Diário do Amapá - 22/11/2025

| OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ SÁBADO | 22 DE NOVEMBRO DE 2025 2 LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA I nverno tem tainha em Santa Catarina. Fico fascinado pelo fe- nômeno fabuloso do tempo frio que é puxar as redes com to- neladas e toneladas de tainha. É de uma beleza incomensurá- vel. E eu que nunca liguei muito para o peixe em si, só gostava da tainha feito cambira, aquela escalada, salgada e secada ao sol, tenho comido tainha recheada (com ova, camarão, farinha e tem- peros, como aprendi com minha mãe), caldo de tainha, que fica uma delícia e tainha frita. Nada como morar aqui, pertinho de onde acontece o milagre dos peixes. Então faço água na boca da minha amiga Fátima de Laguna e ela me pede, como leitora do meu blog, que eu dê as receitas e ensine como fazer a cambira e o caldo. Muito pouca gente sabe, mesmo os nativos da ilha, pelo que tenho percebido, ao perguntar para alguns, que a cambira é a tainha escalada. A gente pega ela, já sem escamas, eviscerada, sem cabeça e abre ela de fora a fora, cortando encosta- dinho à espinha. Depois é só salgar, dos dois lados, bem salgado – isso é escalar, conforme quem mora na beira do mar e conforme o Aurélio, também. Aí é só pegar um dia de sol e deixar ela secar. Não é preciso deixar torrar, em um ou dois dias ela fica marronzinha e a cambira está pronta, pode ser consumida. É dessalgar – ferver trocando de água umas duas ou três vezes, fritar ou grelhar e comer com o que preferir, mas eu não sei de nada melhor do que um pirão de água. Ah, não sabem o que é pirão de água? É só ferver água, colocar farinha de mandioca no prato, despejar a água quente em cima e misturar. Aí é juntar a cambira, fechar a porta e comer. Faça um molho de limão com pimenta, mais ardida ou menos ardida, como preferir, e regue a cambira. Já o caldo de tainha é feito como os outros caldos de peixe. Minha mãe ensinou assim: pique alguns tomates, sem pele e sem sementes ou como preferir. Refogue cebola e alho bem picados com manjericão ou alfavaca (não pode faltar, é condição sine qua non), acrescente o tomate e outros temperos verdes, a gosto, coloque água o suficiente para a quantidade de peixe que vai co- zinhar e não esqueça o sal. Eu não ligo para a cor, mas para quem gosta, pode usar colorau ou massa de tomate. Fervendo o caldo, coloque a tainha cortada em postas e temperada anteriormente com limão, sal e manjericão. Não deixe cozinhar muito, para o peixe não se desmanchar. Já dá pra fazer o pirão com o caldo e fa- rinha de mandioca e comer com o peixe cozido, que está uma delícia. Não é fácil? Jaraguá, Corupá e redondezas têm o privilégio de ficar relati- vamente perto de São Francisco, Barra Velha, Barra do Sul, o que possibilita a tainha fresquinha no inverno. Isso é um privilégio. ■ Comer tainha no inverno Já o caldo de tainha é feito como os outros caldos de peixe. Minha mãe ensinou assim: pique alguns tomates, sem pele e sem sementes ou como preferir. Refogue cebola e alho bem picados com manjericão ou alfavaca (não pode faltar, é condição sine qua non)... E-mail: lcaescritor@gmail.com Presidente do Grupo Literário A ILHA/SC LUIZCARLOSAMORIM M ariana tem 10 anos. Nasceu em março de 2011. Os pais são divorciados e a menina fica com a mãe e a avó que acaba sendo a genitora quase que de fato. Maria Lúcia, a mãe trabalha em uma empresa de marketing por seis horas e, á noite, estuda em uma faculdade. O pai é caminhoneiro e passa mais tempo na estrada do que na cidade onde a filha mora e, assim, dispõe de pouco tempo com a criança que o vê de vez em quando, poucos minutos em um final de semana qualquer, ou feriado. O tempo é sempre escasso e o amor de pai-filha-pai inexiste. A garota estuda à tarde. Levanta no meio do dia, pega seu lanche na geladeira, coloca no micro-ondas, juntamente com um copo de leite integral, desnatado e com achocolatado artificial. Senta-se em frente ao televisor, liga em um canal pago com programinha infantil, onde aparecem mil publicidades sobre isto e aquilo. O programa dura meia hora, mas serve como balizador para a menina. Logo que termina seu desjejum é que se lembra de escovar os dentes, pentear o cabelo. A cama fica por arrumar e a bagunça da noite anterior permanece ali. A avó não liga e espera que a mãe corrija a menina. Mas nada acontece, nem com uma e muito menos com a outra. Após o programa do café ela lança mão do celular e fica verificando as influenciadoras mirins e jovens que simulam isto ou aquilo em seus quartos, sala de estar, piscinas. O mundo da fantasia que encanta todos os pré-adolescentes, jovens e pré-adultos. Mariana nunca viajou com a mãe e, na rua em que mora, não conhece os vizinhos da rua. Limita-se a poucas amigas na escola. Também só na casa de uma é que foi em uma festa. Nada mais. O shopping fica distante da casa e a avó não tem tempo de levar a menina lá. Na cidade tem alguns pontos turísticos, museu, teatro, parque com área verde e urbanizada, igrejas históricas. Mariana nunca esteve em nenhum destes lugares. Também não conhece a zona rural com suas trilhas maravilhosas, paisagens en- cantadoras, cascatas e cachoeiras. Aliás, na roça, foi uma vez com a avó e um tio-avô. Passou ali um final de semana. Veio com o pé machucado, a pele picada por muriçoca e pernilongo. Hoje, esconjura quando se fala em passear na mata. Apaixona-se pelas belas paisagens que aparecem nas redes sociais. Nos hotéis luxuosos e distantes. Países que nem a avó ou a mãe jamais pensaram em visitar. Mas, naquela cabecinha pequena é ali que deseja conhecer, passear, visitar museus e morar um dia. Mas, o tempo vai passando e, o conhecimento real do mundo á sua volta mais distante. Mariana não está só neste círculo vicioso da moder- nidade. Junto a ela seguem dezenas, centenas, milhares de crianças mundo afora. Seres desprovidos de histórias próprias, conhecimento próprio. Vivem para sobreviver. Parece pleonasmo? Talvez seja. Sobrevivem em um mundo irreal, virtual, dissimulado e longe da realidade. A menina desconhece o mundo das amizades verdadeiras, das brincadeiras de correr, suar, cansar. Aquele sono do meio da tarde depois de um dia brincando, gastando energia. Para isso encaminham-na para uma academia com um “personal trainer”. Para alimentar-se melhor, uma nutricionista. Para seus cabelos, um profissional de salão. Não aprende com a amiga, com a vizinha, com a mamãe. Mariana nunca viu uma borboleta em sua vida, só ouve falar. Como é um amendoim na casca? Isso existe? Não sabe como funciona “as coisas”. Tudo é auto- mático. Foge de abelha por medo de uma reação. Teme o contágio pelo coronavírus. Come enlatados, porque vê na TV ou no celular. O “fast food” é o máximo. É só pedir que entregam em casa. Quem sabe, um dia, ela rompa esta bolha que a prende em seu sofá pela manhã, sua cama na noite e, neste novo redescobrir, conhecer, leve sua mãe, sua avó, seu pai. Nós, os seres humanos pensantes de hoje, estamos regredindo para nossas cavernas, nossos mundinhos. Fechados em nós, egoístas com os outros e, pequenos ditadores quando não concordam com nosso pensar. ■ Entendendo o mito das cavernas nos dias atuais Mariana nunca viu uma borboleta em sua vida, só ouve falar. Como é um amendoim na casca? Isso existe? Não sabe como funciona “as coisas”. Tudo é automático. Foge de abelha por medo de uma reação. GREGÓRIOJ.L. SIMÃO E-mail: gregoriojsimao@yahoo.com.br Radialista e estudante de Filosofia

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