Diário do Amapá - 30/03/2022

Q uem disse que não podemos viver em uma grande mentira? Na ϐicção e na vida real, somos lançados a mentiras rotineiras que, de tão massacrantes, podem virar ver- dades absolutas. E parece ser assim com o sistema público de saúde amapaense: uma ver- dadeiramatrix, onde temos a sen- sação de viver emmundoparalelo, emque, cada vezmais, uma rotina tão cruel traz dúvidas se estamos vivendo no “mundo real”. Criado com a Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde – SUSpassoupormuitas provações, mas já coleciona louros, inclusive com reconhecimento interna- cional. Apesar do orçamento limi- tado e do imenso desaϐio, a saúde pública brasileira vem melho- rando país afora. Já o Amapá parece fugir totalmente à essa regra desde os primeiros dias do SUS P . ara entendermelhor, imagine que você venhaa sofreruminfarto no coração e resolva procurar o Hospital de Emergência de Macapá. Lá, será atendido por vários proϐissionais desestimula- dos, seja por salários atrasados, condições de trabalhoou, simples- mente, por não verem resultados efetivos no seus esforços. Após avaliaçãomédica, receberá a notí- cia de que vários exames não serão realizados e de que você será enviado para algumcorredor ou mesmo para sala de espera, já que o maior hospital de urgência doestadonãopossui uma simples sala de emergência, onde pa- cientes graves (comoaqueles com infarto, AVC, sepse e acidentes graves possamser atendidos ime- diatamente). Caso o único apar- elho de eletrocardiograma do hospital não esteja quebrado, al- guém reconhecerá que você não estará bem e pedirá uma vaga de UTI que, provavelmente, será ne- gada já que oestadopossuimenos de 20 leitos de UTI, quando deve- ria ter cerca de 720 vagas (sim, possuímos menos de 3% da ne- cessidade de leitos de UTI). Mas você é uma pessoa de sorte! E chegará logo após dois óbitos na UTI e conseguirá uma das vagas. No caminho até seu leito, perceberá corredores estre- itos, sujos, materiais sucateados e quebrados. Na UTI, estranhará leitos próximos, sem isolamento, ausência de materiais simples como luvas, álcool sondas, cateteres e, até mesmo, medica- mentos básicos. Estranhará o fato de todos escreverem à mão e perceberá que ohospital, simples- mente, não é informatizado, logo não poderá haver controle algum sobre estoques demedicações, in- sumos, materiais.... tudo! Será avisado que o melhor para você seria a realização de um cateter- ismo, que o governo não possui e que, com sorte, conseguirá fazer no único aparelho do estado, que ϐica emhospital privado. www.diariodoamapa.com @diariodoamapa @diariodoamapa

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