mesmo tempo que provoca efeitos cola- terais aceitáveis. “Ele faz parte de uma classe nova de medica- mentos, que inibe proteí- nas responsáveis por ace- lerar o crescimento celular do câncer”, ensina o médi- co Sergio Simon, presi- dente da Sociedade Brasi- leira de Oncologia Clínica (Sboc). “Com isso, a doen- ça para de crescer e vai regredindo aos poucos”, completa. Segundo Simon, o fár- maco em questão possui uma ação sinérgica com a hormonioterapia. Ambos atuam freando a multipli- cação celular, por dife- rentes vias. Até por isso, ele é indicado em conjun- to com a hormonioterapia. O ribociclibe vira uma primeira opção de trata- mento contra o câncer de mama avançado com receptores para hormônios sexuais (marcados pela sigla RH+) e sem o gene HER 2 (ou HER 2 negati- vo). Essas particularidades são descobertas por meio de exames após o diagnós- tico – e correspondem a 69% dos casos de tumores nos seios, avançados ou não. Benefícios contra o cân- cer de mama em números O remédio, em conjun- to com a hormonioterapia, reduziu em 43% o risco de progressão da doença. Isso em comparação com o uso isolado de hormonioterá- picos. Após oito semanas do tratamento, 76% das pacientes envolvidas na pesquisa que garantiu a aprovação na Anvisa viram seu câncer regredir signi- ficativamente. “Ainda não temos dados de mortalidade, por- que os estudos continuam em andamento, comparan- do mulheres que receberam o ribociclibe com outras que seguem o tratamento padrão”, explica Simon. “Mas é provável que a dro- ga aumente a chance de sobrevida global também”, arremata. No mais, essa nova classe de medica- mentos traz efeitos colate- rais bem mais brandos do que a quimioterapia. Ela pode acarretar, por exem- plo, uma queda no número de células de defesa do organismo. Mas a boa nova é que isso, ao menos nos estudos, não foi associado ao surgimento de infecções graves. E estamos falando de pílulas, mais fáceis de serem administradas do que infusões de quimiote- rapia. Outros membros da turma Poucos meses antes, a Anvisa também aprovou o palbociclibe, da Pfizer. Trata-se de uma opção muito parecida com o ribo- ciclibe, de acordo com Simon. “O mecanismo de ação é similar e os resultados das pesquisas também”, diz o médico. “A opção entre um e outro vai depender mais da disponibilidade do produto, do preço e por aí vai”, conclui. Ter uma opção adicio- nal no mercado pode, por- tanto, baixar o custo des- ses remédios, que não são baratos e, infelizmente, estão longe do sistema público de saúde. Mais: há no horizonte uma terceira medicação com as mesmas caracterís- ticas. Batizada de abema- ciclibe (e produzida pela farmacêutica Eli Lilly), ela já está autorizado nos Esta- dos Unidos. Esse remédio, ao contrário dos dois outros, foi testado com sucesso sem o comple- mento da hormonioterapia – ou seja, será uma alter- nativa para quem não pode recorrer a ela.

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