Diário do Amapá - 19 e 20/10/2025
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 19 E 20 DE OUTUBRO DE 2025 2 U m rebanho de porcos-espinhos pastava na tundra gelada da Sibéria Polar. Cada qual procurava por seus próprios esforços líquens salvos do gelo. De súbito, a tempestade começa e o vento glacial sopra cada vez mais forte. Num mesmo movimento instintivo, o rebanho se une para abrigar-se do vento. Eles se encostam uns nos outros. Rapidamente, fundem-se numa só carne para escapar do sopro glacial e encontrar algum calor no contato dos corpos juntos. Contudo, quanto mais se encostam uns nos outros, tanto mais seus espinhos, endurecidos pelo gelo, penetram-lhes a carne, dolorosamente. Feridos afastam-se instintivamente. Mas o vento carregado de neve os envolve, outra vez, com sua capa gelada. Num instante, eles se aproximam de novo, mas procurando não se ferir, nem longe demais, para aproveitar o calor uns dos outros, nem perto demais para não se machucar...E, dessa vez, descobrem a distância correta. O evangelho de Marcos do 29º Domingo do Tempo Comum volta sobre um assunto que, pelo jeito, devia ter sido muito debatido no grupo dos apóstolos e, com certeza, o era também nas primeiras comunidades cristãs: quem serão os primeiros, as pessoas mais importantes, neste “novo” Reino do qual tanto falava Jesus? Na discussão anterior, ao serem indagados pelo Mestre, os discípulos tinhamficado calados (Mc 9,34). Agora, Tiago e João querem mesmo que Jesus faça o que eles estão pedindo: ser as autoridades mais altas quando chegar a hora da vitória final. Pensam, evi- dentemente, no poder humano, mas estãomuito equi- vocados. A “glória” de Jesus não se manifestará num trono deste mundo como eles pensam, mas do alto de uma cruz que, nesse trecho do evangelho, é apresentada como um cálice a ser tomado e um batismo a ser rece- bido. De fato, no Getsêmani, Jesus rezará ao Pai que afaste dele o cálice da paixão e da morte (Mc 14,36). Questionados sobre a possibilidade de partilhar aquele sofrimento, Tiago e João não desistem; estão prontos a tudo para alcançar o poder que imaginam lhes será devidamente reconhecido. Jesus, porém, corta logo as ambições deles, porque não caberá a ele conceder esses lugares. Os demais discípulos ficam indignados com tamanha ousadia dos dois e Jesus aproveita para explicar-lhes como as coisas devem ser completamente diferentes entre eles. Os poderosos deste mundo oprimem e tiranizam os povos, mas entre eles, “não deve ser assim”: quem quiser ser grande, ser o primeiro, seja aquele que serve a todos. São quase as mesmas palavras que já ouvimos de Jesus emMc 9,35. Tem agora, porém, uma grande novidade. A motivação deste “serviço” está no exemplo dele mesmo: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos” (Mc10,45). Esse “resgate” era o preço que alguém resolvia pagar para libertar um parente ou amigo daquela escravidão na qual tinha caído por causa das dívidas advindas, muitas vezes, das circunstâncias adversas da vida. Nem todo parente ou amigo estava disposto a ajudar desta forma. O faziam somente os mais disponíveis e ge- nerosos. Jesus declara assim que dará a própria vida para alcançar a libertação de muitos. Por amor mesmo, não pelo poder. Quero chamar a atenção sobre as palavras “entre vós não deve ser assim”. Vós quem? Todos os que querem ser discípulos de Jesus. Antes de julgar ou lamentar pelas situações injustas de opressão e falta de liberdade, que ainda existem de tantas formas na nossa sociedade, precisamos fazer a experiência da fraternidade, ou seja, acreditar que é possível organizar a convivência entre as pessoas sem os mandos e desmandos de uma autoridade opressora. Ao contrário, aqueles que estão na frente devem ser capazes de promover a dignidade e a participação de todos e de todas. Talvez como comunidades cristãs ainda estejamos devendo isso quando nós também cedemos à ambição dos primeiros lugares não para servir, mas para o gosto do poder. Chega de agulhas e lanças para machucar os outros e ferir a nós mesmos. Afinal os porcos-espinhos encontraram a distância certa para se defender do frio. É o frio do egoísmo, do orgulho e da soberba. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá Os poderosos deste mundo oprimem e tiranizam os povos, mas entre eles, “não deve ser assim”: quem quiser ser grande, ser o primeiro, seja aquele que serve a todos. São quase as mesmas palavras que já ouvimos de Jesus em Mc 9,35. Tem agora, porém, uma grande novidade. Os porcos-espinhos O salmo 111 nos diz que é feliz a pessoa (e eu diria também a nação) que teme o Senhor. E esse respeito, obediência a Deus, não se dá tanto em falar Dele, como diz Jesus Cristo: ‘não que diz Senhor, Senhor, mas que faz a vontade Dele entra no Reino de Deus.’ Portanto, a felicidade é consequência de seguir a Deus, colocando em prática a sua vontade que é de amar. Hoje em dia, podemos dizer que as pessoas são realmente felizes? As nações são felizes? Por que todas essas agitações, rupturas, ódios, ciúmes, mentiras, vinganças e guerras? Te convido a ler o salmo para depois tentar entendê-lo melhor. "Aleluia. Feliz o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos. 2. Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos. 3. Suntuosa riqueza haverá em sua casa, e para sempre durará sua abundância. 4. Como luz, se eleva, nas trevas, para os retos, o homem benfazejo, misericordioso e justo. Feliz o homem que se compadece e empresta, que regula suas ações pela justiça. 6. Nada jamais o há de abalar: eterna será a memória do justo. 7. Não temerá notícias funestas, porque seu coração está firme e confiante no Senhor. 8. Inabalável é seu coração, livre de medo, até que possa ver confundidos os seus adversários. 9. Com largueza distribuiu, deu aos pobres; sua liberalidade permanecerá para sempre. Pode levantar a cabeça com altivez. 10. O pecador, porém, não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus." O salmo que acabaste de ler é uma resposta ética, de comportamentodofiel que queira colocar realmente em prática aquilo que Deus exige, que a sua Palavra orienta. Esse hino é, de fato, uma bem-aventurança para o justo. Isto, naturalmente, marcado pela visão sapiencial da contraposição do justo e o ímpio. O hino oferece dois personagens em contraposições: um, o justo, lhe são dedicados nove versículos sobre dez e, no entanto, o ímpio somente um versículo. O pecador, infiel, assim assiste ao triunfo do justo, fiel, fazendo o que? Diz o salmo: “não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus.” Quem é o justo, o fiel? É aquele que segue fielmente a Aliança do Senhor e é humilde; e se preocupa de estar próximo dos pobres e dos que sofrem e reparte com eles a sua ajuda, a sua caridade. Essa ação caridosa, segundo a concepção da re- tribuição do Antigo Testamento que é caracterizada por esse binômio ‘delito-castigo’ e ‘justiça-prêmio,’ leva a ter uma grande bênção de Deus, que, além do mais, se estende a toda família emarca toda a geração que pertence ao justo, ao fiel: “Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos.” Assimsendo, segundo a visão clássica sapiencial bíblica, quempratica o bemgera felicidade. É o com- promisso com a caridade que dá felicidade também para uma nação. NoNovoTestamento, encontramos também em São Paulo como referência ao versículo 9 deste salmo, na segunda carta aos Coríntios, no versículo 9 o seguinte: “Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre." E o papa Francisco na audiência geral na Praça S. Pedro do dia 11.06.2014 disse o seguinte: “Estejamos atentos a não pôr a esperança no dinheiro, no orgulho, no poder e na vaidade, pois tudo isto não nos pode prometer nada de bom! Por exemplo, penso nas pessoas que têm responsabilidades sobre os outros e se deixam corromper; pensais que uma pessoa corrupta será feliz no além? Não, todo o fruto do seu suborno corrompeu o seu coração e será dif ícil alcançar o Senhor. Penso em quantos vivem do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; pensais que quantos traficam pessoas, que exploram o próximo com o trabalho escravo têm o amor de Deus no seu coração? Não, não têm temor de Deus e não são felizes. Não o são! Penso naqueles que fabricam armas para fomentar as guerras; mas que profissão é esta!? Estou convicto de que se agora eu vos dirigir a pergunta: quantos de vós sois fabricantes de armas? Nenhum, ninguém! Estes fa- bricantes de armas não vêmpara ouvir a Palavra de Deus! Eles fabricam a morte, são mercantes de morte, fazem da morte mercadoria. Que o temor de Deus os leve a compreender que um dia tudo acaba e que deverão prestar contas a Deus. (...) Peçamos ao Senhor a graça de unir a nossa voz à dos pobres, para acolher o domdo temor de Deus e poder reconhecer-nos, juntamente comeles, revestidos de misericórdia e de amor a Deus, que é o nosso Pai, o nosso pai. Assim seja!” ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. No Novo Testamento, encontramos também em São Paulo como referência ao versículo 9 deste salmo, na segunda carta aos Coríntios, no versículo 9 o seguinte: “Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre." Feliz o homem que teme o senhor
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