Diário do Amapá - 19 e 20/03/2020
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / abe uma pergunta no início deste artigo que diz respeito a todos os brasileiros. O que dizer de um povoque vive com taxa de 27 milhões de residências sem esgoto, quase metade da população do país? Pois é esta a nossa realidade! As crianças são as maiores vítimas dos des- mandosdosgovernantes,sofrendoenorme mor- talidade. Na outra ponta, o país inteiro vive fugindo de epidemias, como a da febre amarela, que assusta o povo com o temível mosquito Aedes Aegypti. Há tempoa professora ErmíniaMaricato,da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da USP, especialista na matéria, disse que “se você não coleta o lixo, não se salvam os cursos d’água das cidades, e o lixo vai direto para lá”. Nada mais esclarecedora da necessidade de saneamentopara garantir a saúde dos ocupantes desses locais. A professora Ermínia foi além e denunciou que a Prefeitura de São Paulo faz dos riose doscórregoscanaisde esgoto,e para piorar a engenharia ordenou o tamponamento de cór- regos com avenidas asfaltadas em cima. Isso não resolve problema algum. O quadro dramático é este, com abandono das reformas urbanas essenciais para acabar com a desgraça do povo que morre indefeso Presos Vimos o desastre do esgoto no país, e não menos deplorável é a situação prisional, com 726 mil 712 presos, número que vem crescendo de ano para ano, como aconteceu em 18 meses, a partir de 2014,quandosurgiram104 mil novos prisioneiros. A nossa população carcerária é a terceira maior do mundo, atrás, pela ordem, dos Estados Unidos e China, países cujaspopulações somammui- tas vezes a do Brasil. O brasileiro mais simples sabe bem das causas dessa tragédia. Primeiro, a morosidade no julgamento dosprocessos, que não são analisados no tempo devido. Isso revolta oapenadoque passa ser muito mais marginal de que quando entrou no cárcere. Além da morosidade no julgamento dos pro- cessos tem a superpopulação em cada presídio, motivopara levar opresoaodesconforto ereagir. Onde cabem cem às vezes tem trezentos, e assim vai nesta proporção absurda. Enquanto o problema existe, mil outras providências são tomadas pela autoridades, nunca para por fim ao problema. Melhor gastar o dinheiro com outras prioridades em proveito pessoal, e deixar o inferno pegar fogo. OBrasil está numa encru- zilhada e, até agora, pouco se está fazendo para o sol dar um pouco de seu calor aos brasileiros. Constituição Com autoridade de ex Presidente da Repú- blica, José Sarney em seu artigo ‘Raiz da crise’, retratou o que disse há 30 anos, quando foi proclamada a Constituição Cidadã: “O país vai ficar ingoverná- vel”, e continuou: “primeiro há o receio de que alguns dos seus artigos desencorajem a produção, afastem capitais, sejam adversos à iniciativa privada e terminempor induzir aoócio e à improdutividade. Segundo, que outros dispositivos possam transformar o Brasil num país novo, que precisa de trabalho, mas tem uma máquina emperrada e em retrocesso. E que o povo, em vez de enriquecer, venha a empobrecer, e possa regredir,emvez de progre- dir. Sarney foi firme em sua crítica à nova Cons- tituição, e disse mais: “AConstituição,sob opon- to de vista econômico,paralisouo país.É híbrida, parlamentarista e presidencialista. Provocou uma desordem nos poderes, que hoje estão se estra- çalhando, destruiu os partidos e os políticos. Implantouum populismoanárquico, umniilismo que nos levou à corrupção, que invadiu todos os setores do país. A única coisa que se salva é o capítulo sobre direitos individuais e sociais, redi- gido por Afonso Arinos. Hoje vivemos o caos, do qual ninguém vê a saída”. A verdade está aí pra todo mundo nesssa visão de Sarney, em que pese as oposições que possam se insurgir. Armas não matam pessoas, pessoas matam pessoas.” Este mote é repetido cansativamente pela Associação Nacional de Rifles da Amé- rica (NRA, na sigla em inglês) sempre que uma voz sensata se levanta a favor de restrição à venda de armas, até metralhadoras e fuzis de assalto, nos estados americanos que ainda a permitem. Exemplo disso foi a declaração inicial do presidente ameri- cano após mais um dos inúmeros massacres come- tidos em escolas; omandatário circundou a questão da facilidade com que as armas usadas foram com- pradas e disse que seu governo trataria com mais rigor as doenças mentais que seriam – apenas elas – a causa da tragédia. Traduzindo: o assassino matou por ter um “problema”; o fato de poder se armar pesadamente, mesmo tendo um “problema”, não tem a menor importância. Infelizmente, esses tiroteios tornam-se constantes naquele país e cau- sam dezenas, centenas, de mortes estúpidas todos os anos. Não podemos negar, no entanto, que nós, bra- sileiros, sofremosum númeromuito maior de assas- sinatos anualmente e, ainda que tenhamos uma legislação restritiva à compra e porte de armas, isso não intimida os criminosos que as trazem em quantidades industriais do oriente, da Rússia, de qualquer um dos muitos lugares em que se deseja o lucro fácil. As mortes por arma de fogo que enfrentamos decorrem de assaltos, guerras de quadrilhas, ajustes de contas, imperícia, e até mesmo deste absurdo denominado “bala perdida” (poderíamos dizer aqui que balas não se perdem nem matam pessoas, pessoaso fazem).E temos também, para nossa infelicidade, as cha- cinas, como aque vitimoucriançasnuma escola do bairro do Realengo, no Rio, em2011; asmatanças periódicas de gru- pos em periferias; omassacre doCaran- diru, em 1992; e muito mais. AquienosEstadosUnidososmotivos determinantes destas desgraças são vários, complexos, imprevisíveis e com frequência foradequalquer controle. Épueril afirmar que sóocorremporqueosresponsáveisestãoarmados, masemmuitasdelasosdanospoderiamsermenores, se menor fosse o poder de fogo envolvido. Há três tipos básicos de portadores de armas de fogo: os profissionais – militares, seguranças, policiais –que supostamente têm treinamento cons- tante para seu uso e estabilidade emocional para isso, embora os fatos demonstrem que nem sempre é assim; os ilegais: assaltantes, traficantes, seques- tradores, terroristas, pessoas que não têm muito a perder e nenhum pudor de atirar para matar; e os amadores: quem tem arma, geralmente legalizada, para proteção individual e de suas famílias; muitos sabem atirar e acreditam que o ambiente de um conflito armado é semelhante ao de um estande de tiro, quando a realidade brutal costuma mostrar a diferença. O presidente americano lançou mais uma das suas tiradas, que umex-governador carioca chamaria de “factoides”: propôs que profes- sores tivessem armas, treinassem seu uso e estivessem prontos a defender seus alunos a bala! Até ganhariam um adicional em seus salários pela dupla função: mestre e pistoleiro. Seria cômico se não fosse trágico, diriam todos os filósofos de todos os botequins do planeta. A antítese de absolutamente tudo o que se possa pensar como processo edu- cativo seria a presença de armas destinadas a docentes no ambiente escolar em qualquer país. Segurança é constitutivo do processode aprendizagem, mas imaginar um professor por- tando armas, treinando para manuseá-las, enca- rando criminosos nos tiroteios em meio às crianças ou jovens é de um nonsense absoluto, o oposto de todas as mensagens, exemplos, ensinamentos, teo- rias, práticas que ele pudesse transmitir aos seus alu- nos. Em particular no Brasil, teríamos adicionalmente a grande probabilidade de que bandidos invadissem a escola para roubar o armamento, colocando a comunidade escolar em risco ainda maior. Mas em qualquer nação, todos os discursos, englobando des- de uma degradação da própria civilização, a perda da cultura e a dissolução dos costumes, como justi- ficativas das violências escolares, a disseminação do uso de armas como forma de resolução de con- flitos, certamente não seriam solucionados com o armamento de professores.
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