Diário do Amapá - 29 e 30/12/2024

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 29 E 30 DE DEZEMBRO DE 2024 2 E stas palavras são o lema do Jubileu 2025 que iniciaremos emnossaDiocese no domingo 29 de dezembro de 2024. O começo oficial do Ano Santo já aconteceu em Roma no dia 24 de dezembro, quando o papa Francisco abriu a Porta Santa da Basílica de S. Pedro. Este tempo de graça será encerrado nas Dioceses do mundo inteiro no domingo 28 de dezembro de 2025 e, em Roma, no dia 6 de janeiro de 2026. O “lema” e as datas se encontram na Bula de Proclamação do Jubileu Ordinário de 2025 que também aponta o tema do Ano Santo: “ Spes non confundit” - a esperança não engana – (Rm 5,5). O último Jubileu ordinário foi aquele do ano 2000, no início do novo milênio. Os Papas, no entanto, podem propor Anos Santos extraordinários. Assim foi com o Ano Santo da Redenção, entre 1983 e 1984 como papa João Paulo II; o Ano Santo da Misericórdia entre 2015 e 2016 com o papa Francisco ou anos com assuntos es- pecíficos como o Ano da Fé de 2012 a 2013 iniciado compapa Bento XVI e con- cluído com papa Francisco, para celebrar os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II. Para os antigos hebreus, o Jubileu (chamado ano do yôbel, “do carneiro”, porque esta festividade era anunciada através do som de um chifre de carneiro) era um ano declarado Santo. Naquele tempo a lei mosaica prescrevia que a terra, da qual Deus era o único dono, fosse devolvida ao antigo proprietário e que os escravos tivessemde volta a liberdade. Podemos conferir isso nos textos bíblicos mais importantes: Lv 25,8-16.23-55 e Nm 36,4. Devia acontecer a cada 50 anos. Na era cristã, após o primeiro Jubileu do ano de 1300, a frequência da celebração foi fixada pelo papa Bonifácio VIII a cada 100 anos. Mais tarde com o papa Clemente VI o período foi reduzido para 50 e papa Paulo II fixou o prazo intermédio para 25 anos. Nas peregrinações a Roma, a outros lugares santos ou àqueles indicados propriamente a cada Jubileu, é possível fazer a experiência do caminho, do encontro com os companheiros da viagem. Alémdisso, a pere- grinação é uma imagem da nossa vida; precisamos conhecer por onde andar e a meta para não vagar inutilmente. No Ano Jubilar deve ser oferecida a pos- sibilidade de vivenciar melhor os sacramentos da Re- conciliação, confessando e pedindo perdão dos nossos pecados, e da Eucaristia, alimento indispensável para uma corajosa renovação de vida. Lembramos também as obras de penitência e de caridade, como sinais concretos de justiça e solidariedade. Enfim, temos a “indulgência”; a conseguiremos por meio de algumas ações espirituais indicadas pelo Papa. Com ela pode- remos libertar o nosso coração do peso do pecado e a certeza da misericórdia do Pai nos fará caminhar mais leves e decididos apesar das nossas fragilidades. Na bula de proclamação do Jubileu 2025, papa Francisco aponta algumas si- tuações ou grupos de pessoas que devemser lembradas para que ações concretas em seu favor se tornem sinais de esperança para toda a humanidade. São elas: a urgência de trabalhar em prol da paz mundial, o desejo dos jovens de gerar novos filhos e filhas como fruto da fecundidade do amor, a oferta de resgate e li- berdade para tantos presos, o cuidado amoroso com tantos doentes praticando as obras de misericórdia, a primorosa atenção aos jovens para que não percam a esperança e desistamdos seus sonhos de ver umdia uma sociedade mais justa e mais fraterna, a necessidade de mais acolhida e dignidade para os migrantes, sejam exilados, deslocados ou refugiados, o reconhecimento dos idosos como tesouros de experiência de vida e de sabedoria, a superação do escândalo dos pobres que sobrevivem às margens de uma sociedade indiferente. Conseguiremos resolver tantas questões? A esperança é justamente a virtude de quem não tem prazo para parar, porque também se já sabe que não verá a plenitude dos resultados, porém está feliz porque acredita que pode preparar o caminho para algo novo e melhor para os que virão depois. O novo ano que começa será “santo” de verdade não por ser um ano jubilar, mas somente se nós todos viveremos com coragem a vocação à qual fomos chamados: à santidade. Sem nunca desistir porque somos “peregrinos de esperança”. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá O Jubileu é constituído de gestos concretos. O mais evocativo é a abertura da Porta Santa. Os peregrinos dirigem- se à Porta e ajoelham-se em oração no seu limiar antes de atravessá- la. A passagem representa o compromisso de uma mudança, rumo a algo novo na própria vida de cristãos. “Peregrinos da esperança” A violência que assistimos no cotidiano não é fruto do acaso, mas é con- sequência de ação iniqua da humanidade. Uma sociedade não transparente é algo que esconde ações que deturpam a convivência. O grande mal que existe entre nós é o fato de que ninguém se acha responsável de nada e ninguém revela a verdade das coisas. Eu poderia dizer que a nossa sociedade dá preferência à mentira e se esconde por trás dela. E o fato mais relevante é que nós não sabemos enxergar tudo isso, pelo contrário, sabemos, sim, transformar a mentira em verdade. Com tudo isso, é dif ícil a nossa convivência. É dif ícil confiar um no outro e assim se gera uma situação de instabilidade que produz por sua vez frutos de violência. Como reverter uma situação como essa? As Sagradas Escrituras, com o salmo 35, nos propõem uma grande reflexão e pistas de solução. O que o salmo nos diz efetivamente? “A iniquidade fala ao ímpio no seu coração; não existe o temor a Deus ante os seus olhos, porque ele se gloria de que sua culpa não será descoberta nem detestada por ninguém.Suas palavras são más e enganosas; renunciou a proceder sabiamente e a fazer o bem. Em seu leito, ele medita o crime, anda pelo mau caminho, não detesta o mal.Senhor, vossa bondade chega até os céus, vossa fidelidade se eleva até as nuvens. Vossa justiça é semelhante às montanhas de Deus, vossos juízos são profundos como o mar. Vós protegeis, Senhor, os homens como os animais.Como é preciosa a vossa bondade, ó Deus! À sombra de vossas asas se refugiam os filhos dos homens. Eles se saciam da abundância de vossa casa, e lhes dais de beber das torrentes de vossas delícias,porque em vós está a fonte da vida, e é na vossa luz que vemos a luz. Con- tinuai a dar vossa bondade aos que vos honram, e a vossa justiça aos retos de coração.Não me calque o pé do orgulhoso, nãome faça fugir amão do pecador. Eis que caíram os fautores da iniquidade, foram prostrados para não mais se erguer.” Esse salmo ressalta a lógica do iníquo que faz o mal e se sente seguro porque ninguém pode desco- bri-lo. A sua habilidade é de enganar, porque ninguém, segundo ele, pode saber. Somente ele. Realmente, quem pode sondar o coração do ser humano? É aqui que está a resposta da Palavra de Deus. Verda- deiramente, nenhum ser humano tem capacidade para isso, mas Deus sim. O iníquo acha que pode enganar todo mundo e que não tem ninguém além disso. Para o iníquo Deus não existe e, portanto, pode fazer o que bem querer. Mas o autor desse salmo diz que Deus enxerga tudo, nada escapa aos seus olhos. Ele, Deus, está acima de tudo, e de também dos nossos pensamentos. Deus enxerga até as nossas intenções. O salmista assim nos apresenta a humanidade: um resultado de iniquidade e de inocência, de ódio e de amor, de blasfêmia e de oração. À crueldade da violência das pessoas iníquas se opõe a potência da bondade do Senhor Deus, luz que apaga as trevas do mal. Para apresentar tudo isso, o salmista articula o hino em duas partes. A primeira parte é onde o ímpio promove estratégia de pecado, de mal. De fato, diz o salmista que “a iniquidade fala ao ímpio no seu coração”. Existe a palavra de Deus e a palavra diabólica. A malvadez faz uma só coisa com o maldoso que se alimenta somente de coisas ruins e adora a si mesmo. Esse hino pretende exaltar assim a bondade divina que se opõe a maldade. O fiel que segue Deus, se deixa atrair por Ele, suplica de poupa-lo do poder do orgulhoso e do pecador. Essa oração desse fiel manifesta o grande amor de Deus que é fonte de vida e salvação. A experiência de Deus enriquece abun- dantemente a vida humana e que se traduz em olhar a luz que resplandece de Deus na oração, na escuta das Sagradas Escrituras. O papa Francisco nos convida também a fizermos esse discernimento: “A indiferença para comDeus supera a esfera íntima e espiritual da pessoa individual e investe a esfera pública e social. Com efeito, «sem uma abertura ao transcendente, o homem cai como presa fácil do relativismo e, consequentemente, torna-se-lhe dif ícil agir de acordo com a justiça e comprometer-se pela paz». ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. O esquecimento e a negação de Deus, que induzem o homem a não reconhecer qualquer norma acima de si próprio e a tomar como norma apenas a si mesmo, produziram crueldade e violência sem medida. Em nível individual e comunitário, a indiferença para com o próximo – filha da indiferença para com Deus. Deus é maior que a violência

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