Diário do Amapá - 05 e 06/10/2025

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 05 E 06 DE OUTUBRO DE 2025 2 “ Às vezes dizem que as crianças não entendem de política, mas isso não é verdade. Crianças da cidade de xxx, participam ativamente na transformação da cidade. Criado em 2019, o Comitê das Crianças é um espaço no qual as suas vozes são ouvidas e atendidas. ... Ao final do ano as crianças entregam um documento para o prefeito com os seus desejos e sugestões. Entre os pedidos já feitos e acolhidos pela Prefeitura estão a construção do Mundo das Crianças para que elas tivessem na cidade um espaço de brincadeiras, inclusive com água; o Dia do Brincar, em que as crianças vão à escola somente para brincar; o programa Pé de Árvore para garantir que haja mais árvores na cidade e o “De olho na Faixa”, zona de entorno das escolas em que os carros devem ter velocidade reduzida. ...” (fonte: Revista Casa Comum n.8) No evangelho do 27º Domingo do Tempo Comum encontramos a resposta de Jesus à pergunta dos fariseus se ao homem era permitido ou não se divorciar de sua mulher. Como em outras ocasiões, Jesus não discute a norma da lei em si, mas repropõe algo anterior: o projeto de Deus sobre a união conjugal “desde o começo da criação”. A questão não é concordar ou não, ou considerar dif íceis demais as condições do casamento. Todos nós somos limitados no nosso agir e continuamos a experimentar “a dureza do nosso coração”, que nos impede muitas vezes de ser perseverantes e fiéis nos compromissos assumidos. No entanto, precisamos resgatar a con- fiança em nós mesmos e em todo ser humano e nos questionar seriamente se, por acaso, não estamos desistindo de acreditar naquele amor que vai muito além da atração recíproca e que leva um homem e uma mulher a unir as próprias vidas, os seus sonhos e esperanças e, assim, a caminhar juntos, aconteça o que acontecer. Temos medo do “para sempre”, mas o contrário pode ser a fragilidade dos sentimentos, a prioridade absoluta do bem-estar individual e, por consequência, a incapacidade daquela mútua ajuda sobre a qual o casal deve construir a própria relação amorosa. Em seguida, o evangelho nos apresenta Jesus abençoando e abraçando as crianças que as mães lhe traziam. Ele nos diz que o Reino de Deus pertence àqueles e àquelas que sabemmanter o jeito das crianças. Não é infantilismo, mas confiança, ale- gria, desejo de crescer, descobrir e aprender mais. De brincar também. Porque “brincar” como as crianças não é negócio de diversão, é gratuidade, imaginação de ummundo diferente onde as histórias ainda podem ser contadas e mudadas, sempre para melhor, para que nunca mais nenhuma criança sofra pela violência dos grandes ou chore por ser abando- nada ou esquecida. Insisti um pouco sobre as crianças porque, quando acontecem as separações nas nossas famílias, talvez as maiores disputas não sejam pelos filhos, mas pelos bens materiais a serem divididos. Por exemplo, escutei a história de uma criança que pediu para ir morar com os avós, porque assistiu os pais brigando entre si, pois nenhum dos dois queria ficar com ela. Não posso deixar, porém, de lembrar que neste domingo teremos as eleições municipais. Como cidadãos cristãos, não devemos desvalorizar a nossa con- tribuição para uma cidade melhor, com vida mais digna para todos e todas. Apesar das promessas dos candidatos, sabemos que o nosso voto não irá resolver tudo e de uma só vez, no entanto será um sinal de interesse e de par- ticipação. As nossas preferências irão, ao menos, sinalizar o que esperamos e também o que não queremos mais, como o desperdício e as práticas de corrupção e mal uso do dinheiro público. Igualmente, como cristãos que acre- ditam no projeto do Reino da justiça, do amor e da paz, não podemos mais pensar que seja suficiente votar e depois esquecer até o nome de quem esco- lhemos. Precisamos cobrar ações, prestação de contas, políticas públicas, so- bretudo em defesa dos direitos das pessoas mais fragilizadas que acabam sendo deixadas para trás. É muito bom que até as crianças sejam educadas a participar e a propor. Muito melhor se forem ouvidas e atendidas nas suas famílias em primeiro lugar, e nas nossas cidades também. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá Insisti um pouco sobre as crianças porque, quando acontecem as separações nas nossas famílias, talvez as maiores disputas não sejam pelos filhos, mas pelos bens materiais a serem divididos. Por exemplo, escutei a história de uma criança que pediu para ir morar com os avós, porque assistiu os pais brigando entre si, pois nenhum dos dois queria ficar com ela. Crianças H oje em dia, qual é a sua identificação? Quem acha de ser? O que está em jogo é a própria identidade pessoal. Nesse sentido, questionar-se é como um espelho que mantém viva a sua capacidade de não perder de vista o conhecimento de ‘SI’. Do ponto de vista psicológico, podemos dizer que muitos elementos da vida mental não conseguem ter uma constância. Ou seja, temos componentes que vão e vem, conforme as circunstâncias da vida. Além do mais, há componentes, inclusive, que agem por si mesmo, iludindo que sejam decisões do nosso ‘si’, da nossa consciência. Esse grande questionamento da nossa identidade pessoal a revista New Scientist demonstrou, por meio de uma pesquisa, que a identidade é um conjunto de componentes. Agora a questão é essa: como esses componentes ficam unidos entre eles? De outro jeito, faltando essa unidade, continuidade, não teríamos capacidade de nos conceber como pessoa única. Portanto, psicologicamente falando, o que nos tem unidos na percepção de tantas informações que vem tanto do corpo quanto do mundo externo da gente? Justamente, o que mantém unido tudo isso, é a nossa personalidade, o ‘si,’ a própria identidade. Na verdade, trata-se de uma ação bem complexa, em que o cérebro faz a parte dominante, e que na maioria das vezes a gente não tem consciência. Além do mais, existe também a ilusão de sermos os autores conscientes das nossas ações. É bom dizer também que a nossa percepção identifica o presente como algo reconstruído que tinha acabado de passar. Ou seja, talvez não exista o presente em ‘si’. Os pesquisadores dizem que não temos capacidade mentais de conhecer o futuro porque não percebemos, de fato, o presente, mas, sim, o passado imediato que o transformamos como presente. Com isso, podemos dizer que chegamos atrasados na per- cepção da realidade. Com essa margem de dife- rença, por quanto possa ser mínima, não pode- mos dizer que conhecemos 100% o presente. Porém, segundo o psicólogo Bruce Hood, da Universidade de Bristol, é por meio das relações com os outros que damos mais consistência ao próprio ‘si’. Naturalmente, para poder interagir com os outros, precisamos ter consciência dos nossos limites da identidade. Isto nem sempre é alcançável. Veja bem, no caso das pessoas que sofrem autismo há maior dificuldade nesse relacionamento, e também de compreender as ações dos outros. Além disso, segundo alguns psicólogos, incide muito a interação social na construção e sustentabilidade do ‘si’. E essa interação social se diferencia em contextos culturais diferentes. Essa diferença nos testemunha que, em contextos culturais diferentes, se formam ‘Si’ não iguais, cada um com a sua bagagem que mantém a identidade pessoal. Outro elemento importante que foi relevado por um grupo de pesquisadores americanos é que a saudade teria o papel principal de manter a condição psicológica de continuidade do próprio ‘Si’. Veja como acontece tudo isso. Na medida em que tens o prazer de lembrar o passado, na realidade estás dando valor às próprias identidades passadas e também às pessoas, aos lugares e fatos da vida transcorrida. A saudade está a serviço da unidade do ‘Si’. ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. Naturalmente, para poder interagir com os outros, precisamos ter consciência dos nossos limites da identidade. Isto nem sempre é alcançável. Veja bem, no caso das pessoas que sofrem autismo há maior dificuldade nesse relacionamento, e também de compreender as ações dos outros. Ter consciência dos nossos limites da identidade

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