Diário do Amapá - 28/10/2025
| OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ TERÇA-FEIRA | 28 DE OUTUBRO DE 2025 2 LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA H á trinta anos, O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, permanece como uma das obras mais grandiosas e comoventes da inteligência nacional. Escrito com a paixão de um homem que via o país como um projeto inacabado, o livro não é apenas uma análise antropológica — é um manifesto de esperança e dor, um retrato vivo do que somos e de como chegamos até aqui. Darcy, sempre entre o cientista e o poeta, entre o militante e o sonhador, lançou-se à tarefa monumental de compreender a alma do Brasil, não pela via da exaltação ingênua, mas pela consciência trágica de um povo que nasceu da violência, do encontro e da criação. A frase que talvez melhor sintetize sua obra — “Surgimos da confluência, do entre- choque e do caldeamento do invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos” — é uma chave interpretativa poderosa. Nela, Darcy condensa a gênese do Brasil como umprocesso simultâneo de destruição e invenção. O entrechoque é o conflito fundacional: o choque das armas, das línguas, das crenças e dos corpos. Foi a ferida original da colonização que impôs o domínio português sobre os povos da terra e os africanos trazidos à força. O caldeamento, por sua vez, é a magia amarga da mistura — o processo pelo qual, da dor e da imposição, nasce algo novo. Não se trata de harmonia fácil, mas de fusão sob tensão. Darcy vê nesse caldeamento o nascimento de um povo que, ainda que gestado sob o signo da opressão, produz uma cultura única, vibrante e resistente. O invasor português surge como figura ambígua: o dominador e o portador da matriz civilizatória europeia, que, ao impor sua ordem, também se transforma no contato com os “índios silvícolas e campineiros” e com os “negros africanos”. Os indígenas, primeiros habitantes, trouxeram o saber da terra, a cosmovisão comunitária, a familiaridade com o ambiente; os africanos, arrancados de seus mundos, trouxeram a força do trabalho, a fé e a resis- tência. Juntos, forjaram o que Darcy chama de “um povo novo”. Novo, porque se cria de um amálgama cultural sem precedentes; velho, porque nasce já colonizado, destinado a servir aos interesses da metrópole — um proletariado externo, como define o autor, gerador de riquezas exportáveis à custa do desgaste humano. É nesse contexto que surge o conceito mais doloroso e, ao mesmo tempo, mais revelador de Darcy Ribeiro: a nin- guendade. Ela representa a condição de não ser que marca os descendentes das populaçõesmiscigenadas—mamelucos, mulatos, mestiços —, que não pertencem plenamente a nenhuma das matrizes formadoras. São os “ninguéns” da história, rejeitados pelos colonizadores e desenraizados das culturas originárias. Essa ninguendade é o vazio exis- tencial da colonização, a perda da etnia, da língua e da identidade. O brasileiro, nessa leitura, é um ser em trânsito, fruto de uma mestiçagem imposta, condenado a buscar sentido em meio à ruína das origens. Mas Darcy, com sua visão generosa e humanista, vê nessa ninguendade não o fim, mas o começo de algo maior. O povo brasileiro, apesar de mutilado, reinventa-se. Da ausência de pertencimento nasce a potência criadora — o samba, a capoeira, o futebol, as festas populares, a fé sincrética. São expressões de uma identidade que, por não ter raízes puras, floresce no improviso, na invenção, na alegria resistente de quem transforma dor em arte. A ninguendade converte-se, assim, em brasilidade: uma forma de ser no mundo marcada pela criatividade e pela solidariedade, capaz de resistir e re- fazer-se infinitamente. Darcy Ribeiro acreditava que o Brasil era uma “nova Roma tropical”, um projeto ci- vilizatório original que ainda estava por se cumprir. Sua fé no povo brasileiro era inque- brantável. Ele via na mestiçagem, mesmo forçada, a semente de uma civilização singular, mais fraterna, mais aberta, mais humana. Trinta anos depois, OPovo Brasileiro continua a nos interpelar: somos, ainda, essa gente em busca de si mesma, tentando superar as marcas da colonização e transformar a ninguendade em potência criadora. Darcy, com seu verbo apaixonado e sua alma de pedagogo da nação, ensinou-nos que conhecer o Brasil é um ato de amor e de coragem. E que, talvez, nossa maior riqueza esteja justamente nessa mistura caótica e luminosa que nos fez ser quem somos — um povo novo, nascido do entrechoque, do caldeamento e da esperança. ■ O Povo Brasileiro: A Reinvenção de Si Mesmo nas Entranhas da Colonização E-mail: mariosaturno@uol.com.br Darcy Ribeiro acreditava que o Brasil era uma “nova Roma tropical”, um projeto civilizatório original que ainda estava por se cumprir. Sua fé no povo brasileiro era inquebrantável. Ele via na mestiçagem, mesmo forçada, a semente de uma civilização singular, mais fraterna, mais aberta, mais humana. HENRIQUE MATTHIESEN L eitura é condição sine que non para que possamos aprender, adquirir cultura, para que saibamos falar e escrever, para que tenhamos uma vida mais digna e plena. Porque sem saber ler, não podemos estudar e se não estudarmos, como termos uma profissão, um trabalho que nos possibilite uma vida decente? Nos, brasileiros, ainda lemos pouco, infelizmente. Por uma série de razões das quais já falei em outros textos. Mas existem professores do primeiro grau que, apesar do conteúdo programático cada vez mais apertado do nosso ensino fundamental e também médio, imposto pela educação oficial, fazem um trabalho fenomenal, conseguindo incutir o gosto pela leitura em seus alunos. Então, além de ser de primordial importância que as crianças convivam com livros desde a mais tenra infância, o fato de o estudante ter um professor ou professora que se preocupa com o hábito de ler de seus alunos completa um cenário que é ideal para termos jovens e adultos que gostem de ler. E que gostem de estudar, portanto, que gostem de adquirir conhecimento. Para além do salutar e indispensável hábito de ler, precisamos levar em conta que ler pode e deve nos dar prazer, pois além de nos preparar para a vida, a leitura pode nos fazer mais felizes, já que nos abre as portas, também, para a magia e para o encantamento. Leitura pode nos trazer felicidade? Pode. E de diversas maneiras. Algumas das quais já falamos acima. Uma história bem engendrada que culmina com um bom final e nos faz refletir sobre nossa realidade, nossa e do próximo. é outra maneira. Pois uma his- tória criativa, original, instigante, nos mostrando personagens e cenários fantásticos maravilhosos, gênero tão explorado por autores vários, nos últimos tempos, por exemplo, cativa a muitos leitores, leitores de todas as idades. Poemas que leem a vida e o mundo de maneira diferente, nos ensinando a ver tudo por novos ângulos, com sentimentos e emoções novos, cons- truídos com palavras fortes e com novos significados, também são outras maneiras de nos proporcionar uma boa leitura, uma boa interpretação ou recriação da vida acontecendo ao nosso redor. E além dela. Então leitura é importante, é indispensável, sempre foi e continuará sendo. Precisamos ler mais, precisamos ler sempre, precisamos ler muito. Porque o futuro será sempre consequência de nossas leituras. Se nós não gostarmos de ler, perderemos o caminho para o futuro, pois só conseguiremos chegar a um futuro melhor através do hábito da leitura. Através dos conhe- cimentos adquiridos nos livros. Então, leitores em formação, leiam hoje, leiam amanhã, leiam muito, cada vez mais. O futuro está nas mãos dos leitores, dos amantes da leitura, daqueles que têm o hábito de ler. Porque leitura e insubstituível. Se no passado líamos só os clássicos, hoje, ou de algum tempo para cá, temos uma gama imensa de contemporâneos da melhor qualidade. Brasileiros ou não, temos muitos autores excelentes para lermos. Então, vamos à leitura. Hoje e sempre. ■ Leitura, sempre E-mail: lcaescritor@gmail.com Presidente do Grupo Literário A ILHA/SC Então leitura é importante, é indispensável, sempre foi e continuará sendo. Precisamos ler mais, precisamos ler sempre, precisamos ler muito. Porque o futuro será sempre consequência de nossas leituras. Se nós não gostarmos de ler, perderemos o caminho para o futuro, pois só conseguiremos chegar a um futuro melhor através do hábito da leitura. LUIZCARLOSAMORIM Formado em Direito, Pós-graduado em Sociologia
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