Diário do Amapá - 22 e 23/12/2024

POLÍCIA |POLÍCIA | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 22 E 23 DE DEZEMBRO DE 2024 15 FALECOM0COMERCIAL E-mail: comercial.da@bol.com.br site: www.diariodoamapa.com twitter: @diariodoamapa Instagram: @diariodoamapa N o dia 8 de dezembro de 2010, a polícia registrava um dos crimes mais re- pugnantes da história e que cho- cou a sociedade amapaense: o as- sassinato da menina Alessandra da Silva Guimarães. A vítima, que na época tinha apenas 6 anos de idade, foi violentada sexual- mente e estrangulada até à mor- te. O autor da barbárie, Mércio Melo Nogueira, atualmente com 57 anos, era vizinho da vítima e nunca foi preso, mesmo tendo sido condenado à revelia emmaio de 2014, a 47 anos e 1 mês de re- clusão por homicídio, ocultação de cadáver e pedofilia. A investigação, que na época foi conduzida inicialmente pelo delegado Roberto Prata e, poste- riormente, coordenada pela de- legada Odanete Bionde, concluiu que Alessandra foi estuprada antes de ter sido assassinada por es- trangulamento. O caso Alessandra desapareceu no dia 5 de dezembro de 2010, três dias depois o corpo dela foi en- contrado em um terreno baldio, na rua Del Castilho, no bairro Jardim Equatorial, na zona sul de Macapá, paralela à que ela morava com a família, e a poucos metros da casa de Mércio, que era agente de endemias. Na residência dele, os policiais encontraram lençol, travesseiro, tesoura e um martelo com man- chas de sangue que, posterior- mente, a perícia constatou ser da vítima. Na época, o material genético encontrado no corpo dela não pode ser analisado devido ao es- tado de decomposição em que estava, mas a perícia constatou que a violência sexual foi extre- mamente grave, que o ânus e va- gina da menina viraram um só. Provas Um lado de uma sandália da criança foi encontrado junto ao cadáver, que estava em avançado estado de decomposição. O outro, dentro da casa do assassino. Cadernos com contos eróticos infantis, escritos a próprio punho por Mércio, também foram apreendidos no imóvel. Neles, o foragido relatava estórias de crian- ças mantendo relação sexual com adultos. DVDs com gravações re- tiradas da internet, onde menores apareciam em cenas de sexo, tam- bém foram achados pelos inves- tigadores. Mas o que chamou mesmo a atenção de quem presi- diu o inquérito policial foi um vídeo onde o ex-agente de ende- mias aparecia transando com a companheira, na frente do filho, um menino que tinha 3 anos de idade. Investigação A reportagem do portal Diário do Amapá procurou os delegados e investigadores que atuaram no caso. Por telefone, Roberto Prata recordou os detalhes da investi- gação. “Quando chegamos à cena do crime vimos a passagem atrás da casa do Mércio, que até então não era suspeito, que dava acesso à casa dos familiares da garota. Procuramos saber como era a ro- tina dela, foi quando soubemos que ela costumava brincar na rua e frequentar a casa dele, e isso nos chamou a atenção”, lembrou o delegado. Prata disse também que na- quele dia chegou a conversar in- formalmente com Mércio, na frente da casa. “Ele revelou que a Alessandra e outras crianças fre- quentavam a residência dele e in- daguei a última vez que ela tinha visto a garota. Então ele me disse que fazia uns três quatro dias que ela não ia lá. Mas, algo me dizia que era ele, não tinha como sus- peitar de mais ninguém”, pon- tuou. “No dia seguinte, voltamos à casa dele e achamos os vídeos pornôs e outros materiais, e um lado da sandália de criança no quarto dele, que foi a peça chave. Na foto feita pela Politec durante a perícia, aparecia o outro lado desta bendita sandália perto do corpo da Alessandra. A charada foi essa sandália, foi essa prova que nos fez pedir a prisão dele”, descreveu o delegado. O ex-agente de endemias che- gou a ser levado para a delegacia, para prestar esclarecimento, mas logo foi liberado. O agente Valdeci Ferreira, que integrava a Delegacia de Homi- cídios, estava de folga naquela quarta-feira, dia 8 de dezembro, mas foi acionado devido à gravi- dade do caso. Ele contou que sus- peitou imediatamente da atitude de Mércio, pois ele foi o único que não se aproximou da aglo- meração que se formou próximo ao local onde o cadáver foi acha- do. “A casa dele ficava a uns 60 metros do local onde o corpo es- tava e ele não saiu de lá. Agiu muito naturalmente, estava, in- clusive, fumando. Ele me mostrou a passagem atrás da casa dele, que dava fundos com a dela e por onde ela costumava passar. Mas achei aquilo tudo muito es- tranho, porque a vizinhança todo aglomerou, mas ele, não”, reme- morou. O inquérito policial instaurado no início pela Delegacia de Ho- micídios (DH), para apurar a mor- te de Alessandra, foi encaminhado à Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e Adolescente (Dercca), porém, meses depois, foi remetido novamente a DH, já sob a titularidade de Odanete Bionde. Aposentada há 4 anos, a de- legada tinha como realização pro- fissional fazer a captura de Mércio Nogueira. “Trabalhamos muito em cima do crime, muito mesmo, e essa é minha única frustração profissional, infelizmente. Inves- tigamos várias frentes, sem con- seguir colocar o réu atrás das grades. Foram tantas provas que tínhamos nos autos, mas a prisão dele não foi decretada. Somente uma semana depois, quando o titular da vara assumiu, que me chamou pra conversar e decretou a prisão dele. Saímos atrás, mas já era tarde; ele já tinha fugido”, lamentou a delegada. Outro investigador, que pediu para não ser identificado, revelou que muitos mistérios cercam o sumiço do estuprador e assassino. A fonte revelou que assim que entrou na equipe, em 2021, e pas- sou a diligenciar, foi atrás do prontuário de Mércio na Polícia Científica do Amapá (PCA), mas os registros desapareceram. “Cruzamos informações com investigadores tops do país todo, mas parece que esse homem virou um fantasma. Fomos na Politec e solicitamos o prontuário dele, mas, acredite se quiser, esse pron- tuário sumiu de lá, ninguém achou. Os colegas mesmo foram procurar, acharam de todo mun- do, menos o dele”, revelou. Sobre a informação do desa- parecimento do registro de dados de Mércio Melo Nogueira da PCA, o Diário do Amapá fez con- tato com o atual diretor do órgão. Marcos Góes disse que irá solicitar informações na próxima segun- da-feira, 23. Tentamos também contato com Roseana Maia, mãe da pe- quena Alessandra, que agora re- side no Maranhão. Ela atendeu nosso telefonema, mas disse que ainda é muito dif ícil falar sobre o assunto. A polícia conta com a ajuda da população para localizar e prender Mércio Nogueira, e não deixar que ele fique impune. Qual- quer informação sobre o paradeiro do criminoso pode ser repassada para o 190. ■ PROCURADO Vítima foi estuprada e morta aos 6 anos, em 2010, pelo então vizinho Mércio Melo Nogueira, que foi condenado a mais de 47 anos de prisão ASSASSINATO DA MENINA ALESSANDRA GUIMARÃES COMPLETA 14 ANOS E AUTOR CONTINUA FORAGIDO ELEN COSTA DA REDAÇÃO

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