Diário do Amapá - 21/05/2025

| ECONOMIA | DIÁRIO DO AMAPÁ 7 ECONOMIA QUARTA-FEIRA | 21 DE MAIO DE 2025 S upermercado contrata: Cinco vagas para operador de caixa registradora, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Pode ter que desempenhar outras funções, como repor mercadorias, lim- peza e arrumação. Salário a partir de R$ 1.600, vale transporte e refeição no local. Expediente na escala 6x1. O anúncio está em um site popular de empregos e, assim como esse, é fácil encontrar outras vagas semelhantes por todo o país em termos de salário, escala de trabalho e funções exigidas. Há uma semana, empresários do setor de supermercados reunidos em São Paulo disseram ter dificuldades para preencher 35 mil postos no estado. Segundo eles, os jovens queremmo- dernidade e flexibilidade. A solução seria adotar o regime de trabalho por hora, também chamado de intermitente. Representantes sindicais e pesqui- sadores da área do trabalho ouvidos pela Agência Brasil discordam da proposta. Dizem que a mudança aumenta a pre- carização do trabalhador: há riscos de redução do salário e de perda de direitos trabalhistas. Realidade atual Uma constatação, a partir da mate- mática básica, é de que os salários médios oferecidos em supermercados são insu- ficientes para cobrir as despesas mensais. O exemplo da vaga citada no início do texto oferece pouco mais de um salário mínimo – que é de R$ 1.518. Já o valor do mínimo com descontos previ- denciários (INSS, 7,5% do bruto) é esti- mado em R$ 1.404. Uma busca rápida por aluguel de apartamento no centro de Nova Iguaçu, onde o emprego é anunciado, custa a partir de R$ 900 para um imóvel de 50 metros quadrados (m²) e 1 quarto. O custo de uma cesta básica consi- derada ideal para alimentação saudável é de R$ 432 por pessoa, segundo levan- tamento do Instituto Pacto Contra a Fome. Despesa média de luz, segundo Agên- cia Nacional de Energia Elétrica (Aneel), fica entre R$ 100 e R$ 200 por domicí- lio. Nesta estimativa rápida, a renda mensal fica comprometida em pelo me- nos R$ 1.432. Valor que já está acima do salário líquido. Isso tudo sem levar em consideração outros itens comuns como plano de ce- lular, internet residencial, itens de far- mácia, cuidados pessoais como corte de cabelo, vestuário, educação e lazer. “As pessoas que trabalham nessas condições enfrentam o endividamento ou precisam complementar a renda. Nes- se último caso, por conta da escala 6x1, usam o único dia de folga no trabalho. É uma espiral de precarização”, analisa a doutora em Psicologia Social do Trabalho e professora na Universidade Federal Fluminense (UFF), Flávia Uchôa de Oli- veira. “Estou com uma pesquisa, ainda em desenvolvimento, que mostra a percepção desses trabalhadores sobre a escala 6x1. O que eu posso adiantar é que eles per- cebem essas condições como determi- nantes para o adoecimento f ísico e men- tal. É muito preocupante o número dos que usam medicamentos ansiolíticos, antidepressivos e analgésicos para su- portar o dia a dia”, complementa. ■ CONTRATOS DE TRABALHO POR HORA EM SUPERMERCADOS AUMENTAM PRECARIZAÇÃO DIREITOS TRABALHISTAS V Foto/ Tânia Rêgo/Agência Brasil

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