Diário do Amapá - 19 e 20/03/2020

/ / / / nenhumaquestão fez. Para que Getúlio Vargas organizasse o antigo Território do Acre. Naquela época, Cruzeiro do Sul vivia isolado. A não ser o contato radiotelegráfico, ascomunicaçõescomaquelacida- deerampenosas, tardandoodesenvolvimento,daquelaregião distante. As operações comerciais, os depósitos bancários, a edu- caçãoginasial,o tratamentodesaúde, tudoerafeitoemManaus e Belém. Destinados a um cruel isolamento, os habitantes de Cru- zeiro do Sul, ficavam como degredados, perdidos no imenso inferno verde, cercado de água por todos os lados. O rio a conspiradoravia natural, roubava o maisprecioso dosbensda vida econômica: o tempo. A malária naquela épocadizimava apopulação. A nossa famílianãoficouimuneàquelaendemiainsidiosa.A lepraque hojeéhanseníase, castigavaapopulação. A pobreza eamisé- ria, não perdoavam ninguém, dizia-se que quem chegava ali, chegava no inferno. Quantos seringueiros valentes, quantas senhoras virtuosas e não sei quantas crianças com um futuro brilhante, tomaramnãocafé,maiságuacomfarinhapelamanhã, com os seus familiares e à noite ceiavamcom seusancestrais na outra vida. Ascondiçõesdaspessoaseramdeploráveisdesever.Elas adoeciam ascentenas diariamente, e morriam abandonadas e semassistência.Meupaiconseguia levaralgumconsoloàque- las almas destinadas ao abandono. O único enfermeiro do lugar desdobrava-se para levar a pílula dequininode casaemcasa para intoxicar e tentar debe- lar o “Plasmodium falciparum”. Meu irmão mais velho, contava que era chamado ir ao mercado comprar manga verde e pelo menos víscera de por- co, pelo meu pai. Aquilo que se chamava mercado ficava em baixo de uma ladeira, à margem do Rio Juruá. Depauperado, tinha uma imensadificuldade deacordar. Tomava a sua cesta ecaminhava.Logodepoishaviauma ladeira,apósalgunsminu- tos de caminhada lenta e preguiçosa, chegava ao dito merca- do. Compravaum tostãodemangaverdee50cruzadosdevís- cera de porco. E punha-se em caminhada de volta. O proble- ma era a subida da ladeira. Dizia ele que com muito esforço, subiaamesma.No toposentava-se.Faziaalgumasbolinhasde barro vermelho convidativo, e comiaasmesmas, para encon- trar ânimo, e chegar em casa. Era a verminose, tão comum naquelasparagens,queprovocavaodistúrbioalimentar.Na ten- tativa de reparar o ferro espoliado do seu organismo acometi- do de uma anemia pertinaz que o ancilóstomo provocara. HojeCruzeirodoSul,não éamesma. Masali já foiopur- gatório perdido. á andei peloscaminhosdaAmazônia. Jánaveguei no Rio Amazonas pelo menos quatro vezes de Belém a Manaus e deManausa Belém. Já viajei no Tapajós, deSantarémà Itaituba. Já percorri a vela o Rio Parnaíba. Andei em lombo de boinospântanosdoAcre.Percorriascaatingasdonordestecaval- gandoemumjumento, jáfuide tremdeTeresinaaSãoLuis.Mas, quero falar de uma viagem fluvial pelo Juruá. Éumafluente da margemdireitado RioAmazonas.Estendepreguiçosamentedo Estado do Amazonas até ao Acre. Parece que aquele rio ainda busca o seu estuário. Éumaverdadeiraserpentedeáguaqueseenroscana floresta e serpenteia em meandros sem fim, percorrendo um curso de 1980 quilômetros. Emmuitos trechos chegaatingir 8 metros de largura, tornando a navegação atravésdele uma verdadeira arte de navegar. Na década de 40, singrei aquelas águas em uma chata de rodas, movida à caldeira, cujo combustível era a lenha. Um dia saímosde Manausparamorar emCruzeiro do Sul, no Acre. Meupai,comomissionárioeradesignadoparaaquelaspara- gens, que ninguém desejava ir. A viagem de Manaus a Cruzeiro do Sul, era um verdadeiro teste de paciência. Quarenta diasseparava acivilização, da per- didavila incrustada na imensa florestaverdeamazônica. Aque- le pedaço de terra esquecido foi arrancado do Amazonas, que Macapá monitora42novoscasossuspeitosde Coro- navírus, que foram atendidos em UBSs, realizaram coleta de exame para a detecção da síndrome respira- tória. Com outros oito casos registrados na plataforma do Ministério da Saúde, sobe a 50 os casos suspeitos. ConexãoBrasília.com

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