Diário do Amapá - 06 e 07/04/2025
LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 06 E 07 DE ABRIL DE 2025 2 “ Eu observa... o modo como meu pai olhava um passarinho deitado de lado à margem da calçada perto da nossa casa. – Está morto, pai? Eu tinha seis anos e não sentia a coragem de olhá-lo. – Por que morreu? - Tudo o que vive, deve morrer. – Tudo? - Sim . – Tu também, papai? E mamãe? – Sim – E eu? – Sim, disse ele. Depois acrescentou: Mas será talvez depois de ter vivido uma boa e longa vida, meu filho. – Eu não consigo compreender. Fiz um esforço para olhar o passarinho. – Tudo o que vive, será um dia como esse passarinho? Por quê? Perguntei. – Foi assim que o Eterno fez o seu universo, meu filho. – Por quê? – Para que a vida seja preciosa, meu filho. Uma coisa que tu possuas para sempre, nunca é preciosa.” No evangelho do Quinto Domingo da Páscoa, en- contramos mais uma comparação que Jesus faz dele mesmo e do Divino Pai. Ele diz: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor” (Jo 15,1). A exem- plificação continua com o trabalho do Pai que corta os ramos improdutivos e limpa os frutíferos para que pro- duzam mais. Para serem produtivos os ramos devem “permanecer” sempre unidos ao tronco da videira, que é o próprio Jesus. Separados dele, os ramos não produzem frutos, aliás, não podem “fazer nada” (Jo 15,5). Sem “união” com Jesus, os ramos secam, são lançados ao fogo e queimados. A união dos ramos com a videira acontece através da palavra de Jesus que “permanece” nos discípulos. Consequência dessa união será a fartura de frutos para a glória do Pai e a certeza de serem atendidos em suas invocações. Nesse trecho do evangelho de João, duas palavras são repetidas inúmeras vezes: o verbo “permanecer” e a palavra “frutos”. Devem ser importantes. Entendemos que o sentido do “permanecer” “com” se ou, melhor, “em” Jesus não quer dizer ficar parados como se isso correspondesse ao estar sempre num mesmo lugar. Ao contrário: é um participar ativamente daquela vida hu- mano-divina que o Mestre viveu e ensinou. Por isso, é muito clara a comparação com a videira e os ramos. Algo vital passa do tronco para os ramos para que esses possam desenvolver e produzir frutos. Sem essa “linfa” os ramos secam. Contudo, há frutos que podemos, ou devemos, “pro- duzir” juntos, porque a união dos cristãos seria o sinal visível e maravilhoso que estamos unidos, acima de tudo, porque seguidores do único Senhor eMestre. As nossas divisões enfraquecemo testemunho daquilo que dizemos acreditar. Quando falamos mal dos nossos irmãos na fé, quando nos separamos entre nós, não ficamos afastados somente dos demais, acabamos ficando longe do próprio Jesus. Não adianta cobrar paz, justiça, união entre as nações da terra se usamos o nome dele para defender os nossos particularismos. Divididos, ou até contrapostos, vamos secar e morrer. Parece ouvir de novo a oração de Jesus na última ceia: “Pai que todos sejam um, como tu Pai estás em mim, e eu em ti” (Jo 17,21). Talvez a “comunhão” entre nós e com Jesus seja, ao mesmo tempo, fruto e condição para produzir com abundância outros frutos de bem para toda a humanidade. A comparação da videira e dos ramos me parece ser um convite sério a participar da vida comunitária. Ainda há cristãos e cristãs que teimam em ficar isolados, acham que a fé e a vida cristã seja algo individual que não precisa ser partilhado comoutros irmãos e irmãs. Parece que não acreditamque Jesus está vivo e presente na comunidade que celebra e mantém viva e atual a sua memória. Jesus nos evangelhos fala muito de “vida”, vida “eterna”, vida “plena”. Se a vida que passa é um bem tão precioso, justamente porque não a possuímos para sempre, o que pensar da vida plena, da vida de Deus, da verdadeira vida, que podemos perder afastados de Jesus e dos irmãos? Vamos caminhar juntos! ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá O que será esta força vital? Pode ser o amor, a fé, o desejo de seguir Jesus e de continuar a sua obra na construção do Reino de Deus. Pode ser também a “comunhão” entre nós e com Jesus. Essa comunhão é, sem dúvida, algo pessoal, porque têm muito valor os frutos de bondade que cada um de nós consegue produzir em sua vida. Para que a vida seja preciosa Q uem realmente acredita e tem fé em Deus reconhece que o maior perigo da vida é o pecado. Infelizmente, a sociedade que parece dar preferência ao puro materialismo, à ganância, ao poder como verdadeiras opções de garantias de vida nem percebe a presença do pecado nem sabe o que é ou não o reconhece. Faz de conta que não existe. Pensamentos como esses refletem uma sociedade concentrada na materialidade. Tudo em função daquilo que se consome. E a felicidade consiste somente em ter cada vez mais para consumir. Uma ótica como essa não permite discernir a vida como um todo, na sua objetividade. É dif ícil, assim, fazer uma experiência além da matéria, reconhecer a vida como além daquilo que enxergamos. Deus, assim, não tem lugar na ‘nossa mesa’. Mas aquele que busca a sua vida em Deus reconhece o quanto estamos longe Dele ou falhamos com Ele. E aí sente o peso do pecado. Não por acaso, os santos se acham os maiores pecadores do mundo, porque justamente experimentam o quanto é grande a incapacidade de seguir a Deus. A leitura do salmo 31 das Sagradas Escrituras nos ilumina a respeito disso: “Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Feliz o homem a quem o Senhor não argui de falta, e em cujo coração não há dolo. Enquanto me conservei calado, mirraram-se-me os ossos, entre contínuos ge- midos. Pois, dia e noite, vossa mão pesava sobre mim; esgotavam-se-me as forças como nos ardores do verão. Então, eu vos confessei o meu pecado, e não mais dissimulei a minha culpa. Disse: Sim, vou confessar ao Senhor a minha iniquidade. E vós perdoastes a pena do meu pecado. Assim também todo fiel recorrerá a vós, no momento da necessidade. Quando transbordarem muitas águas, elas não chegarão até ele. Vós sois meu asilo, das angústias me preservareis e me envol- vereis na alegria de minha salvação. Vou te ensinar, dizeis, vou te mostrar o caminho que deves seguir; vou te instruir, fitando em ti os meus olhos: não queiras ser sem inteligência como o cavalo, como o muar, que só ao freio e à rédea submetem seus ímpetos; de outro modo não se chegam a ti. São muitos os sofrimentos do ímpio. Mas quem espera no Senhor, sua mi- sericórdia o envolve. Ó justos, alegrai-vos e re- gozijai-vos no Senhor. Exultai todos vós, retos de coração.” O fiel desse salmo reconhece que o pecado, que ameaça a vida, pesa fortemente na consciência da pessoa e esgota as suas forças. O pecado atinge até o f ísico. Mas aquilo que o autor dessa oração quer evidenciar é o aspecto positivo do perdão, e por isso aconselha qual é o verdadeiro rumo que o ser humano deve percorrer: “vou te mostrar o caminho que deves seguir”. Assim sendo testemunha o suplicante que é oportuno agradecer constantemente a Deus e convida ao mesmo tempo o ser humano a não se entregar a ação selvagem do pecado: “não queiras ser sem inteligência como o cavalo”. O salmo nos mostra o sentido do pecado por três verbos: absolvido, perdoado e não argui de falta. O primeiro verbo ‘absolvido’ significa que Deus nos tira um peso que nós carregamos permitindo assim respirar na nossa vida. O segundo verbo ‘perdoado’ quer dizer que o pecado foi cancelado, anulado pela ação eficaz de Deus. E o terceiro ‘não argui de falta’ diz que o pecado não faz mais parte da lista das obras do ser humano. Estamos perante uma re- missão plena da culpa. Assim sendo, o ser humano que se converte e é perdoado se torna um verdadeiro fiel, um testemunho para os outros. Por isso todo fiel, nas trevas do pecado, suplica o Senhor para ser liberto. É essa experiência de libertação que leva o perdoado a aclamar com profunda alegria: ‘Alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor’. ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. O primeiro verbo ‘absolvido’ significa que Deus nos tira um peso que nós carregamos permitindo assim respirar na nossa vida. O segundo verbo ‘perdoado’ quer dizer que o pecado foi cancelado, anulado pela ação eficaz de Deus. Feliz aquele cujo pecado foi perdoado
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