Diário do Amapá - 02 a 05/03/2025

| OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO A QUARTA-FEIRA | 02 A 05 DE MARÇO DE 2025 2 LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA U ma mulher foi até a fonte do seu vilarejo. Era um pequeno espelho de água limpa e tinha árvores ao redor. Quando ela colocou o seu pote para pegar a água, viu um fruto colorido que parecia dizer para ela: "Me pegue!". A mulher alongou o braço na fonte para pegar o fruto bonito, mas ele sumiu imediatamente. O fruto apareceu novamente quando a mulher retirou o braço da água. Fez isso duas ou três vezes. Pensou que fosse alguma bruxaria, mas querendo mesmo pegar o fruto, começou a esvaziar a fonte. Trabalhou muito. Quando secou a fonte, o fruto não estava lá. Foi naquele momento que teve a certeza de escutar uma voz que dizia: "Por que procuras em baixo? O fruto está no alto!". A mulher levantou os olhos e viu o fruto colorido que procurava pendurado num galho. O que aparecia na fonte era somente o reflexo dele. Nesta Quaresma, a partir do Terceiro Domingo, encontraremos trechos do evangelho de João. Todos os quatro evangelhos, com pequenas diferenças, apresentam aquela que é conhecida como a “expulsão dos vendilhões do Templo”. Mateus, Marcos e Lucas colocam esse acontecimento depois da entrada de Jesus em Jerusalém. Rapidamente se intensifica a perseguição contra ele até chegar à condenação e à morte na cruz. O evangelista João faz diferente, coloca essa ida para o Templo ainda no início do seu evangelho, logo após do “primeiro sinal” da água transformada em vinho nas bodas de Caná da Galileia (Jo 2,11). Isso significa que as atitudes e as palavras de Jesus nesses momentos têm um valor indicativo para co- meçar a entender as disputas, as revelações, os “mal- entendidos” e os “sinais” que virão em seguida. Os discípulos interpretaram a ação de Jesus como con- sequência do seu “zelo”. Não foi, portanto, uma explosão de raiva momentânea, mas uma ação de denúncia contra aqueles que, para fazer os próprios interesses, aproveitavam do grande movimento de peregrinos e devotos, que cumpriam as suas obrigações com o Templo. De fato, o Templo era o centro vital de Jerusalém, não somente para os cultos e as orações, mas por toda a movimentação humana e financeira que gerava. Tendo certeza do pagamento dos impostos, tudo isso era tolerado pelos romanos que, também, tinham os seus interesses nos negócios do Templo. Até aqui, nada de muito novo: grandes templos, grandes negócios. Também nos dias de hoje. Temos que nos perguntar se ganha mais a fé dos fiéis ou o bolso dos organizadores. Os judeus, evidentemente, reclamaram da atitude de Jesus e pediram explicação. Um “sinal”, algo que justificasse o acontecido tão de- sagradável para eles. Aqui chegamos ao ponto central do evangelho deste domingo: uma profecia da res- surreição. É um dos tantos equívocos que pedem ex- plicação no evangelho de João. Jesus falava do templo, mas não aquele de pedra onde eles estavam, falava do “templo” do seu corpo ressuscitado três dias após a morte na cruz. Algo impensável e incompreensível para todos, naquele momento, mas uma verdade que se tornará clara para os discípulos depois da ressurreição de Jesus, quando se lembrarão daquelas palavras. Sem a luz da fé, nenhum sinal, por extraordinário que seja, nos conduz à confiança em Deus e ao seguimento de Jesus. Com fé, “sinais” pequenos e simples, que não dizem nada aos outros, podem ser decisivos para quem acredita. Pode ser um pequeno gesto de bondade e de partilha com um irmão necessitado, um ato de solidariedade com quem perdeu tudo, um abraço para quem chora sozinho. Toda ação que nos proporciona a alegria pelo bem que fazemos com humildade é um pequeno sinal que algo está mudando em nós, começa a aparecer o “homem novo”, o homem da Páscoa, livre da indiferença e do egoísmo. Às vezes, nós também somos tentados a pedir e a acreditar em grandes sinais. Devemos sempre olhar para o alto, ou seja, para a grandeza e a bondade de Deus, que Jesus veio nos fazer conhecer. Nem sempre grandes construções ou grandes eventos ajudam a aumentar a nossa fé. Rezemos para que eles sejam, ao menos, “reflexos” não do nosso orgulho ou sonhos de supe- rioridade, mas sinais de uma fé “grande” de verdade. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Administrador Apostólico da Diocese de Macapá Sem a luz da fé, nenhum sinal, por extraordinário que seja, nos conduz à confiança em Deus e ao seguimento de Jesus. Com fé, “sinais” pequenos e simples, que não dizem nada aos outros, podem ser decisivos para quem acredita. Pode ser um pequeno gesto de bondade e de partilha com um irmão necessitado... O reflexo Q ual é autonomia da ação do ser humano no âmbito da criação? Qual é o espaço da liberdade humana no contexto da criação? É livre? De fato, vivemos em um tempo em que a ação do ser humano tem sempre mais condições de modificar a realidade criada. Que sentido tem esse agir humano (livre e responsável) no contexto da criação feita por Deus? Para onde deve se en- caminhar a criatividade humana? Essas perguntas nos levam a entender o papel das pessoas. E o salmo 100, das Sagradas Escrituras, nos ajuda a dar algumas respostas a tudo isso. Quem faz a experiência de Deus na vida pode dizer que, através do louvor ao Senhor e o comportamento que não se confunde com o mal, poderá ter umamelhor compreensão no âmbito da criação. Agindo corretamente e louvando Deus não podemos confundir a nossa vida. Leia o que diz o salmo: "Cantarei a bondade e a justiça. A vós, Senhor, salmodiarei. Pelo caminho reto quero seguir. Oh, quando vireis a mim? Caminharei na inocência de coração, no seio de minha família. Não proporei ante meus olhos nenhum pensamento culpável. Terei horror àquele que pratica o mal, não será ele meu amigo. Estará sempre longe demimo coração perverso, não quero conhecer omal. Exterminarei o que em segredo caluniar seu próximo. Não suportarei homem arrogante e de coração vaidoso. Meus olhos se voltarão para os fiéis da terra, para fazê-los habitar comigo. Serámeu servo o homem que segue o caminho reto. O fraudulento nãohá demorar jamais emminha casa. Não subsistirá omentiroso antemeus olhos. Todos os dias extirparei da terra os ímpios, banindo da cidade do Senhor os que praticamomal." Este salmo pode ser rezado sempre, porque ajuda a enfrentar o reto comportamento do dia a dia da vida. O que ele focaliza? Em primeiro lugar põe em evidência o aspecto chamado ‘moral’ da vida humana. Osalmista é rigoroso emfocalizar umcomportamento severo em cumprir integralmente as leis de Deus e saber ouvir a própria consciência. No caminho, na ‘inocência de coração,’ o mesmo Deus vai ao seu encontro e faz de tudo para sustenta-lo. Um Deus presente e forte para o seu fiel. Naturalmente, o com- promisso do fiel é tal que se opõe firmemente à injustiça e ao mal: “Terei horror àquele que pratica o mal, não será ele meu amigo”. Além disso, tem outro aspecto que se evidencia no compromisso social: “Meus olhos se voltarão para os fiéis da terra”. É um combate contra a calúnia e o falso testemunho nos tribunais, demonstrando uma hostilidade às classes poderosas e, ao mesmo tempo, uma defesa para os pobres indefesos e os justos. Tudo isso revela um grande compromisso para eliminar as injustiças e o mal que imperam na vida da sociedade. É um programa de justiça que quer imitar a ação de Deus na sociedade. E o final, descrito como uma cruel violência, umderramento de sangue, que gera certa inquietude nas pessoas, não é nada mais que um gênero literáriomuito usado no Oriente. Na verdade, é uma expressão semítica, adjetivo que se refere aos povos que tra- dicionalmente falaram línguas semíticas entre os quais os árabes e hebreus, de um sério e determinado compromisso para combater e eliminar o mal, a injustiça e a malvadez humana. Este salmo, eu creio, que ainda é atual. Precisamos combater o veneno da ambição que nega o outro, da soberba que radicaliza o egoísmo. E não só: lutar para que os poderes busquemsempre o bemdas pessoas, na verdade e na justiça. O papa Francisco no dia 23 de outubro 2013, Dia Mundial das Missões, falou o seguinte: “A luta contra omal é dura e longa, requer paciência e resistência”. E continuou o pontífice: “Clamar dia e noite’ a Deus! Impressiona-nos esta imagem da oração. Mas vamos nos perguntar: por que Deus quer isso? Ele já não conhece as nossas necessidades? Que sentido tem ‘insistir’ comDeus? Esta é uma boa pergunta, que nos faz aprofundar um aspecto muito importante da fé: Deus nos convida a rezar com insistência, não porque não sabe do que precisamos, ou porque não nos ouve. Pelo contrário, Ele ouve sempre e sabe tudo sobre nós, com amor”... “Nós lutamos comele ao lado, e a nossa arma é precisamente a oração, que nos faz sentir a sua presença, a sua misericórdia, a sua ajuda”. O Senhor está conosco e, portanto, canta a sua bondade. ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. Na verdade, é uma expressão semítica, adjetivo que se refere aos povos que tradicionalmente falaram línguas semíticas entre os quais os árabes e hebreus, de um sério e determinado compromisso para combater e eliminar o mal, a injustiça e a malvadez humana. Este salmo, eu creio, que ainda é atual. Cantarei a bondade e a justiça

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