Diário do Amapá - 27 e 28/04/2025

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 27 E 28 DE ABRIL DE 2025 2 C hovia muito naquele dia. Dois homens, que viviam juntando coisas velhas descartadas, rodavam pela cidade, empurrando um carrinho de mão, em busca de algo jogado fora e que tivesse ainda algum valor. Numa lata de lixo, encontraram um guarda-chuva preto. Parecia novo. Sem acreditar muito, o pegaram para olhar. Um dos dois logo começou a reclamar: - - Que pena, o cabo está quebrado. Não vamos ganhar nada. O outro, ao contrário, ficou feliz e disse: - - Que sorte que temos. Encontramos um guarda-chuva no meio do lixo justo hoje com toda esta água. E assim os dois, um alegre e o outro triste, con- tinuaram no seu caminho debaixo do guarda-chuva todo quebrado. Estamos chegando ao final do Ano Litúrgico. Por isso, o evangelho de Marcos do 33º Domingo do Tempo Comum nos apresenta algumas palavras de Jesus sobre as “realidades últimas” e que parecem nos apresentar aquele que chamamos de “fim dos tempos”. Ele usa a linguagem “apocalíptica”, específica para esses assuntos e bastante dif ícil para a nossa compreensão. Aquelas expressões, apesar das imagens às vezes assustadoras, queriam transmitir esperança sobretudo em tempos dif íceis, de provações e inseguranças. Era uma forma para dizer que, um dia, aqueles sofrimentos acabariam com a vitória do bem. Não muito mais do que isso. Nada de previsões do futuro ou ameaças de desastres. O próprio evangelho não marca nem o dia e nem a hora, porque não sabe, mas apresenta o evento mais importante de todos: a volta do Filho do Homem. Esse revelar e esconder ao mesmo tempo, obri- ga-nos, simplesmente, a estar sempre prontos e acor- dados. Se quisermos estar preparados para esse mo- mento, devemos prestar atenção aos sinais. Este é o sentido da parábola da figueira: “quando os ramos ficam verdes e as folhas começam a brotar” (Mc 13,28) é sinal que o verão está para chegar. Sinais nunca vão faltar, mas a dificuldade sempre será in- terpreta-los. O que pode ser um sinal positivo para alguns, pode ser negativo para outros. O discernimento é dom do Espírito Santo! No caso das palavras de Jesus, no evangelho deste domingo, o sinal é sem dúvida confortante: a figueira vai florescer e produzir logo os seus frutos doces e gostosos. Como dizer que não devemos aguardar a volta do Senhor pres- tando atenção primeiramente aos desastres naturais ou à destruição causada pelos homens com a explo- ração, poluição e exaustão dos recursos naturais e as consequências de guerras deflagradas com armas, cada vez mais, destruidoras. O Senhor Jesus não virá no meio de sinais de morte, mas de vida, de luz e esperança. A quem fala do próximo fim do planeta e da própria humanidade, nós, cristãos, só podemos responder nos comprometendo sempre e de novo com a fraternidade, a solidariedade, a colaboração de todos para um mundo de paz e de alegria. Somos convidados a ver, mas sobretudo, a ser sinais do bem que vence o mal. Muitas vezes são gestos pequenos, escondidos. Isso porque cada ser humano, em qualquer lugar ou situação que esteja, é chamado a mudar o seu coração de pedra em um coração de carne, apaixonado pela vida, pela vontade de estarmos juntos, de partilhar os benditos frutos da terra e da inteligência humana. Papa Francisco, em sua mensagem para o 8º Dia Mundial dos Pobres, que celebramos neste domingo, lembra-nos que “os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus”. Eles não têm outros recursos a não ser a própria coragem e a confiança de serem ouvidos em suas preces. Além disso, o Papa nos diz que “os pobres têm ainda muito para nos ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa”. Devemos, portanto, ajudar concretamente os pobres e aprender com eles a sermos mais sóbrios e humildes, promovendo uma vida sem os desperdícios de um consumo desen- freado e os gastos absurdos em armas de morte em lugar de construir obras de vida. Até um guarda-chuva quebrado é sinal de alegria para quem tem um coração simples e desapegado. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá Papa Francisco, em sua mensagem para o 8º Dia Mundial dos Pobres, que celebramos neste domingo, lembra-nos que “os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus”. Eles não têm outros recursos a não ser a própria coragem e a confiança de serem ouvidos em suas preces. O guarda-chuva O salmo 111 nos diz que é feliz a pessoa (e eu diria também a nação) que teme o Senhor. E esse respeito, obediência a Deus, não se dá tanto em falarDele, como diz Jesus Cristo: ‘não que diz Senhor, Senhor, mas que faz a vontade Dele entra no Reino de Deus.’ Portanto, a felicidade é consequência de seguir a Deus, colocando em prática a sua vontade que é de amar. Hoje em dia, podemos dizer que as pessoas são realmente felizes? As nações são felizes? Por que todas essas agitações, rupturas, ódios, ciúmes, mentiras, vinganças e guerras? Te convido a ler o salmo para depois tentar entendê-lomelhor. "Aleluia. Feliz o homemque teme o Senhor, e põe o seu prazer emobservar os seus mandamentos. 2. Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos. 3. Suntuosa riqueza haverá em sua casa, e para sempre durará sua abundância. 4. Como luz, se eleva, nas trevas, para os retos, o homem benfazejo, misericordioso e justo. Feliz o homem que se compadece e empresta, que regula suas ações pela justiça. 6. Nada jamais o há de abalar: eterna será a memória do justo. 7. Não temerá notícias funestas, porque seu coração está firme e confiante no Senhor. 8. Inabalável é seu coração, livre demedo, até que possa ver confundidos os seus adversários. 9. Com largueza distribuiu, deu aos pobres; sua liberalidade permanecerá para sempre. Pode levantar a cabeça com altivez. 10. O pecador, porém, não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus." O salmo que acabaste de ler é uma resposta ética, decomportamentodofiel quequeiracolocar realmente em prática aquilo que Deus exige, que a sua Palavra orienta. Esse hino é, de fato, uma bem-aventurança para o justo. Isto, naturalmente, marcado pela visão sapiencial da contraposiçãodo justo e o ímpio. Ohino oferece dois personagens em contraposições: um, o justo, lhe são dedicados nove versículos sobre dez e, no entanto, o ímpio somente umversículo.Opecador, infiel, assim assiste ao triunfo do justo, fiel, fazendo o que? Diz o salmo: “não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus.” Quem é o justo, o fiel? É aquele que segue fiel- mente aAliança do Senhor e é humilde; e se preocupa de estar próximo dos pobres e dos que sofrem e reparte com eles a sua ajuda, a sua caridade. Essa ação caridosa, segundo a concepção da retri- buição doAntigoTestamento que é caracterizada por esse binômio ‘delito-castigo’ e ‘justiça-prêmio,’ leva a ter uma grande bênção de Deus, que, além do mais, se estende a toda família e marca toda a geração que pertence ao justo, ao fiel: “Será poderosa sua descen- dência na terra, e bendita a raça dos homens retos.” Assim sendo, segundo a visão clássica sapiencial bíblica, quem pratica o bem gera felicidade. É o com- promisso com a caridade que dá felicidade também para uma nação. No Novo Testamento, encontramos tambémemSão Paulo como referência ao versículo 9 deste salmo, na segunda carta aos Coríntios, no versículo 9 o seguinte: “Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre." Eo papa Franciscona audiência geral na Praça S. Pedro do dia 11.06.2014 disse o seguinte: “Estejamos atentos a não pôr a esperança no dinheiro, no orgulho, no poder e na vaidade, pois tudo isto não nos pode prometer nada de bom! Por exemplo, penso nas pessoas que têm responsabilidades sobre os outros e se deixam corromper; pensais que uma pessoa corrupta será feliz no além? Não, todo o fruto do seu suborno corrompeu o seu coração e será dif ícil alcançar o Senhor. Penso em quantos vivem do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; pensais que quantos traficam pessoas, que exploram o próximo com o trabalho escravo têm o amor de Deus no seu coração? Não, não têm temor de Deus e não são felizes. Não o são! Penso naqueles que fabricam armas para fomentar as guerras; mas que profissão é esta!? Estou convicto de que se agora eu vos dirigir a pergunta: quantos de vós sois fabricantes de armas? Nenhum, ninguém! Estes fa- bricantes de armas não vêm para ouvir a Palavra de Deus! Eles fabricam a morte, são mercantes de morte, fazem da morte mercadoria. Que o temor de Deus os leve a compreender que um dia tudo acaba e que deverão prestar contas a Deus. (...) Peçamos ao Senhor a graça de unir a nossa voz à dos pobres, para acolher o dom do temor de Deus e poder reconhecer-nos, juntamente com eles, revestidos de misericórdia e de amor a Deus, que é o nosso Pai, o nosso pai. Assim seja!” ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. Essa ação caridosa, segundo a concepção da retribuição do Antigo Testamento que é caracterizada por esse binômio ‘delito-castigo’ e ‘justiça-prêmio’, leva a ter uma grande bênção de Deus, que, além do mais, se estende a toda família e marca toda a geração que pertence ao justo, ao fiel. Feliz o homem que teme o senhor

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