Diário do Amapá - 22 e 23/10/2023
Consultório Psiqué - Avenida FAB, 1070 - Sala 306 - Edifício Macapá Office - 98127-0195 www.diariodoamapa.com @diariodoamapa @diariodoamapa E stamos atravessando uma crise, e com ela uma avalanche de preocupações. A apreensão acerca do dinheiro vem no topo das inquietações que assola a mente humana. Aϐinal, o dinheiro tem signiϐi- cado tanto em nossa realidade quanto no nosso imag- inário. Quem nunca divagou horas, pensando o que faria se ganhasse na loteria? A forma como nos rela- cionamos com o dinheiro e com os ideais de satisfação que acabamos projetando nele, determina o excesso de ansiedade que passamos a experimentar. Muitas vezes, antes mesmo que "a crise" nos al- cance, já formulamos perguntas como: O que vou pre- cisar mudar? Vou ter que abrir mão de quê? Quanto tempo isso vai durar? E assim por diante. E justamos o ter em detrimento do ser. Não podemos negar que existem aspectos práticos na vida, que precisamos planejar e nos organizar. Porém, a forma de se rela- cionar com o vil metal pode, muitas vezes, mesmo que inconscientemente, fazer com que nós passemos a colocar preço em tudo. Pagar minha ausência, com presentes para meu ϐilho, manipular as pessoas com o meu poder de compra, achar que as pessoas só irão gostar de mim se eu presenteá-las, que só terei re- speito se possuir o último lançamento de celular, só serei bem atendido se eu estiver vestido com as grifes e marcas da moda, e assim por diante. Desta forma, a linha entre ter e ser vai ϐicando cada vez mais tênue. Freud chamou a atenção sobre a relação do din- heiro estar intimamente ligada aos primeiros anos de vida, pelo fato da criança aprender a negociar o afeto da mãe, e que isso inϐluenciaria, na forma como lidare- mos com o dinheiro no futuro. E assim, medo, desejo, ansiedade, são prejudiciais à vida. E com isso, muitos acabam usando do poder aquisitivo como forma de compensação para a solidão. Comprando alguém para nos fazer companhia, por exemplo. Quantas vezes já ouvimos alguém dizer que a mel- hor terapia é ir às compras? O consumo desenfreado acaba por nos reduzir ao TER. E assim, quando paramos para analisar mais intimamente esses dois verbos tão presentes em nossas vidas, acabamos nos deparando com um SER completamente apagado num mundo de aparências. O TER, está ligado ao mundo externo, reduzindo-se ao que possuímos, o que acaba trazendo status e fama, satisfazendo nosso ego. Diferentemente, o SER enfoca o nosso mundo interno, e quando nos damos conta de nossos sentimentos e sensações, acabamos nos aprox- imando do ser. Isso mesmo! Ser e sentir estão correla- cionados. A necessidade excessiva de ter acaba reduzindo o ser, e assim deixamos o que nós possuímos tomar conta de tudo, acabando por sucumbir o ser. A busca pelo ex- cesso nos aprisiona em ummundo ligado ao exterior. E a liberdade está justamente pautada no compartilhar, dar e amar. Embora, na atualidade, esteja muito diϐícil deϐinir as relações que estabelecemos com os outros, com as coisas que possuímos e, principalmente, com nós mesmos. Se conseguíssemos deϐinir isso, enten- deríamos a diferença entre SER e TER. █
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