Diário do Amapá - 12 e 13/01/2025

ENTREVISTA EPIDEMIOLOGISTA |ENTREVISTA | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 12 E 13 DE JANEIRO DE 2025 14 O Diário do Amapá traz uma conversa com o epidemiologista e professor da Universidade de Illinois (EUA) Pedro Hallal, um dos responsáveis pelo estudo, sobre os impactos da desinformação sobre a covid- 19 para a população. Confira! O senhor é um dos responsáveis pelo estudo sobre os impactos da desinformação sobre a covid-19 para a população. O que é a pesqui- sa Epicovid 2.0 e o que apresenta de novo? Pedro Hallal - AÉ muito importante que a gente, depois de ter avaliado o quanto o vírus estava se disseminando no Brasil, lá em 2020, agora, em 2024, avalie o impacto que a pandemia teve sobre a vida das pessoas e sobre a vida das famílias. Cerca de 15% dos entrevistados registrarammorte de um familiar devido à Covid-19. Já 48,6% relataram redução na renda, aspecto que acarretou inse- gurança alimentar para 47,4%, ou seja, pessoas que não tinham a garantia de prover seu alimento diariamente. Cerca de 34,9% per- deram o emprego e 21,5% interromperam os estudos durante a pandemia. De acordo com a pesquisa, uma das principais causas da hesitação vacinal é a falta de confiança nas vacinas contra a covid-19. Como você avalia isso? Pedro Hallal - HInfelizmente, naquele momento da pandemia, nós tínhamos lideranças políticas no país que disseminavam notí- cias de que a vacina fazia mal. Hoje o Epicovid 2.0 mostra o impac- to que aquela irresponsabilidade cometida por alguns líderes teve sobre a população brasileira. Nós lidamos com uma vacina que parte da população tem desconfiança porque ouviu durante anos que ela é ruim, que não é segura, que transforma as pessoas em ja- caré. Essa irresponsabilidade de disseminar desinformação tem impacto para as famílias brasileiras até hoje. Outra desinformação espalhada por alguns grupos é a de que a pandemia não existiu, que ela foi inventada. Como podemos esclarecer que a pandemia foi real? Pedro Hallal - ANós temos o dado de que 15% das famílias bra- sileiras tiveram algum familiar próximo que morreu durante a pandemia. Então, a simples menção de alguém imaginar que a pandemia não existiu é tão absurda quanto alguém imaginar que a Terra é plana e não esférica. A pandemia existiu sim e, infelizmen- te, o Brasil foi um dos países mais afetados. A mortalidade no Bra- sil foi quatro vezes maior do que a média mundial e o que a pes- quisa mostra agora é que essa pandemia trouxe impactos sérios para a vida das pessoas e das famílias brasileiras. Como a população pode se proteger dos diversos con- teúdos falsos que chegam nas redes sociais e nos apli- cativos de trocas de mensagens? Alguma dica? Pedro Hallal - Sempre que a gente recebe uma informação, seja em grupos de mensagem, e-mail ou rede social, é importante bus- car de onde veio aquela informação. Temmuita gente usando a de- sinformação para ganhar dinheiro. A gente sabe que alguns con- teúdos bombásticos completamente equivocados gerammuitos li- kes, muitos cliques, então a gente recomenda que as pessoas sem- pre busquem a fonte de onde surgiu aquele conteúdo. É importante lidar com fontes confiáveis, com órgãos de imprensa, com especialistas, ou seja, com quem tem credibilidade para falar sobre o assunto. Acontece isso na minha família. Muitas vezes a minha mãe recebe algum conteúdo no WhatsApp e o meu pai me pergunta se é verdade. Eu mostro pra eles. “Vamos clicar aqui na fonte original”. E quando vai na fonte original, eu mostro porque não é verdade. É importante que todas as pessoas façam isso como forma de se proteger de tanta informação falsa sendo disseminada no Brasil, eu diria até de uma forma criminosa. Nota da Redação: De acordo coma pesquisa "Epicovid 2.0: Inquérito nacional para avaliação da real dimensão da pandemia de Covid-19 no Brasil", entre os entrevista- dos que não se vacinaram, 32,4%alegamoptar por não se vacinar contra a Covid-19 por não acreditar na vacina comomotivo. Já outros 31%dos não vacinados acredi- tamque a vacina contra a doença pode fazermal. O estu- do foi apresentado peloMinistério da Saúde . O Epicovid 2.0 é a maior pesquisa de base populacional sobre a doença no Brasil. Ela foi conduzida em 133 cidades brasileiras, com uma amostra de 33.250 entrevistas, e avaliou o impacto da pandemia sobre a população brasileira. Os resultados são voltados ao histórico de infecções, os impactos socioeconômicos, vacinação e condições pós-covid. O estudo é uma continuação do Epicovid- 19, iniciado em 2020, agora focado nos impactos contínuos do ví- rus na sociedade e na vida das pessoas. O Saúde com Ciência con- versou com o epidemiologista e professor da Universidade de Illi- nois (EUA) Pedro Hallal, um dos responsáveis pelo estudo, sobre os impactos da desinformação sobre a covid-19 para toda a popu- lação brasileira. ■ Edição: CLEBER BARBOSA | Texto: GABRIEL GAMA (AGÊNCIA PÚBLICA) V FOTO/ Kátia Helena Dias / UFPel PERFIL Epidemiologista, professor e ex- reitorda Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Coordena omaior estudo sobre a disseminação da covid-19 noBrasil. Breve biografia - Possui graduação em Educação Física (2000), mestrado (2002) e doutorado (2005) em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas. - Realizou estágio pós-doutoral no Instituto de Saúde da Criança da Universidade de Londres. - Atuou como Reitor da UFPel entre 2017 e 2020. - É Professor Titular da Universidade de Illinois Urbana- Champaign, Estados Unidos e Professor Visitante da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. - Coordena o EPICOVID-19, o maior estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil. - É um dos coordenadores da Coorte de 2015 de Pelotas e do Observatório Global de Atividade Física. - É um dos sócios fundadores e ex- presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde. - Foi membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências entre 2008 e 2013. - Foi bolsista de produtividade 1A do CNPq. - É Editor-Chefe do Journal of Physical Activity and Health.. Posição de destaque nacional. - Pedro Hallal é epidemiologista, professor e ex- reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Coordena o maior estudo sobre a disseminação da covid-19 no Brasil. Pedro Hallal ■ Epidemiologista brasileiro Pedro Hallal, umdos responsáveis pelo estudo Epicovid 2.0 no país. Acreditaramqueavacina transformaaspessoasemjacaré Acreditaramatéqueavacina

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