Diário do Amapá - 15 e 16/03/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / m cristão muito estudado acreditava que a Bíblia fosse verdadeira, ao pé da letra, em cada detalhe. Certo dia, um colega falou com ele e lhe disse: “Segundo a Bíblia, a terra foi criada cerca de cinco mil anos atrás. Mas foram encontrados ossos que demostram que a vida existe sobre este planeta desde muitos milhares de anos”. A resposta do erudito foi imediata: “Quan- do Deus criou a terra, cinco mil anos atrás, ele mesmo escondeu aqueles ossos debaixo da terra, para ver se mais tarde nós teríamos acre- ditado mais nas afirmações da ciência ou na sua Santa Palavra!” Uma pequena história para entender que a Palavra de Deus temmuito mais para nos dizer que simplesmente aquilo que lemos. O que pode parecer uma dificuldade e até nos afastar dela, na realidade descortina para nós hori- zontes impensáveis que descobrimos aos pou- cos no caminho da fé. A partir do Terceiro Domingo da Quaresma, deste ano, encontra- mos três páginas do evangelho de João, que marcam o itinerário da Iniciação Cristã, ou seja, as etapas pelas quais os catecúmenos deviam passar, antes de receber o Batismo na noite de Páscoa. Era necessário que eles reco- nhecessem não somente quem era e é - Jesus em si - mas, sobretudo, quem ele é para cada um de nós. A cada três anos, a Igreja propõe a todos os que já são cristãos estes evangelhos para nos ajudar a reavivar o que aconteceu no dia do nosso Batismo. Naquele d ia, n&oa cute;s, ou, se éramos muito pequenos, os nossos pais e padrinhos, optamos por Jesus Cristo, pelo compromisso de segui-lo junto aos irmãos e irmãs na comu- nidade que, acreditamos, mantem viva a memória dele e celebra a sua presen- ça na história, até a sua volta final. O evangelho de João é o mais ela- borado e o mais simbólico dos evan- gelhos, usa imagens comuns e con- trastes entre elas para nos conduzir a algo mais. A primeira imagem que encontramos, neste domingo, com o evangelho da samaritana é aquela da água. Nada de mais comum e de mais necessário. O próprio Jesus tem sede e pede água à mulher. Esta, por sua vez, foi ao poço para se abastecer de algo que não podia faltar em sua casa. No diálogo com ela, Jesus a conduz a perceber que cada pessoa humana precisa de algo mais do que de uma água simplesmente material. Ou seja: no coração humano tem uma sede que não fica satisfeita somente com a água do poço, ou da torneira, em nossos dias. Basta parar para refle- tir e tudo fica claro. Todo ser humano tem necessidades mate- riais, simbolizadas pela fome e pela sede, mas fica muito empobrecida a sua existência se não tem outros sonhos e desejos, se não tem motivações maiores do que essas simples satis- fações imediatas. Desde sempre, as pessoas buscam um sentido da vida, do seu amar e sofrer, do seu destino, no breve laço de tempo que lhes é dado neste mundo. Sempre, mas muito mais hoje, podemos passar a vida sem nos pôr questionamentos. Os bens materiais, e o primeiro é o dinheiro, nos fascinam tanto que podemos gastar toda a vida só para pro- curá-los. É o consumo. Outros buscam o suces- so, a fama, querem sobressair do anonimato. Outros preferem cuidar da saúde, da bele- za e das aparências físicas. Outros acham que a vida deve ser aproveitada e que o mundo oferece diversões mais que suficientes para isso. Existem, afinal, muitos tipos de &l dquo;dro gas” para entorpecer a nossa cons- ciência e nos fazer sentir na moda, sempre jovens, divertidos e atualiza- dos. Se com tudo isso ficamos satis- feitos, a nossa busca acaba e, assim, acabará também a nossa vida. No entan- to Jesus se revela para a samaritana como aquele que oferece uma “água viva” que, evidentemente, no dizer dele, pode satisfazer de vez aquela outra sede que o ser humano tem, mas que corre o perigo de abafar de baixo de tantas propostas e aparentes novidades. É a sede profunda do sentido da vida, de quem tem a ousadia de olhar além das coisas e das circuns- tâncias imediatas. Cada ser humano não é simplesmente alguém que veio neste mundo para desaparecer e ser esquecido um dia. Cada um tem a possi- bilidade de construir algo bom, de mudar para o bem o que parece errado, de doar algo para ser feliz e fazer felizes os irmãos. É a água viva do amor, da esperança, da fraternidade, que “jorrará” do coração de quem começa a satisfazer a sua sede na fonte de Vida que é o próprio Jesus. Continuaremos nos próximos domingos com as imagens-símbolos da “luz” e do túmulo de Lázaro. Em si, nada mais humilde e simples que a água. Mas ela dá vida e faz florescer o deserto. Quanto mais Jesus, pode motivar a nossa existência e nos conduzir à Vida plena de Deus Pai. s amigos de Belém me mandam continuamente mensagens para ter novas informações do coronavirus aqui na Itália e, ao mesmo tempo, para manifestar preocupações comminha saú- de. Todos me dizem: “Está pegando por aí, e você como está?” Realmente, parece que está pegando. O governo italiano decidiu tomar medi- das drásticas para combater esse novo vírus: quarentena para todos. Na prática se deve ficar em casa, evitar deslocamen- tos, a menos por situações de extrema importância. Tudo fechado, exceto super- mercados e farmácias, mas com as devidas precauções. E, quando sair de casa, deve- se manter um metro de distância de outras pessoas, a fim de não ter contágios. Também a vida da Igreja deve respeitar certas restrições, como a abertura de locais de culto, desde que sejam tomadas medi- das para evitar aglomerações de fieis, isto é, deve ser garantida a distância de um metro entre um do outro. No entanto, as cerimônias civis e religiosas são suspen- sas. Até hoje, 11 de março, na Itália, temos 12462 casos e 827 mortos. Coronavirus não para. Parece que até toda a Euro- pa está numa situação de alarme. Todas as preocupações de merca- do, de estratégias políticas para a conquista de poderes, parecem demolidas nesse momento por esse microscópico vírus. Uma situação de extrema preocupação. As ruas das cidades desertas nos levam a refletir mui- to. Comentava com pessoas daqui que essa situação é pior do que uma guerra, porque naquele caso se pode identificar e reconhecer onde está o ini- migo, mas com esse vírus tão invisível, te ataca e você nem sabe de onde vem e como te deixa. É um inimigo invisível! Pergunto-me: será que o futuro será carac- terizado por esse tipo de guerra? Já fala- mos muito de terrorismo, foi bastante combatido, mas creio que essa situação é um verdadeiro terrorismo. As pessoas, aqui na Itália, estão muito preocupadas e algumas até estão demonstrando sinais de um forte cansaço mental e tristeza. E eu, aqui na minha paróquia de Pian- cavallo, município de Aviano, Nordeste da Itália, estou vivendo um tempo bem monacal, em que misturo ora- ção, contemplação e estudo no silêncio total. No meio de tanta neve, me questiono quando a nossa humanidade pode viver o brilho e a pureza dessa natureza. Quando a nossa vida e o nosso convívio podem parecer a bran- cura da neve? É bom também refletir uma coisa certa: ninguém pode cantar vitória, porque somos todos derrotados e ainda não sabemos como se levantar. A grande verdade: não somos donos de nada. Inúmeras especulações são feitas a respeito, e com as próprias razões, mas a verdade é: por que tudo isso? O ser humano deve conhecer sempre mais, pesquisar sem fim, mas não pode nunca esquecer que a vida é um dom e como tal devemos reco- nhecer o Doador para respeita-Lo e cola- borar com Ele. E isto é possível, mas não é uma receita médica. Agora, a Itália, a Europa passa por esse tempo de prova e deve mostrar toda a sua humanidade gerada pelo verdadeiro Criador.

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