Diário do Amapá - 15 e 16/12/2024
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 15 E 16 DE DEZEMBRO DE 2024 2 C erto dia, a discussão entre as sementes de uma árvore tornou-se mais aca- lorada. Era natural, pois colocava-se uma questão fundamental a todas: O que devo fazer? Os frutos estavam maduros e as sementes tinham que decidir sobre o próprio futuro. Uma semente dizia: - Daqui não saio, estou tão bem aqui. Uma outra rebatia: - Mas não percebes que se não saíres daqui e não caíres na terra, nunca serás uma árvore? Por fim, tomaram a decisão de se deixar cair por terra, perto da árvore a que pertenciam. Porém uma daquelas sementes recusou-se. Não aceitou cair no mesmo lugar. E dizia para si: "Por que eu deveria cair aqui onde o sabor do fruto ao qual pertenço já é conhecido? Prefiro cair num lugar onde o sabor não é conhecido; assim serei uma grande novidade". Pensando dessa forma, esperou uma forte rajada de vento e lançou-se no ar, indo para além dos limites de onde nascera. No evangelho de Lucas do Terceiro Domingo de Advento encontramos João, chamado “o Batista” porque batizava as pessoas nas águas do rio Jordão. O batismo de João era umgesto de conversão e penitência. Asmultidões o procuravam e perguntavam: "O que devemos fazer?" (Lc 3,10). O Batista tinha uma resposta para todos e para alguns grupos específicos. Ao povo em geral ele pedia que praticassema partilha do necessário para todos: comida e roupa. Aos cobradores de impostos pedia que prati- cassema justiçanão cobrandomais doque o estabelecido. Enfim, aos soldados pedia que não se aproveitassemda força da armas para extorquir dinheiro e que não espa- lhassem o medo com falsas acusações. Era um tempo de grande expectativa e vendo toda aquelamobilização o próprio povo se perguntava se João não seria o messias tão aguardado. OBatista responde claramente que não era o messias. Explica que o batismo dele era de purificação e que devia chegar outro “mais forte” do que ele que batizaria “no Espírito Santo e no fogo” (Lc 3,16). Commuita humildade João, o Batista, reconhece não ser digno nem de servir aquele que estava para chegar. O evangelista Lucas aproxima bastante a pregação do Batista aos ensinamentos de Jesus e diz que o precursor “anunciava de muitos modos a Boa-Nova ao povo” (Lc 3,18). No entanto, não pode silenciar as dife- renças entre os dois. Comefeito, João, o Batista, convida a todos amudar de vida, mas, falando daquele que virá, o apresenta como alguém que julgará; ele separará o trigo da palha que será inexoravelmente queimada. Esse era o pensamento de João. Segundo ele e os seus seguidores, o messias esperado devia ser aquele juiz que puniria os errados e premiaria os justos. Mais tarde, Jesus usará palavras duras para desmascarar toda falta de amor ao próximo e denunciar a hipocrisia de certas pessoas aparentemente muito religiosas. Ele, porém, anunciou, em primeiro lugar, a misericórdia do Divino Pai e a possibilidade de resgate e de vida nova para os pecadores. Por isso, foi dif ícil acolher Jesus, porque foi ummessias diferente daquele que estavam es- perando: em lugar do poder e do castigo, o escândalo da cruz e o perdão. Ainda hoje, muitos bons cristãos acham que a própria Igreja deveria ser menos tolerante e mais rigorosa, voltar a usar a ameaça da excomunhão e do inferno. Isso já aconteceu no passado, mas não foi esse o caminho que Jesus escolheu e praticou em sua vida terrena. Então, hoje vale tudo? Não, os pecados são sempre os mesmos, denunciá-los e corrigi-los é obrigação de todos. Mas antes precisamos começar conosco mesmo e apontar novos caminhos com o nosso exemplo e o nosso compromisso. Depois devemos usar sempre do remédio da misericórdia, porque a bondade e a aproximação fraterna conquistammais que o desprezo e o afastamento. A chegada do Natal é sempre uma boa oportunidade para a reconciliação entre os irmãos que pararam de se falar, entre os grupos que se olham com raiva e desgosto. O amor é sempre novo e renova as nossas vidas. Peçamos, sem medo, uma rajada poderosa do vento do Divino Espírito Santo, para ir mais longe com o bem, como aquela semente que não queria repetir sempre o mesmo. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá O evangelista Lucas aproxima bastante a pregação do Batista aos ensinamentos de Jesus e diz que o precursor “anunciava de muitos modos a Boa-Nova ao povo” (Lc 3,18). No entanto, não pode silenciar as diferenças entre os dois. Com efeito, João, o Batista, convida a todos a mudar de vida, mas, falando daquele que virá, o apresenta como alguém que julgará; ele separará o trigo da palha que será inexoravelmente queimada. A semente rebelde H oje em dia, qual é a sua identificação? Quem acha de ser? O que está em jogo é a própria identidade pessoal. Nesse sentido, ques- tionar-se é como um espelho que mantém viva a sua capacidade de não perder de vista o conhecimento de ‘SI’. Do ponto de vista psicológico, podemos dizer que muitos elementos da vida mental não conseguem ter uma constância. Ou seja, temos componentes que vão e vem, conforme as circunstâncias da vida. Além do mais, há componentes, inclusive, que agem por si mesmo, iludindo que sejam decisões do nosso ‘si’, da nossa consciência. Esse grande questionamento da nossa identidade pessoal a revista New Scientist demonstrou, por meio de uma pesquisa, que a identidade é um conjunto de componentes. Agora a questão é essa: como esses componentes ficam unidos entre eles? De outro jeito, faltando essa unidade, continuidade, não teríamos capacidade de nos conceber como pessoa única. Portanto, psicologicamente falando, o que nos tem unidos na percepção de tantas informações que vem tanto do corpo quanto do mundo externo da gente? Justamente, o que mantém unido tudo isso, é a nossa personalidade, o ‘si,’ a própria identidade. Na verdade, trata-se de uma ação bem complexa, em que o cérebro faz a parte dominante, e que na maioria das vezes a gente não tem consciência. Além do mais, existe também a ilusão de sermos os autores conscientes das nossas ações. É bom dizer também que a nossa percepção identifica o presente como algo reconstruído que tinha acabado de passar. Ou seja, talvez não exista o presente em ‘si’. Os pesquisadores dizem que não temos capacidade mentais de conhecer o futuro porque não percebemos, de fato, o presente, mas, sim, o passado imediato que o transformamos como presente. Com isso, po- demos dizer que chegamos atrasados na per- cepção da realidade. Com essa margem de dife- rença, por quanto possa ser mínima, não podemos dizer que conhecemos 100% o presente. Porém, segundo o psicólogo Bruce Hood, da Universidade de Bristol, é por meio das relações com os outros que damos mais consistência ao próprio ‘si’. Naturalmente, para poder interagir com os outros, precisamos ter consciência dos nossos limites da identidade. Isto nem sempre é alcançável. Veja bem, no caso das pessoas que sofrem autismo há maior dificuldade nesse relacionamento, e também de compreender as ações dos outros. Além disso, segundo alguns psicólogos, incide muito a interação social na construção e sustentabilidade do ‘si’. E essa interação social se diferencia em contextos culturais diferentes. Essa diferença nos testemunha que, em contextos culturais diferentes, se formam ‘Si’ não iguais, cada um com a sua bagagem que mantém a identidade pessoal. Outro elemento importante que foi relevado por um grupo de pesquisadores americanos é que a saudade teria o papel principal de manter a condição psicológica de continuidade do próprio ‘Si’. Veja como acontece tudo isso. Na medida em que tens o prazer de lembrar o passado, na realidade estás dando valor às próprias identidades passadas e também às pessoas, aos lugares e fatos da vida transcorrida. A saudade está a serviço da unidade do ‘Si’. ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. Naturalmente, para poder interagir com os outros, precisamos ter consciência dos nossos limites da identidade. Isto nem sempre é alcançável. Veja bem, no caso das pessoas que sofrem autismo há maior dificuldade nesse relacionamento, e também de compreender as ações dos outros. Além disso, segundo alguns psicólogos, incide muito a interação social na construção e sustentabilidade do ‘si’. Ter consciência dos nossos limites da identidade
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