Diário do Amapá - 18 e 19/05/2025

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 18 E 19 DE MAIO DE 2025 2 D urante a aula de geografia, uma criança, em sua simplicidade, respondeu às perguntas da professora e disse: “A vantagem da longitude e da latitude é que quando estamos afogando podemos gritar em que lon- gitude e latitude estamos e, assim, poderão nos encontrar”. O evangelho de Mateus, deste 19º Domingo do Tempo Comum, apre- senta-nos uma situação inusitada e surpreendente, cheia de simbolismos e de mensagens. Com a costumeira arte narrativa dos evangelhos, as coisas vão acontecendo. Jesus decide se despedir das multidões depois de ter satisfeito a fome delas. Pede aos apóstolos que o precedam, de barco, para a outra margem do lago de Tiberíades. Ele fica sozinho para orar. Aquela que devia ser uma simples travessia ameaça se tornar uma tragédia. Uma súbita ventania contrária agita as ondas e o barco dos discípulos não alcança a terra firme. Era mesmo para ficar com medo. Os experientes pescadores, porém, não gritam por causa das ondas. Ficam apavorados, porque na es- curidão da noite enxergam uma figura humana caminhando ao encontro deles por cima das águas. Estava acontecendo algo evidentemente impossível para eles. O evangelista nos diz que o “fantasma” visto por eles era Jesus. O Mestre se aproxima e pronuncia palavras confortadoras: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo!” (Mt 14,27). Mas isso não basta para eles acreditarem. Assim, Pedro desafia o desconhecido e pede para poder também caminhar sobre a água. Jesus aceita, mas o apóstolo ainda não venceu a insegurança e o medo e começa a afundar. Contudo Pedro consegue dizer palavras que são um verdadeiro grito de fé: “Senhor, salva- me!” (v.30). Em resposta, Jesus o repreende porque foi fraco na fé e duvidou. No final os discípulos re- conhecem quem é Jesus: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (v.33). Desde quando Jesus chamou os primeiros se- guidores e disse que faria deles “pescadores de ho- mens”, foi fácil comparar aquela pequena comuni- dade – que hoje chamamos de Igreja – com um barco enfrentando as ondas, mansas ou agitadas, na travessia dos tempos. Muitas obras artísticas buscaram representar isso. Em geral, na proa do barco está Pedro e, às vezes, os seus sucessores. No entanto, fica a pergunta à qual o evangelho deste domingo nos ajuda a responder: Jesus onde está? Não é ele o único, verdadeiro e “bom” pastor que conduz a sua Igreja? Sem dúvida alguma é assim! Contudo, depois da Ressurreição, o próprio Jesus entregou o dom do Espírito Santo e enviou os apóstolos para continuar a missão que o Pai lhe tinha confiado. Desde então a Igreja de Jesus Cristo, animada pelo Espírito Santo, singra os mares da história enfrentando as inevitáveis turbulências da fragilidade humana. Devemos ser realistas e não ter medo. A comunidade Igreja sempre será formada por pessoas – hoje somos nós – que, ao mesmo tempo, são santas e pecadoras. Ambas essas realidades são visíveis, não só porque experimentamos isso todos os dias em nossas vidas, mas também como conjunto de irmãos e irmãs. Somos chamados à santidade, mas ainda temos que fazer as contas com as nossas imperfeições humanas. A “outra margem” não se alcança tão facilmente. Mais uma vez, o segredo para continuar a travessia é ter fé. Nunca ter receio de gritar a Jesus nas horas dif íceis e nas horas de alegria também: “Senhor, salva-me”. Tem até um canto que diz: “Segura na mão de Deus e vai...”. O que acontece é que muitas vezes esquecemos disso. Preferimos confiar mais nas nossas próprias forças ou recorrer a outros “salvadores” que se apresentam como capazes de solucionar todos os nossos problemas e, assim, confundem a nossa cabeça e esfriam a nossa fé. Segurar na mão do Senhor não significa que sempre vai acontecer o que nós pensamos e que ele vai fazer tudo o que nós pedimos. Não, não foi isso que Jesus prometeu e não é esta a Vida Nova daquele Reino que começa neste mundo, mas não acaba por aqui. Ter fé significa acreditar que nunca estamos sozinhos, ele está sempre conosco. Jesus não precisa de latitude e longitude para nos encontrar e salvar. Basta gritar com fé: “Senhor, salva-me!” ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Bispo de Macapá A comunidade Igreja sempre será formada por pessoas – hoje somos nós – que, ao mesmo tempo, são santas e pecadoras. Ambas essas realidades são visíveis, não só porque experimentamos isso todos os dias em nossas vidas, mas também como conjunto de irmãos e irmãs. Longitude e latitude Q uem realmente acredita e tem fé em Deus reconhece que o maior perigo da vida é o pecado. Infelizmente, a sociedade que parece dar preferência ao puro materialismo, à ganância, ao poder como ver- dadeiras opções de garantias de vida nem percebe a presença do pecado nem sabe o que é ou não o reconhece. Faz de conta que não existe. Pensamentos como esses refletem uma sociedade concentrada na materia- lidade. Tudo em função daquilo que se consome. E a felicidade consiste somente em ter cada vez mais para consumir. Uma ótica como essa não permite discernir a vida como um todo, na sua objetividade. É dif ícil, assim, fazer uma experiência além da matéria, reconhecer a vida como além daquilo que enxergamos. Deus, assim, não tem lugar na ‘nossa mesa’. Mas aquele que busca a sua vida em Deus reconhece o quanto estamos longe Dele ou falhamos com Ele. E aí sente o peso do pecado. Não por acaso, os santos se acham os maiores pecadores do mundo, porque justamente experimentam o quanto é grande a incapacidade de seguir a Deus. A leitura do salmo 31 das Sagradas Escrituras nos ilumina a respeito disso: “Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Feliz o homem a quem o Senhor não argui de falta, e em cujo coração não há dolo. Enquanto me conservei calado, mir- raram-se-me os ossos, entre contínuos gemidos. Pois, dia e noite, vossa mão pesava sobre mim; esgotavam-se-me as forças como nos ardores do verão. Então, eu vos confessei o meu pecado, e não mais dissimulei a minha culpa. Disse: Sim, vou confessar ao Senhor a minha iniquidade. E vós perdoastes a pena do meu pecado. Assim também todo fiel recorrerá a vós, no momento da necessidade. Quando transbordarem muitas águas, elas não chegarão até ele. Vós sois meu asilo, das angústiasme preservareis eme envolvereis na alegria de minha salvação. Vou te ensinar, dizeis, vou temostrar o caminho que deves seguir; vou te instruir, fitando em ti os meus olhos: não queiras ser sem inteligência como o cavalo, como o muar, que só ao freio e à rédea submetem seus ímpetos; de outro modo não se chegam a ti. São muitos os sofrimentos do ímpio. Mas quemespera no Senhor, sua misericórdia o envolve. Ó justos, alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor. Exultai todos vós, retos de coração.” O fiel desse salmo reconhece que o pecado, que ameaça a vida, pesa fortemente na consciência da pessoa e esgota as suas forças. O pecado atinge até o f ísico. Mas aquilo que o autor dessa oração quer evidenciar é o aspecto positivo do perdão, e por isso aconselha qual é o verdadeiro rumo que o ser humano deve percorrer: “vou te mostrar o caminho que deves seguir”. Assim sendo testemunha o suplicante que é oportuno agradecer constantemente a Deus e convida ao mesmo tempo o ser humano a não se entregar a ação selvagem do pecado: “não queiras ser sem inteligência como o cavalo”. O salmo nos mostra o sentido do pecado por três verbos: absolvido, perdoado e não argui de falta. O primeiro verbo ‘absolvido’ significa que Deus nos tira um peso que nós carregamos permitindo assim respirar na nossa vida. O segundo verbo ‘perdoado’ quer dizer que o pecado foi cancelado, anulado pela ação eficaz de Deus. E o terceiro ‘não argui de falta’ diz que o pecado não faz mais parte da lista das obras do ser humano. Estamos perante uma remissão plena da culpa. Assim sendo, o ser humano que se converte e é perdoado se torna um verdadeiro fiel, um testemunho para os outros. Por isso todo fiel, nas trevas do pecado, suplica o Senhor para ser liberto. É essa experiência de li- bertação que leva o perdoado a aclamar com profunda alegria: ‘Alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor’. ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. O fiel desse salmo reconhece que o pecado, que ameaça a vida, pesa fortemente na consciência da pessoa e esgota as suas forças. O pecado atinge até o físico. Mas aquilo que o autor dessa oração quer evidenciar é o aspecto positivo do perdão, e por isso aconselha qual é o verdadeiro rumo que o ser humano deve percorrer. Feliz aquele cujo pecado foi perdoado

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