Diário do Amapá - 24 a 27/12/2024
| OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ TERÇA A SEXTA-FEIRA | 24 A 27 DE DEZEMBRO DE 2024 2 LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA D izem, por assim dizer, que na vida tudo passa. A uva-passa. O amor transpassa. A lágrima compassa. A dança valsa. A palavra descalça. Os olhos são pegos com as mãos na massa. A menina e o menino se passam. O vento brasa, o tempo assa e o que da alma salta não tem graça. E até a manga de vez, por sua vez, no cós da noite, também passa. Dizem, por assim dizer, que o dom da vida é mesmo passar. Passo a passo, a vida passa. Não há remédio que se possa passar para que a vida deixe de passar. De verdade mesmo, a vida celebra, a cada minuto, a sua própria passagem, sem lágrimas, sem pejo e sem até. Dizem, por assim dizer, que no fundo do ar, só não passa o natal. O natal é a única ex- ceção da vida que passa. Só o natal se contrapõe ao breve, ao passageiro, ao efêmero. E, por curioso que seja, o natal, só dura um dia. Dizem, por assim dizer, que o menino que se fez natal disse um dia que, como o Natal, o sorriso também nunca passa. Que, como o Natal, o abraço também nunca passa. Que, como Natal, o beijo nunca passa. Dizem, entretanto, por assim dizer, que o menino que se fez natal disse um dia que o Natal não dura só um dia. Ele disse que o Natal mesmo não passa. Não passa não. O Natal não passa nunca. Nunquinha. Dizem, por assim dizer, que o menino que se fez natal disse um dia que o Natal não passa se o sorriso não passa, o Natal não passa se o abraço não passa, o Natal não passa se o beijo não passa e, assim, se o Natal nunca passa, a vida também não passa. Por isso, nesse Natal, eu, como o menino que se fez Natal, receito a você muitos sorrisos. Nesse Natal, como o menino que se fez Natal, receito a você muitos abraços. Nesse Natal, como o menino que se fez Natal, receito a você muitos beijos. Nesse Natal, como o menino que se fez Natal, receito a vocês todos um abençoado panetone e, do menino que se fez Natal, colho ingredientes indispensáveis: Sorriso, sem fermento. Abraço, em barra. Beijo, em calda. Não os misture nem os deixe descansando. Apenas sirva. ■ Dizem, por assim dizer, que o menino que se fez natal disse um dia que, como o Natal, o sorriso também nunca passa. Que, como o Natal, o abraço também nunca passa. Que, como Natal, o beijo nunca passa. Receita para o natal não passar Advogado RUBENBEMERGUY E-mail: diario-ap@uol.com.br M ariana tem 10 anos. Nasceu em março de 2011. Os pais são divorciados e a menina fica com a mãe e a avó que acaba sendo a genitora quase que de fato. Maria Lúcia, a mãe trabalha em uma empresa de marketing por seis horas e, á noite, estuda em uma faculdade. O pai é caminhoneiro e passa mais tempo na estrada do que na cidade onde a filha mora e, assim, dispõe de pouco tempo com a criança que o vê de vez em quando, poucos minutos em um final de semana qualquer, ou feriado. O tempo é sempre escasso e o amor de pai-filha-pai inexiste. A garota estuda à tarde. Levanta no meio do dia, pega seu lanche na geladeira, coloca no micro-ondas, juntamente com um copo de leite integral, desnatado e com achocolatado artificial. Senta-se em frente ao televisor, liga em um canal pago com programinha infantil, onde aparecem mil publicidades sobre isto e aquilo. O programa dura meia hora, mas serve como balizador para a menina. Logo que termina seu desjejum é que se lembra de escovar os dentes, pentear o cabelo. A cama fica por arrumar e a bagunça da noite anterior permanece ali. A avó não liga e espera que a mãe corrija a menina. Mas nada acontece, nem com uma e muito menos com a outra. Após o programa do café ela lança mão do celular e fica verificando as influenciadoras mirins e jovens que simulam isto ou aquilo em seus quartos, sala de estar, piscinas. O mundo da fantasia que encanta todos os pré-adolescentes, jovens e pré-adultos. Mariana nunca viajou com a mãe e, na rua em que mora, não conhece os vizinhos da rua. Limita-se a poucas amigas na escola. Também só na casa de uma é que foi em uma festa. Nada mais. O shopping fica distante da casa e a avó não tem tempo de levar a menina lá. Na cidade tem alguns pontos turísticos, museu, teatro, parque com área verde e urbanizada, igrejas históricas. Mariana nunca esteve em nenhum destes lugares. Também não conhece a zona rural com suas trilhas maravilhosas, paisagens en- cantadoras, cascatas e cachoeiras. Aliás, na roça, foi uma vez com a avó e um tio-avô. Passou ali um final de semana. Veio com o pé machucado, a pele picada por muriçoca e pernilongo. Hoje, esconjura quando se fala em passear na mata. Apaixona-se pelas belas paisagens que aparecem nas redes sociais. Nos hotéis luxuosos e distantes. Países que nem a avó ou a mãe jamais pensaram em visitar. Mas, naquela cabecinha pequena é ali que deseja conhecer, passear, visitar museus e morar um dia. Mas, o tempo vai passando e, o conhecimento real do mundo á sua volta mais distante. Mariana não está só neste círculo vicioso da moder- nidade. Junto a ela seguem dezenas, centenas, milhares de crianças mundo afora. Seres desprovidos de histórias próprias, conhecimento próprio. Vivem para sobreviver. Parece pleonasmo? Talvez seja. Sobrevivem em um mundo irreal, virtual, dissimulado e longe da realidade. A menina desconhece o mundo das amizades verdadeiras, das brincadeiras de correr, suar, cansar. Aquele sono do meio da tarde depois de um dia brincando, gastando energia. Para isso encaminham-na para uma academia com um “personal trainer”. Para alimentar-se melhor, uma nutricionista. Para seus cabelos, um profissional de salão. Não aprende com a amiga, com a vizinha, com a mamãe. Mariana nunca viu uma borboleta em sua vida, só ouve falar. Como é um amendoim na casca? Isso existe? Não sabe como funciona “as coisas”. Tudo é auto- mático. Foge de abelha por medo de uma reação. Teme o contágio pelo coronavírus. Come enlatados, porque vê na TV ou no celular. O “fast food” é o máximo. É só pedir que entregam em casa. Quem sabe, um dia, ela rompa esta bolha que a prende em seu sofá pela manhã, sua cama na noite e, neste novo redescobrir, conhecer, leve sua mãe, sua avó, seu pai. Nós, os seres humanos pensantes de hoje, estamos regredindo para nossas cavernas, nossos mundinhos. Fechados em nós, egoístas com os outros e, pequenos ditadores quando não concordam com nosso pensar. ■ Entendendo o mito das cavernas nos dias atuais Mariana nunca viu uma borboleta em sua vida, só ouve falar. Como é um amendoim na casca? Isso existe? Não sabe como funciona “as coisas”. Tudo é automático. Foge de abelha por medo de uma reação. GREGÓRIOJ.L. SIMÃO E-mail: gregoriojsimao@yahoo.com.br Radialista e estudante de Filosofia
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