Diário do Amapá - 08 e 09/12/2024

á entramos no Advento e começamos a ouvir os sinos do Natal — para mim uma festa de alegrias contidas, com o saibo das ausências —, e a minha memória me convida a pensar em Frei Agostinho, a quem ouvia todo domingo, assistindo à sua missa na pequena e modesta Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Lá encontrávamos sempre dezenas de pedintes e pobres que eram de sua assistência. O IPHAN e a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico, sob o comando caridoso de Kátia Bogéa — essa brilhante mulher que fez a restauração de muitos monumentos históricos do Maranhão e continua nesse amormaior construindo oMuseuNacional doAzulejo, no belo prédio de 200 anos chamado Solar dos Tarquínios —, recuperaram a igreja, que teve o seu altar-mor todo res- taurado. Ali está guardada a mais bela imagem de São Benedito. Agora meu pensamento, ao ouvir os sinos do Natal, me leva a Frei Agostinho, que rezava a missa já com intimidade com Deus, o que lhe fazia erguer lentamente a hóstia e o cálice durante a Eucaristia. Era um franciscano entre a vida e o Eterno. Nascera às margens do Lago de Como, de onde saiu para o Maranhão, nos anos 1920, na missão de evangelizar. Caminho igual ao dos capuchinhos mandados por Maria deMédicis, 300 anos antes, para converter os índios, afastá- los do Diabo, que foram os primeiros pregadores na Ama- zônia. Frei Agostinho parecia um deles, queimando suas bon- dades — como dizia Caminha — para afastar o Demônio e o pecado. Atravessou o tempo, assistiu aoConcílioVaticano II e não abandonou suas sandálias de couro, sua batina de brimmarromcomcordão de corda branca, seu cruciDxo de madeira, sua barba longa e branca, mais pobre e sofrido que as cabras. Durante oitenta anos, catequizou e converteu almas. Construiu muitas igrejas, em torno das quais as cidades nasceram, a maior delas em Imperatriz, no tempo em que a vila era apenas um pouso. Frei Agostinho despiu-se de pátria e família por amor a São Francisco e a Deus. A voz mansa, os olhos já fundos eram como poços sem água, onde as lágrimas, pelo tempo, secaram. Era um frade simples, sem misticismo, sem apelações. Foi envelhecendo, suas missas já eram cansadas e sua voz vinha lenta. Mas, de repente, de seus lábios brotavam os movimentos, como falavamos profetas. Comgrande Drmeza, descobria no Evangelho argumentos, ensinamentos, con- clusões. A missão da Igreja era anunciar a Vida Eterna. Nada da Igreja da Libertação. Sua Igreja era a igreja da oração. Saíamos de sua missa invadidos de Paz. Seu corpo acabou. Caiu, sua coluna sofreu, dobrou-se no sofrimento. Sempoder mais ser o apóstolo das selvas, foi recolhido ao Convento do Carmo, em São Luís, só com sua dor e as lembranças demissionário. Deram-lhe como tarefa ser o confessor da velha Igreja do Carmo. DonaCotinha fora encarregada de buscar Frei Agostinho para, aos domingos, celebrar a missa dos pobres na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, igreja pequena, feita por doação de escravos. Pobre, sem ouro, prata ou talha. Despojada, paredes brancas e lisas. Frei Agostinho vinha curvado, arrastando os pés, trôpego, com os olhos de dor. Recebia apenas uma pequena espórtula. Uns pobres meninos de rua o derrubam para roubar. Aumentam seus sofrimentos. Um irmão manda buscá-lo para morrer na Itália. Frei Agostinho embarca, apoiado em sua bengala, cercado das lágrimas e dos Déis que lhe queriam bem. ADrma: “Viajo amargurado. Minhamorte serámais sofrida. Queria Dcar no Maranhão.” Lembro-me de quando estávamos preparando a Festa do Natal e, durante a missa, o celebrante, o reitor do Convento do Carmo, anunciou: —Quero dizer aos Déis que Frei Agostinho, pelomilagre da saudade, estámelhor e quer voltar aoMaranhão. Chegará no dia 8 de janeiro! Nossos sinos do Natal ainda têm o som das barbas desse frademissionário que renova omilagre da ressurreição na sua volta para Dcar conosco na terra do seu amor e do seu sofrimento. Como o PadreVieira, que tanto castigou comsua palavra de fogo o Maranhão, quando lhe perguntaram onde queria morrer, respondeu: —No Maranhão! ■ Natal com barbas de frade E-mail: j.sarney@uol.com.br Ex Presidente do Brasil JOSÉSARNEY J A RÁDIO O JORNAL AGORA WEBTV Luiz Melo |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 08 E 09 DE DEZEMBRO DE 2024 FALECOMOLUIZMELO E-mail: luizmello.da@uol.com.br Blog: www.luiz melo.blog.br Twitter: @luizmelodiario Instagram: @luizmelodiario© 2018 3 FROM RAPIDINHAS BOA! - Magistratura brasileira, conforme revelado em recente evento do Poder Judiciário, tem 38% dos seus postos ocupados por mulheres. Quer dizer, é um segmento que em tese não precisaria de estabelecimento de cotas para ocupação de cargos. ■ SOLIDARIEDADE - Em encontro nacional de deputados estaduais, no Rio de Janeiro, presidente Alliny Serrão (Alap) foi distinguida por homenagem que exaltou a solidariedade do Poder Legislativo amapaense aos atingidos pelas fortes alterações climáticas no RG do Sul, recentemente. ■ No topo Com raizes no Amapá, desembargadora Sulamir Monassa é empossada presidente do TRT-8 para o biênio 2024- 2026. Sexta, 6, no auditório Aloysio da Costa Chaves, prédio-sede do TRT-8, em Belém do Pará. Inelegível, mas ainda negando já ter substituto para o seu nome, em 26, Bolsonaro reafirma: “O plano A sou eu, o plano B sou eu e o plano C sou eu”, disse à Rádio Gaúcha, recentemente. E pronto. Senador Randolfe tem trabalho a comemorar pelo muito que fez pelo Amapá em 2024, ao destinar nada menos que R$ 160 milhões para o governo estadual, Macapá e outros 15 municípios - além de instituições, como Unifap, Instituto Federal do Amapá, Dnit e Funai, entre outras. Dever cumprido Com proximidade da diplomação dos eleitos em Macapá - dia 19/12 - candidatos correm contra o tempo. Há pendências a resolver, principalmente para comprovar gastos eleitorais e garantir a aprovação das contas. E devolver dinheiro recebido do Fundão, nem pensar. Aliás, ficaria bem mais fácil se o eleitor passasse recibo de venda. Né? Compra e venda “Estar no Amapá é mergulhar na essência da Amazônia. Muita cultura, riquezas naturais e uma história conectada à terra e ao seu povo.” Da atriz Giovanna Antonelli, quando contemplava o majestoso Rio Amazonas, sexta 6, em Macapá. Encanto Mulher Ivana Cei, procuradora de justiça do MP do Amapá, hoje alcança reconhecimento em todo o país como integrante do CN dos Ministérios Públicos, ouvidora do mesmo colegiado, e ainda presidente da Comissão do Meio Ambiente do Ministério Público Brasileiro. Presença Representando o Sebrae e Davi, Josiel Alcolumbre também esteve na posse de Sulamir Palmeira Monassa como presidente do TRT-8 - na sexta, 6, em Belém do Pará. “O Amapá não é coadjuvante quando se trata de competência. A posse de Sulamir reafirma que nossa terra forma líderes para ocupar lugares de destaque nas instituições. Desejo muito sucesso”, disse Josiel. Tudo Eu Para refletir Uma rápida pausa na produção do ‘Viva o Rádio’, neste sábado 7, na Diário FM, para mútuos afagos com Ivana Cei, ex-Procuradora do MP/AP, e hoje integrante do CN dos Ministérios Públicos, ouvidora, e ainda presidente da Comissão do Meio Ambiente do Ministério Público Brasileiro. Mulher amapaense que muito nos orgulha, sinceramente. Exemplo Em casa Davi Alcolumbre em Itaubal para a entrega do residencial Gilberto Miotto. “É o sonho da casa própria para 62 famílias do município”, disse. Trabalho do mandato dele [Davi] em parceria com a Prefeitura de Itaubal. Luto Aos 90 anos, morre Hercílio da Luz Mescouto. Engenheiro, foi o 1º presidente da Emdesur (já extinta), época em que Murilo Pinheiro era prefeito de Macapá. Também é dele o projeto original do prédio-sede da TV Amapá, no Buritizal, dentre outros.

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