Diário do Amapá - 13/06/2025

| OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ SEXTA-FEIRA | 13 DE JUNHO DE 2025 2 LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA M ariana tem 10 anos. Nasceu em março de 2011. Os pais são divorciados e a menina fica com a mãe e a avó que acaba sendo a genitora quase que de fato. Maria Lúcia, a mãe trabalha em uma empresa de marketing por seis horas e, á noite, estuda em uma faculdade. O pai é caminhoneiro e passa mais tempo na estrada do que na cidade onde a filha mora e, assim, dispõe de pouco tempo com a criança que o vê de vez em quando, poucos minutos em um final de semana qualquer, ou feriado. O tempo é sempre escasso e o amor de pai-filha-pai inexiste. A garota estuda à tarde. Levanta no meio do dia, pega seu lanche na geladeira, coloca no micro-ondas, juntamente com um copo de leite integral, desnatado e com achocolatado artificial. Senta-se em frente ao televisor, liga em um canal pago com programinha infantil, onde aparecem mil publicidades sobre isto e aquilo. O programa dura meia hora, mas serve como balizador para a menina. Logo que termina seu desjejum é que se lembra de escovar os dentes, pentear o cabelo. A cama fica por arrumar e a bagunça da noite anterior permanece ali. A avó não liga e espera que a mãe corrija a menina. Mas nada acontece, nem com uma e muito menos com a outra. Após o programa do café ela lança mão do celular e fica verificando as influenciadoras mirins e jovens que simulam isto ou aquilo em seus quartos, sala de estar, piscinas. O mundo da fantasia que encanta todos os pré-adolescentes, jovens e pré-adultos. Mariana nunca viajou com a mãe e, na rua em que mora, não conhece os vizinhos da rua. Limita-se a poucas amigas na escola. Também só na casa de uma é que foi em uma festa. Nada mais. O shopping fica distante da casa e a avó não tem tempo de levar a menina lá. Na cidade tem alguns pontos turísticos, museu, teatro, parque com área verde e urbanizada, igrejas históricas. Mariana nunca esteve em nenhum destes lugares. Também não conhece a zona rural com suas trilhas maravilhosas, paisagens en- cantadoras, cascatas e cachoeiras. Aliás, na roça, foi uma vez com a avó e um tio-avô. Passou ali um final de semana. Veio com o pé machucado, a pele picada por muriçoca e pernilongo. Hoje, esconjura quando se fala em passear na mata. Apaixona-se pelas belas paisagens que aparecem nas redes sociais. Nos hotéis luxuosos e distantes. Países que nem a avó ou a mãe jamais pensaram em visitar. Mas, naquela cabecinha pequena é ali que deseja conhecer, passear, visitar museus e morar um dia. Mas, o tempo vai passando e, o conhecimento real do mundo á sua volta mais distante. Mariana não está só neste círculo vicioso da moder- nidade. Junto a ela seguem dezenas, centenas, milhares de crianças mundo afora. Seres desprovidos de histórias próprias, conhecimento próprio. Vivem para sobreviver. Parece pleonasmo? Talvez seja. Sobrevivem em um mundo irreal, virtual, dissimulado e longe da realidade. A menina desconhece o mundo das amizades verdadeiras, das brincadeiras de correr, suar, cansar. Aquele sono do meio da tarde depois de um dia brincando, gastando energia. Para isso encaminham-na para uma academia com um “personal trainer”. Para alimentar-se melhor, uma nutricionista. Para seus cabelos, um profissional de salão. Não aprende com a amiga, com a vizinha, com a mamãe. Mariana nunca viu uma borboleta em sua vida, só ouve falar. Como é um amendoim na casca? Isso existe? Não sabe como funciona “as coisas”. Tudo é auto- mático. Foge de abelha por medo de uma reação. Teme o contágio pelo coronavírus. Come enlatados, porque vê na TV ou no celular. O “fast food” é o máximo. É só pedir que entregam em casa. Quem sabe, um dia, ela rompa esta bolha que a prende em seu sofá pela manhã, sua cama na noite e, neste novo redescobrir, conhecer, leve sua mãe, sua avó, seu pai. Nós, os seres humanos pensantes de hoje, estamos regredindo para nossas cavernas, nossos mundinhos. Fechados em nós, egoístas com os outros e, pequenos ditadores quando não concordam com nosso pensar. ■ Entendendo o mito das cavernas nos dias atuais Mariana nunca viu uma borboleta em sua vida, só ouve falar. Como é um amendoim na casca? Isso existe? Não sabe como funciona “as coisas”. Tudo é automático. Foge de abelha por medo de uma reação. GREGÓRIOJ.L. SIMÃO E-mail: gregoriojsimao@yahoo.com.br Radialista e estudante de Filosofia M uitos cristãos que tiraram notas baixas em Português leem a Bíblia e, obviamente, interpretam errado. Mesmo quem saiba Português, História, tenha lido Platão e Maquiavel, ainda assim pode não entender o "amar a Deus sobre todas as coisas" e "amar o próximo como a si mesmo". Por isso, Jesus detalhava com exemplos (parábolas, citações do Antigo Testamento e fatos históricos). E também a Igreja escreve documentos detalhados e que, mesmo assim, são mal interpretados. Por exemplo, pensam que a Rerum Novarum é um documento contra o comunismo, mas não só, condena também as relações que aconteciam entre o patrão e trabalhador em detalhes. A Igreja sabe que dizer "ame como Jesus" não é suficiente para o patrão tratar corretamente o trabalhador. Leia com esta visão e uma interpretação realística abrir-se-á na sua mente! E fala também das obrigações? Fala, mas merece frisar que a Igreja optou pelo "pobre" porque é a parte mais fraca da sociedade. Aliás, imita Jesus que optou pelo excluído, pelo explorado, pelo sem poder, pelo ladrão, pelo sem instrução, pela mulher, pela prostituta, pela adúltera, pelo pecador! Veja-se o parágrafo 10 da Encíclica Rerum Novarum (Das Coisas Novas) do Papa Leão XIII, de 1891, que trata das obrigações dos operários e dos patrões: Entre estes deveres, eis os que dizem respeito ao pobre e ao operário: deve fornecer integral e fielmente todo o trabalho a que se com- prometeu por contrato livre e conforme... (todos conhecem as obrigações). Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do Cristão. O trabalho do corpo, longe de ser um objeto de vergonha, honra o homem, porque lhe fornece um nobre meio de sustentar a sua vida. O que é vergonhoso e desumano é usar dos homens como de vis instrumentos de lucro, e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços. O cristianismo, além disso, prescreve que se tenham em consideração os interesses espirituais do operário e o bem da sua alma. Aos patrões compete velar para que a isto seja dada plena satisfação. Proíbe também aos patrões que imponham aos seus subordinados um trabalho superior às suas forças ou em desarmonia com a sua idade ou o seu sexo. Mas, entre os deveres principais do patrão, em primeiro lugar, o de dar a cada um o salário que convém. Certamente, para fixar a justa medida do salário, há numerosos pontos a considerar. Duma maneira geral, recordem-se o rico e o patrão de que explorar a pobreza e a miséria e especular com a indigência, são coisas igualmente reprovadas pelas leis divinas e humanas: "Eis que o salário, que tendes extorquido por fraude aos vossos operários, clama contra vós: e o seu clamor subiu até aos ouvidos do Deus dos Exércitos" [Tg 5,1ss]. Enfim, os ricos devem precaver-se religiosamente de todo o ato violento, toda a fraude, toda a manobra usurária que seja de natureza a atentar contra a economia do pobre, e isto mais ainda, porque este é menos apto para defender-se, e porque os seus haveres, por serem de mínima importância, revestem um caráter mais sagrado. ■ Amar o trabalhador? Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem, realçada ainda pela do Cristão. O trabalho do corpo, longe de ser um objeto de vergonha. MARIO EUGENIO E-mail: mariosaturno@uol.com.br Tecnologista Sênior

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