Diário do Amapá - 29 e 30/06/2025
ENTREVISTA DIPLOMATA |ENTREVISTA | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 29 E 30 DE JUNHO DE 2025 14 Amenos de seis meses para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, o presidente da COP30, o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago, falou com exclusividade à CNN sobre a expectativa para o evento. E mbaixador, vamos começar então coma questão de Bonn, que é considerada uma espécie demini COP. Muitas negociações acontecememBonn, naAlema- nha, onde fica a sede do organismo da ONU que controla mudanças climáticas. Foi o primeiro teste da presidência brasileira da COP. Qual é o balanço que o senhor faz des- sa reunião?. André Corrêa do Lago - Olha, o balanço foi bom, e a realidade é que havia uma enorme expectativa porque a gente veio commuitas ideias novas, comuma equipe muito boa, e nós não sabemos muito bem como como seria a reação, porque, como você disse, é uma pré- via da COP, mas é também a primeira reunião oficial depois da COP de Baku. E na COP de Baku, como você sabe, vários países ficaram comum certo gosto amargo, sobretudo na área de financiamento. En- tão, a gente não sabia muito bem como os países reagiriam, e o Brasil propôs um caminho, inclusive, de avançar nos documentos que a gen- te teria que negociar também emBelém. Podemos dizer que foi boa a reunião, porque a gente conseguiu avançar em vários documentos que estavammeio emperrados e que já vão chegar emBelém já bas- tante adiantados. Quais esses documentos em que houve progresso? André Lago - A Olha, tem dois temas muito caros aos países em desenvolvimento que estavam sendo tratados. Como você sabe, as negociações de mudança do clima são basicamente sepa- radas entre mitigação e adaptação. Então, mitigação é quando você reduz as emissões, e a adaptação é quando você incorpora as mudanças do clima que já estão acontecendo na sua vida. Eu acho que um exemplo, infelizmente, que nós tivemos no ano pas- sado foi Porto Alegre. Porto Alegre poderia ter sido menos grave se a gente tivesse feito investimentos de adaptação, sabendo que vão aumentar as chuvas, sabendo da intensidade. Isso aconteceu também na Espanha, aconteceu em vários países do mundo. E aí nós tivemos também um caso muito claro que só a mitigação re- solve, que é o caso dos rios sem água na Amazônia. Não há nada que você possa fazer para se adaptar a isso, né? Então, realmente é reduzir as emissões para reduzir a intensidade da mudança do clima. Um dos grandes debates é como nós vamos fazer o mundo desenvolvido, que é o principal poluidor, o principal responsável pelas mudanças climáticas his- toricamente, assumir a conta que eles precisam pa- gar e chegar a US$ 1,3 trilhão? André Lago - Teve uma decisão em Baku que foi de pedir para que o presidente da COP29, Mukhtar Babayev, e eu, presidente da COP 30, nós devemos apresentar ummapa do caminho para che- gar a esse US$ 1,3 trilhão. Só que esse mapa do caminho vai ser uma proposta nossa, dos dois, com base em várias propostas que nós estamos recebendo de países, de organizações, de bancos de desenvolvimento. Nós estamos juntando muitas ideias de como esse dinheiro poderia vir. Mas grande de parte desse desses recur- sos vão vir como investimento. Mas qual é a ironia? É que os países em desenvolvimento não só não recebem dinheiro público, como também são considerados de alto risco, e, portanto, também não recebem dinheiro privado. Então, esses ajustes com o apoio de bancos de desenvolvimento, com apoio de várias instituições que existem, têm que ser estruturados de maneira mais eficiente, mas também de maneira muito mais rápida, porque a ciência nos mos- tra que há uma urgência climática, e a gente não tem tempo de passar 20 anos bolando um sistema financeiro que funciona. Ou seja, tem que fazer o mais rápido possível. Qual é a sua expectativa especificamente em Belém do que pode sair acordado entre todos os países com relação ao petróleo? André Lago - Pois é, as COPs tem várias dimensões, né? Então alguns resultados vão ser da reunião dos chefes de Estado. Outros resultados vão ser da negociação formal entre os países. E outros resultados vão vir da agenda de ação, que é toda essa programação que a gente tem na COP em que você envolve os atores que não ne- gociam. São os governos de Estado, as prefeituras, a sociedade civil, investimento privado, tecnologia, todo esse sistema. Então, eu acho que a gente pode ter resultados em várias dessas áreas, inclusive de como nós vamos poder estimular que diferentes soluções sejam en- contradas, porque cada país tem um desafio diferente. Há países que cuja economia inteira depende de combustíveis fósseis. O Brasil já avançou imensamente na sua transição. Nós somos o país que todo mundo admira por ser uma economia tão grande que tem 90% da eletricidade renovável. Mas há países que ainda depen- dem da eletricidade em 90% de carvão, por exemplo. Cada país tem uma situação diferente. E eu acho que isso é uma coisa muito im- portante, a COP trazer soluções. Edição: Cleber Barbosa Crédito: Américo Martins/CNN PERFIL AndréCorrêa do Lago é um diplomata brasileiro, atualmente secretário de Clima, Energia e MeioAmbiente do Ministério das Relações Exteriores e presidente da COP30 BREVE BIOGRAFIA -Conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). Diplomata desde 1983. É Secretário do Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores. Foi Embaixador na Índia (2019-2023) e no Japão (2013- 2018). Na área de arquitetura é autor, curador e membro de júri. Há três anos, é membro do júri do prêmio Pritzker. Também é membro do júri do concurso do IMS de SP e do júri para nova sede do IMPA (matemática) no Rio. - Trabalhou em diversas áreas no Ministério das Relações Exteriores, principalmente na área ambiental. Foi negociador chefe do Brasil para Mudançado Clima e Desenvolvimento Sustentável, inclusive na Rio+20. Como diplomata, serviu na Missão junto à União Europeia em Bruxelas (2005- 2008) e nas Embaixadas em Buenos Aires (1999- 2001), Washington, DC (1996-1999), Praga (1988-1991) e Madri (1986-1988). - É co-curador e co- autor com Lauro Cavalcanti da obra "Ainda Moderno?". É formado em Economia pela UFRJ. NACOP 30 - Defende a ideia de "mutirão global" para cumprir o GST (Global Stocktake) como uma NDC Global (Contribuição Globalmente Determinada). André Lago ■ André Lago: apenas emmarço o governo destinou R$ 75 bilhões para juros da dívida pública. OBrasil já avançou imensamente natransição energética
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