Diário do Amapá - 29 e 30/03/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br / / ma centopeia passeava feliz pelo chão de baixo das árvores da floresta. Alguém lhe perguntou: “Qual é o pé que você move primeiro?”. A centopeia ficoupensativa, depoiscomeçou a ficar preocupada. Juntou dúvidase mais dúvi- das. Não teve mais coragem de caminhar. Sem mais forças, morreu ali mesmo. Se tivesse dei- xado de se preocupar inutilmente e começado a caminhar, estaria ainda viva. Chegamos aoQuinto DomingodaQuaresma deste ano, a última etapa do caminho dos cate- cúmenos rumo ao Batismo, na noite de Páscoa, e encontramos o evangelho de João conhecido como a “ressurreição” de Lázaro. Sabemos que, propriamente, o de Lázaro é um retorno a esta vida mortal, algo extraordi- nário, sem dúvida, mas nada mais. No entanto esta “ressurreição” é o último dos sinaisdoevan- gelho de João antes da “hora” da paixão, morte e – esta sim, única e verdadeira – ressurreição de Jesus.Tudo para nos ajudar a acreditar,como Marta, que ele mesmo, Jesus, é “a ressurreição e a vida”. Podemos até chamar a “ressurreição” de Lázaro de “milagre”, mas isso não interessa muito aoevangelista João,porque par a entender os “milagres” de Deus antes precisa acreditar nele. De outra forma, encontraremos outras explicações ou ficaremos mesmo na dúvida. A fé é um dom do próprio Deus e que deve- mos pedir com humildade e confiança. Nunca teremos provas cabais para nos obrigar a acre- ditar. Devemos correr o risco, mas vale a pena; o que está em jogo não é sim- plesmente esta vida que experimenta- mos neste mundo, mas aquela Vida plena que, justamente, somente Deus, o Senhor da Vida, pode nos dar. Tal- vez, nessa página do evangelho de João, esteja escondido o segredo. ConhecemosMarta eMaria,asduas irmãs, tambémpeloevangelhodeLucas. DeLázaronãosabemosnada,oque fazia na vida e ele nunca fala. EmBetânia, Jesus encontra uma família toda especial, na qual não tem pai e nem mãe, somente irmãos. Uma claraantecipaçãoda nova “comunidade” deJesus onde todos devemos nos considerar irmãos. No meio de tantas divisões na sociedade e de famílias onde até os parentes próximos, às vezes, tratam-se como estranhos, este já é um sinal de “vida nova”. Mas tem mais. Lázaro, Marta e Maria são chamados de “amigos” de Jesus. Ele mesmo chama Lázaro de “nosso ami- go”. Todos, também,consideramque Jesusama- va muito Lázaro e o veem chorar emocionado pela morte dele. Em outras partesdoseu evangelho,João cha- ma João Batist a de &ld quo;amigo do noivo” (Jo 3,29) e, durante a última ceia, faz dizer a Jesus: - Eu não vos chamo servos...Eu vos cha- mo amigos (Jo 15,15). Isso depois de ter dito também que “Ninguém temmaior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos” (Jo 15,13). Temos, portanto, algumas palavras chaves para entender a “vida nova” que Jesus quer nos doar: fraternidade,amizade e, obvia- mente, amor. Sãopalavras,certo, massão,sobre- tudo,escolhas,atitudes, laçosde novos relacionamentos,sinaisde uma huma- nidade renovada, reconciliada com Deus e entre si. Se o pecado divide, se o ódio de Caim teve como fruto a morte de Abel, a vida doada de Jesus vai gerar uma “vida nova” feita de relações fraternas, promotoras de vida e não mais de morte. Nós cristãos não acreditamosna ressurreição só para o outro mun- do, após a morte.Já aqui, neste mundo,é possível e deve começar a vida nova do Senhor. Na sua Páscoa, ele nos amou até o fim e Deus Pai o res- suscitou para nós acreditarmos que somente o amor é o caminho da vida nova. As Comunidades dos discípulos de Jesus são chamadas a viver a fraternidade, a amizade e o amor entre si,não porque se fecham sobre si mes- mas, mas para proclamar, com as próprias vidas, que é possível algo verdadeiramente novo neste mundo. Tudo isso é mais forte do que a morte, porque tem comogarantiaopróprioamorsem fimde Deus Pai,reveladoemanifestadoparanósnoFilhoJesus. Depois de ordenar a Lázaro para sair do túmulo, Jesusmandaque o libertemdasmortalhas eo dei- xem caminhar. Agora Lázaro e todos nós conhe- cemos o Caminho da Vida. Devemos trilhá-lo, confiantes, se não queremos morrer à toa, como a centopeia. É um risco que vale a Vida. Quantas pessoas me perguntam: ‘por que existe o mal? Por que o mal toma conta da gente? Por que não somos livres do mal? De onde ele vem?’ Essase outras perguntas se tornam persistentes no relacionamento com as pessoas. São pessoas que buscam respostas sobre a dor da vida, da vida de tantos inocentes e do mal que toma conta do mundo. Neste tem- po, desta grande calamidade do coronavírus, mais uma vez surge a pergunta: ‘por que tudo isso? Por que todo esse flagelo?’ Eu creio que a humanidade não entendeu, efetivamente, sua própria origem e seu destino. Se tivesse consciência disso, talvez tivesse com- portamento diferente. Ummundo feitode tantas concorrências, de quem chega primeiro a ter mais poder, a ter mais ganância, tudo vale para fazer prevalecer a própria força, conquistas e domínios, um mundo de títulos e honorarias, denota quanto estamos longe da lógica que o nosso SenhorJesusCristonosrevelou edemons- trou. Em poucas palavras,podemosdizer que este mundo ao qual pertencemos é muito distante da lógica do Reino de Deus. E, se estamos distantes, viveremos uma realidade longe de Deus e, assim, de uma ver- dadeira humanidade. É o Reino de Deus que promove o ser humano e não a lógicae estratégias doshomens. Toda vez que o poder humano se afasta dessa lógica de Jesus Cristo se torna um ser perdido. Todo esse mal que está perseguindo a nossa convivên- cia humana éum real testemunho da nos- sa perambulação em nada. Quer ver uma prova disso? Com esse ataque violento do coronavírus, devemos evitar conta- tos, ter isolamentos, ficar mais sozinhos e sus- peitar um pouquinho de tudo. Estamos cada vez mais sozinhos. E essa solidão nos desnuda de tudo, tanto que em alguns leva a dar sinais de desequilíbrio. Perdemos a ligação com a verda- deira lógica de ser que provém do nosso Criador. Eu aprendi a minha verdadeira humanidade, fazendo a experiência de Deus na minha vida. Não aprendi nossupermercados,nos comércios da vida enasretóricas dospoderese nos palácios dos poderosos. É na oração que podemos viver pro- fundamente o nosso ser humano.Gos- tei dessas palavras do papa Francisco que pronunciou no dia 20 março 2020: "Vem-me em mente os após- tolos na tempestade que invocam Jesus: ‘Mestre, estamos nos afogan- do’. A oração nos faz compreender a nossa vulnerabilidade. É o grito dos pobres,dos que estão se afundando,dos que se sentem em perigo, sozinhos. E numa situação difícil e desesperada, é importante saber que existe oSenhor a quem nós podemos agarrar". E Deus "nos apoia de muitas maneiras". Ele nos dá força e proximidade, como fez comos dis- cípulosque na tempestade pediam ajuda.Ou quan- do deu Sua mão a Pedro que estava se afogando. A nossa vida para ser VIDA não pode se desligar DELE, o nosso Criador. Uma criatura que fica longe do próprio Criador se perde. Precisamos rever todo o nosso modo de pensar e de agir para entrarmosna lógicaqueoJesusCristonosensinou. E daí que teremos capacidade de enfrentar uma vida de peregrinos nesse pequeno planeta terra.

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