Diário do Amapá - 24 e 25/09/2023

Consultório Psiqué - Avenida FAB, 1070 - Sala 306 - Edifício Macapá Office - 98127-0195 www.diariodoamapa.com @diariodoamapa @diariodoamapa P ara muitas pessoas, as redes sociais acabaram se transformando num verdadeiro reality show, onde o usuário precisa e sente a necessidade de postar todos os passos de seu dia a dia. Desde o acor- dar até ao dormir, e mesmo se tiver com insônia comu- nica a todos. Faz check-in de todos os lugares por onde passa, inclusive sua própria casa. Em questão de segundos, sabemos quem está em Paris, quem recebeu uma promoção, quem trocou de carro, quem se delicia com aquela sobremesa maravil- hosa, quem mudou seu status, enϐim. Tem também aquelas personalidades que insistem em mostrar um mundo de extrema felicidade, onde tudo é belo. Já há outras que postam suas tristezas, dissabores, raivas, e tantas outras coisas que sabemos o tempo todo, em tempo real, como aquela pessoa está. Outros utilizam-se das redes sociais para excluir, blo- quear, não curtir, não comentar, mostrando sua in- diferença pela pessoa que se quer afetar. E olha que emmuitos casos acabam conseguindo. Temos oportu- nidade de ouvir no consultório, o quanto a pessoa ϐicou magoada e ofendida por ter sido excluída ou blo- queada por um amigo, chegando ao ponto de trazer sofrimento tão grande, onde o indivíduo acaba re- moendo aquele sentimento por dias, meses e até anos. Nesse caso, deϐinitivamente a pessoa que excluiu ou bloqueou acaba por ter êxito em seu objetivo, que foi fazer com que o outro sentisse a exclusão como se fosse uma verdadeira agressão. Quem nunca teve oportunidade de observar dis- cussões homéricas, onde ofensas são ditas, palavras colocadas, sem qualquer preocupação. Pelo contrário, tem o intuito de ofender mesmo. Muito comum isso, nos casos de política. Mas também tem aqueles que utilizam as redes sociais como meio de informação, de dividir conhecimento, de incentivar, de compartilhar mensagens de otimismo, enϐim, de divulgar algo com o intuito de levar ao público algum beneϐício para tod N o ã s o . podemos esquecer que há aqueles que sentem medo. Possuemmuita vontade de postar também suas fotos, mas têm medo de provocar inveja. Já que ele mesmo sente inveja das postagens que observa, e acaba achando que sua vida não é tão boa assim, como a de seus amigos. E assim se utilizam do famoso bor- dão: "quanto menos pessoas souberem de minha feli- cidade, mais sucesso terei", como mecanismo de defesa para sua falta de coragem. E o fato das redes so- ciais potencializarem o exibicionismo, acaba acio- nando no invejoso o botão da visão, onde ele assiste à suposta "vida perfeita" do outro. A inveja, como já tratamos em edição anterior, é um tabu social, tida como um dos pecados capitais, e dessa forma acaba sendo negada por muitos. A exposição pública constante pode ser interpre- tada como uma necessidade de autoaϐirmação. Emb- ora ela passe a imagem de uma pessoa bem sucedida, talvez não tenha a autoestima tão elevada. Em contra- partida, perder horas do dia, vendo o que as pessoas fazem ou possuem, pode ser uma forma de alienação para não encarar sua própria vida. Que os estímulos alheios sejam aliados para que nos impulsionem a querer coisas melhores, a fazermos escolhas mais assertivas e assim termos consciência do que somos, do que temos capacidade de ter, do que realmente queremos, e o principal, sabermos de nos- sas limitações diante de nossos desejos. E dessa forma não entrarmos na fantasia do outro. Dessa forma, não precisamos excluir ou bloquear aquela pessoa que pode fazer compras em Paris ou que suas postagens são muito curtidas e comentadas, e assim conseguire- mos separar realidade de fantasia, permitindo-nos lidar melhor com os sentimentos negativos experen- ciados nas redes sociais.█

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