Diário do Amapá - 22 e 23/06/2025

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 22 E 23 DE JUNHO DE 2025 2 O homem foi nomeado mandarim. Daquele momento em diante, seria uma grande autoridade e precisava de um manto adequado ao cargo. Um amigo lhe indicou um bom alfaiate de seu conhecimento. Para poder confeccionar o manto, o alfaiate quis saber desde quando o homem era mandarim. Aquele senhor estranhou a pergunta, mas o alfaiate logo explicou: “É que um mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo que mantém a cabeça altiva, ergue o nariz e estufa o peito. Assim sendo, tenho que fazer a parte da frente maior que a parte de trás. Anos mais tarde, o trabalho e a experiência o tornammais sensato e eu costuro o manto igual na frente e de trás. Com o passar dos anos, o seu corpo fica encurvado, semmencionar a humildade adquirida através de uma vida de esforços e trabalho. Então eu faço o manto de forma que as costas fiquem mais longas que a frente. Portanto – concluiu o alfaiate – tenho que saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente apropriadamente”. O novo mandarim saiu da loja pensando menos no manto e mais na sabedoria daquele simples artesão. No evangelho de Marcos do 25º Domingo do Tempo Comum, Jesus continua andando pelos caminhos da Galileia, ensina os seus discípulos e volta a falar da sua paixão, morte e ressurreição. Eles não compreendiam o que ele queria dizer. Estavam demais ocupados em outra questão. Animados, talvez, pela própria ambição, discutiam sobre quem seria o mais importante entre eles. Ao perceber o teor da disputa, Jesus derruba todas aquelas expectativas. Para oMestre quemquiser ser o primeiro seja aquele que se coloca no último lugar e serve a todos os demais. O que vale mesmo é a busca do bem dos irmãos, a disponibilidade para ser- vi-los, nada de briga pelo poder. Em seguida, para exemplificar a gratuidade do serviço, Jesus abraça uma criança e a coloca no meio deles afirmando que quem a acolherá, por causa do seu nome, estará acolhendo a ele em pessoa e aquele que o enviou: Deus Pai. Com efeito, uma criança era, e ainda é, totalmente dependente dos adultos. Só pode ser ajudada por generosidade, porque não tem poder algum para devolver algum favor e nem dinheiro para pagar a atenção recebida. Jesus fala aos discípulos, mas, no fundo, está apresen- tando a escolha dele de não ser um“messias” dominador, mas servidor, pronto para dar o exemplo de entregar a sua própria vida para que outros possam aprender a amar cada vez mais (Mc 10,45). Não podemos excluir que a memória desse ensi- namento de Jesus possa ter sidomotivada por divisões e disputas de poder naquelas primeiras comunidades cristãs onde foi escrito o evangelho de Marcos. No entanto, amensagemé de uma atualidade extraordinária entre pessoas e grupos da própria Igreja. Parece que a vontade de estar na frente e mandar nos outros é sempre uma grande tentação da qual não é fácil se livrar. Se também olharmos a situação atual da sociedade, existe uma verdadeira guerra para ocupar os primeiros lugares do poder em todos os âmbitos. As declarações são sempre juras de dedicação e humildade, mas depois, muitas vezes, na atuação prática acontece o contrário. No pensamento de muitos, quem chega a ocupar um cargo e não se organiza para se promover e subir mais é um incapaz que não soube aproveitar a oportunidade. Assim se perpetuam a corrupção e a descrença de que possa existir alguém que, estando em lugares de grande responsabilidade, consiga agir mais para o bem comum do que para os próprios interesses particulares. Para Jesus ser “últimos” não significa simplesmente ter humildade, verdadeira ou falsa que seja, mas saber de fato colocar os outros a nossa frente, trabalhar mais para o bem-estar dos demais do que para o nosso. Precisamos de autoridades que estejam a serviço do bem de todos, de maneira especial os mais necessitados e esquecidos. Segundo João 13,12-15, quando Jesus lavou os pés dos discípulos não disse que deixava de ser Mestre e Senhor, mas que era justamente nesta condição que os estava servindo de maneira tão exemplar. Um detalhe: na ocasião Jesus tirou o manto e cingiu o avental como faziam os servos. Não precisou de alfaiate. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá Não podemos excluir que a memória desse ensinamento de Jesus possa ter sido motivada por divisões e disputas de poder naquelas primeiras comunidades cristãs onde foi escrito o evangelho de Marcos. No entanto, a mensagem é de uma atualidade extraordinária entre pessoas e grupos da própria Igreja. Parece que a vontade de estar na frente e mandar nos outros é sempre uma grande tentação da qual não é fácil se livrar. O mandarim e o alfaiate O salmo 111 nos diz que é feliz a pessoa (e eu diria também a nação) que teme o Senhor. E esse respeito, obediência a Deus, não se dá tanto em falar Dele, como diz Jesus Cristo: ‘não que diz Senhor, Senhor, mas que faz a vontade Dele entra no Reino de Deus.’ Portanto, a felicidade é consequência de seguir a Deus, colocando emprática a sua vontade que é de amar. Hoje emdia, podemos dizer que as pessoas são realmente felizes? As nações são felizes? Por que todas essas agitações, rupturas, ódios, ciúmes, mentiras, vinganças e guerras? Te convido a ler o salmo para depois tentar entendê-lo melhor. "Aleluia. Feliz o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos. 2. Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos. 3. Suntuosa riqueza haverá em sua casa, e para sempre durará sua abundância. 4. Como luz, se eleva, nas trevas, para os retos, o homem benfazejo, misericordioso e justo. Feliz o homem que se compadece e empresta, que regula suas ações pela justiça. 6. Nada jamais o há de abalar: eterna será a memória do justo. 7. Não temerá notícias funestas, porque seu coração está firme e confiante no Senhor. 8. Inabalável é seu coração, livre de medo, até que possa ver confundidos os seus adversários. 9. Com largueza distribuiu, deu aos pobres; sua liberalidade per- manecerá para sempre. Pode levantar a cabeça com altivez. 10. O pecador, porém, não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus." O salmo que acabaste de ler é uma resposta ética, de comportamento do fiel que queira colocar realmente em prática aquilo que Deus exige, que a sua Palavra orienta. Esse hino é, de fato, uma bem-aventurança para o justo. Isto, naturalmente, marcado pela visão sa- piencial da contraposição do justo e o ímpio. O hino oferece dois personagens em contraposições: um, o justo, lhe são dedicados nove versículos sobre dez e, no entanto, o ímpio somente um versículo. O pecador, infiel, assim assiste ao triunfo do justo, fiel, fazendo o que? Diz o salmo: “não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus.” Quem é o justo, o fiel? É aquele que segue fielmente aAliança do Senhor e é humilde; e se preocupa de estar próximo dos pobres e dos que sofreme reparte com eles a sua ajuda, a sua caridade. Essa ação caridosa, segundo a concepção da retri- buição do Antigo Testamento que é caracterizada por esse binômio ‘delito-castigo’ e ‘justiça-prêmio,’ leva a ter uma grande bênção de Deus, que, além do mais, se es- tende a toda família emarca toda a geração que pertence ao justo, ao fiel: “Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos.” Assim sendo, segundo a visão clássica sapiencial bíblica, quempratica o bemgera felicidade. É o compromisso coma caridade que dá felicidade também para uma nação. No Novo Testamento, encontramos tambémemSão Paulo como referência ao versículo 9 deste salmo, na segunda carta aos Coríntios, no versículo 9 o seguinte: “Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre." E o papa Francisco na audiência geral na Praça S. Pedro do dia 11.06.2014 disse o seguinte: “Estejamos atentos a não pôr a esperança no dinheiro, no orgulho, no poder e na vaidade, pois tudo isto não nos pode prometer nada de bom! Por exemplo, penso nas pessoas que têm responsabilidades sobre os outros e se deixam corromper; pensais que uma pessoa corrupta será feliz no além? Não, todo o fruto do seu suborno corrompeu o seu coração e será dif ícil alcançar o Senhor. Penso em quantos vivem do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; pensais que quantos traficam pessoas, que exploram o próximo com o trabalho escravo têm o amor de Deus no seu coração? Não, não têm temor de Deus e não são felizes. Não o são! Penso naqueles que fabricam armas para fomentar as guerras; mas que profissão é esta!? Estou convicto de que se agora eu vos dirigir a pergunta: quantos de vós sois fabricantes de armas? Nenhum, ninguém! Estes fabricantes de armas não vêm para ouvir a Palavra de Deus! Eles fabricam a morte, são mercantes de morte, fazem da morte mercadoria. Que o temor de Deus os leve a compreender que um dia tudo acaba e que deverão prestar contas a Deus. (...) Peçamos ao Senhor a graça de unir a nossa voz à dos pobres, para acolher o dom do temor de Deus e poder reconhecer- nos, juntamente com eles, revestidos de misericórdia e de amor a Deus, que é o nosso Pai, o nosso pai. Assim seja!” ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. Essa ação caridosa, segundo a concepção da retribuição do Antigo Testamento que é caracterizada por esse binômio ‘delito-castigo’ e ‘justiça-prêmio’, leva a ter uma grande bênção de Deus, que, além do mais, se estende a toda família e marca toda a geração que pertence ao justo, ao 3el: “Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos.” Feliz o homem que teme o senhor

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