Diário do Amapá - 08/11/2025
| OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ SÁBADO | 08 DE NOVEMBRO DE 2025 2 LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA N os últimos anos, o conceito de educação positiva ganhou espaço nas famílias e nas escolas, prometendo uma abordagem mais gentil e respeitosa no trato com as crianças. A base dessa metodologia está no reforço do diálogo, na construção da autoestima e na eliminação de punições severas, o que, a princípio, parece uma alternativa atraente aos modelos tradicionais de educação, que muitas vezes recorriam ao castigo f ísico ou à imposição de autoridade pela força. No entanto, o que se vê, cada vez mais, é uma sociedade que começa a colher frutos negativos dessa abordagem. Estudos recentes indicam que a educação positiva, quando mal interpretada ou aplicada de maneira desequilibrada, pode gerar sérios problemas na formação das crianças. Um dos efeitos mais evidentes desse modelo é o desenvolvimento de uma geração que, em muitos casos, tem dificuldade em lidar com frustrações e limites. Ao priorizar sempre a escuta, o acolhimento incondicional e a proteção do emocional da criança, alguns pais e educadores acabam criando um ambiente onde o "não" é inexistente. As crianças, então, crescem sem saber lidar com as naturais adversidades da vida, pois foram habituadas a ter suas vontades sempre atendidas. Estatísticas globais apontam para uma tendência alarmante. Nos Estados Unidos uma pesquisa revelou que 62% dos professores relatam um aumento significativo de problemas comportamentais em sala de aula nas últimas duas décadas. No Reino Unido, outra pesquisa mostrou que 70% dos professores acreditamque a ausência de limites claros está diretamente ligada ao aumento de problemas de disciplina. Já no Brasil, um levantamento do Instituto Ipsos em 2022, indicou que 58% dos pais de crianças e adolescentes entre 10 e 16 anos acreditam que a falta de limites em casa tem sido um fator preponderante para o comporta- mento desafiador de seus filhos na escola. Esses números são reflexo de uma sociedade que, muitas vezes, interpreta a educação positiva como uma educação sem disciplina. Um exemplo claro está na sala de aula: professores, em vez de conseguirem manter a ordem ou impor limites, muitas vezes se veem reféns de alunos que, sem a noção de hierarquia ou respeito à au- toridade, tornam o ambiente escolar caótico. O mesmo estudo, apontou que 45% dos professores brasileiros acreditam que a indisciplina tem crescido drasticamente nos últimos anos, especialmente em decorrência de um modelo de educação que evita punições ou correções mais severas. Outro ponto que merece atenção é a dificuldade que essas crianças, encontram ao ingressar no mercado de trabalho ou em situações sociais mais exigentes. Uma pesquisa entre jovens americanos revelou que 68% daqueles que cresceram em ambientes mais permissivos, apresentaram dificuldades em lidar com feedbacks ne- gativos ou com situações que exigem resiliência no início de suas carreiras profissionais. Além disso, 55% desses jovens afirmaram que já haviam abandonado algum em- prego ou atividade por não conseguirem lidar com a pressão ou com críticas construtivas. A sociedade também começa a pagar um preço alto. A geração que foi educada sem conhecer limites adequados temmostrado uma falta de preparo para a vida em comunidade. Uma pesquisa da Fundação Lemann no Brasil indicou que 64% dos jovens de 18 a 25 anos relataram dificuldades em lidar com frustrações cotidianas, como a rejeição em um emprego ou um relacionamento não correspondido. Além disso, 47% dos entrevistados relataram que já haviam sofrido com ansiedade severa, em parte devido à pressão por sucesso imediato e à falta de habilidade para lidar com fracassos. Esses dados refletem uma cultura crescente de egoísmo, onde as necessidades individuais são colocadas sempre à frente das coletivas. Isso reflete na convivência social, no aumento da intolerância e na incapacidade de muitos jovens de lidar com opiniões divergentes ou situações que exijam concessões. Esse comportamento indi- vidualista, alimentado por uma educação que priorizou sempre a satisfação pessoal da criança, está minando a construção de uma sociedade mais colaborativa e harmô- nica. Portanto, pais e educadores precisam retomar a noção de que a frustração e o "não" também educam. A infância precisa ser um terreno de aprendizado, onde as crianças aprendam, sim, a se expressar e a serem ouvidas, mas também a respeitar limites, a lidar com as consequências de suas ações e a entender que nem sempre terão tudo o que querem. Somente assim conseguiremos reverter os males que hoje vemos emergir e formar uma geração que realmente esteja preparada para enfrentar os desafios da vida em sociedade. ■ Frutos negativos da educação positiva Esses dados refletem uma cultura crescente de egoísmo, onde as necessidades individuais são colocadas sempre à frente das coletivas. Isso reflete na convivência social, no aumento da intolerância e na incapacidade de muitos jovens de lidar com opiniões divergentes ou situações que exijam concessões. E-mail: drrodrigolimajunior@gmail.com . Teólogo, pedagogo e advogado RODRIGO LIMA JUNIOR N o início de dezembro, escrevi ao Presidente Lula propondo um novo Proálcool. Fiquei obcecado pelo rendimento de uma célula etanol apresentada dias antes pelos bolsistas PCI (Programa de Capacitação Institucional) do INPE. O Instituto desenvolve uma célula de etanol (gera eletricidade diretamente por reações ele- trolíticas), com uma eficiência de 70%. Algo espetacular, já que um motor a combustão não chega a 30%, ou seja, mais que o dobro. Se um carro comum faz 10 km/l, um carro elétrico com célula de etanol faria mais de 23 km/l. O PCI é um programa patrocinado pelo MCTIC e operacionalizado pelo CNPq com vistas a fomentar a capacitação técnica, científica e de inovação das Unidades de Pesquisas ligadas ao MCTIC como o INPE. Eu sou responsável pelos bolsistas da Ciência e Tecnologia Es- paciais. Tomei a liberdade de sugerir ao presidente Lula repetir a ideia do Motor a Álcool Brasileiro, quando o presidente Geisel encomendou ao CTA (Centro Técnico Aeroespacial) fazer estudos técnicos sobre o etanol que permitiram que o governo mais tarde criasse o Proálcool logo após a crise do petróleo em 1973. De 1973 a 1976, realizaram experiências com diversos tipos de motores adaptando-os para o uso do etanol combustível. Em 1975, apresentou os resultados de seus estudos ao presidente Ernesto Geisel, fato que levou o go- verno brasileiro a criar o programa de substi- tuição de combustíveis derivados de petróleo por álcool. Até 1976, o CTA adaptou e testou motores de diversos fabricantes. A situação atual está mais fácil, pois há di- versos institutos federais e estaduais, além das indústrias automobilísticas, estudando e testando células de etanol, como meus colegas do INPE. O governo federal deveria apadrinhar o novo carro a etanol, mais eficiente e bem menos po- luente. Os Ministérios da Ciência e Tecnologia e da Indústria poderiam gerir. A necessidade de dinheiro para a pesquisa já está até suprida no orçamento e, posteriormente, incentivos para a fabricação e venda na forma de emprés- timo é dinheiro que volta ao Erário. A Revista Pesquisa da Fapesp vem divulgando diversas pesquisas brasileiras sobre o assunto. Uma parceria entre a montadora japonesa Nissan e o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) desenvolve uma tecnologia da célula a combustível a etanol, que permite abastecer o veículo com esse combustível em qualquer posto do país, como já ocorre hoje. Um consórcio de empresas reunindo as multinacionais Mercedes- Benz, Stellantis (Fiat, Chrysler, Opel, Peugeot e Citroën), Bosch, Umicore e a brasileira Ipiranga, estabeleceu dois acordos de parceria com o Ipen para o desenvolvimento de células a combustível de baixa temperatura, que opera por volta de 100º C, para o aproveitamento do etanol como combustível de carros elétricos. Outro consórcio, formado por Volkswagen, Stellantis, Toyota, Ford, Shell, Bosch, AVL e a brasileira Caoa, também fechou um contrato de parceria com a Unicamp para desenvolver células a com- bustível a etanol, apoiado pela FAPESP e Finep. Já temos todos os ingredientes para fazer no Brasil um projeto de sucesso. ■ Outro consórcio, formado por Volkswagen, Stellantis, Toyota, Ford, Shell, Bosch, AVL e a brasileira Caoa, também fechou um contrato de parceria com a Unicamp para desenvolver células a combustível a etanol, apoiado pela FAPESP e Finep. Um Novo Projeto de Motor a Álcool MARIO EUGENIO E-mail: mariosaturno@uol.com.br Tecnologista Sênior do INPE
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