Diário do Amapá - 16 e 17/03/2025

ENTREVISTA EX-PRESIDENTE |ENTREVISTA | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 16 E 17 DE MARÇO DE 2025 14 O ex- presidente José Sarney, de 94 anos, fez comparação sobre quando decidiu que disputaria sua última eleição com a idade do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente de honra do MDB preferiu não opinar se Lula concorre. O governo Lula temenfrentado queda na populari- dade, emespecial pela alta nos preços dos ali- mentos. Seu governo tambémsofreu coma infla- ção. Aque o senhor atribui a atual crise? José Sarney - O presidente Lula fez excelentes governos. E a de- mocracia possibilitou um operário no poder. Isso raramente aconte- ce. Mas ninguém governa o tempo no qual se vai governar. Há tem- pos em que governamos na abundância, mas há tempos em que go- vernamos na escassez. Lula não está nos governando num tempo de bonança, mas sim num tempo dif ícil, não só para o Brasil, mas de uma maneira internacional. Eu governei num tempo que a História se contorcia. Criamos as eleições diretas. Asseguramos direitos civis e os direitos humanos. Criamos uma Constituição. O MDB esteve presente em todas as gestões petistas. Essa aliança deve ser renovada em 2026? José Sarney - Não administro a convivência partidária e as alianças, mas sou o presidente de honra do MDB e vejo que sem- pre foi um partido dif ícil porque tem democracia interna. Nin- guém domina o MDB. Não há dono do partido. Acho que o MDB deve apoiar (Lula), sim. Entre os candidatos que estão colo- cados, Lula ainda é o homem que tem a maior popularidade, a maior confiança do povo brasileiro. O senhor concorreu pela última vez numa eleição aos 76 anos. Lula, se renovar o mandato, terá 81. O que o senhor acha de ele entrar na disputa com essa idade? José Sarney - Só ele pode decidir. Quando deixei de ser candi- dato, muita gente no Amapá pedia que eu fosse candidato. Achei que não deveria. É melhor sair muito bem do que já velho. Vê carência de alternativas a Lula na esquerda? José Sarney - Temos tido surpresas nas eleições. Tivemos uma grande surpresa com o Fernando Collor. Outra com o Bolsonaro. Ninguém podia ter imaginado que Bolsonaro, em algummomento, pudesse ser presidente. Não dá para avaliar o que pode acontecer. É mais difícil governar com o Congresso, que ganhou poder por meio das emendas, do que na sua época? José Sarney - O Congresso mudou muito. Houve uma multipli- cação dos partidos sem raízes históricas. Não estou querendo julgar, mas acho que naquele tempo seguíamos líderes partidários, pessoas com grande expressão nacional. Atualmente, há falta de liderança do Congresso. A pior coisa que os acontecimentos de 1964 produziram foi a extinção dos partidos, que eram uma formação de líderes. Sem partidos políticos fortes, não há democracia forte. A disciplina parti- dária democrática é aquela que tem democracia interna. E hoje nós verificamos que os partidos não têm democracia interna. Onovo presidente da Câmara, HugoMotta, defende o de- bate sobre umamudança no sistema do governo para o parlamentarismo. Como o senhorvê essa discussão? José Sarney - A reforma política é a mais urgente de todas. Vejo que o parlamentarismo algumdia chegará no Brasil. Esse presidencia- lismo de coalizão leva a muitas acusações de corrupção, porque o pre- sidente temque aliciar, fazer maiorias e todos têm reivindicações que muitas vezes extrapolamo interesse público. Defendo o parlamenta- rismomitigado, a exemplo do francês. Com voto distrital misto. OBrasil comemora nesta semana 40 anos de redemo- cratização, que se iniciou como seu governo. Qual é o principal aprendizado deste período? José Sarney - Semdúvida alguma foi a melhor transição democrá- tica feita nos países da América. Conseguimos fazer uma transição semhipotecas militares, como no Chile. Fizemos comque os militares voltassem aos quartéis e que se dedicassem a garantir as funções constitucionais da democracia do Brasil. Nesse período, o país consti- tuiu uma democracia consolidada. Nesses 40 anos, não tivemos ne- nhumhiato. Este é omaior período democrático da história brasileira. O senhor acredita que emalgummomento neste período a democracia no Brasil esteve sob risco? José Sarney - Sim, viveu muitos riscos. Principalmente durante o período da transição. Houve muitas ameaças de retrocessos. Duran- te a Constituinte também. Os atos de 8 de janeiro e a trama golpista? José Sarney - Foram uma pressão muito grande sobre a de- mocracia. Mas vejo que criamos instituições fortes, capazes de aguentar dois impeachments e também esse episódio. . Isso tudo ainda será devidamente apurado pela Justiça, ainda não se tem uma noção exata do que estava ocorrendo. Foi um fato gra- ve, mas foi mais um momento da nossa democracia em que as Forças Armadas mostraram que elas estão aí para sustentar a Constituição, a democracia, a liberdade. ■ Texto: CLEBER BARBOSA | Foto: IRANEI LOPES PERFIL José Sarneyé um ex-político, sendo uma das figuras políticasmais importantes da história recente de nosso país. Assumiu a presidência, em 1985, comamorte deTancredo Neves. BIOGRAFIA - José Ribamar Ferreira de Araújo Costa nasceu na cidade de Pinheiro, no interior do estado do Maranhão, em 24 de abril de 1930. Popularmente conhecido como José Sarney, ele recebeu a identidade de “Sarney” em referência ao seu pai, que se chamava Sarney de Araújo Costa. Este trabalhava na carreira jurídica, sendo promotor e depois desembargador. A mãe de Sarney se chamava Kyola Ferreira de Araújo Costa. - Ingressou no Partido Social- Democrático (PSD) em 1954, e, no ano seguinte, assumiu como deputado federal suplente. - Entre 1955 e 1959, Sarney assumiu a vaga de deputado federal como suplente por sete vezes. - Em 1958, ele mudou de partido, filiando-se à União Democrática Nacional (UDN). - Teve como auge de sua trajetória política o período em que foi presidente do Brasil. - Sarney é originário do Maranhão e ingressou na política desse estado na década de 1950. - Ao longo de sua trajetória, foi deputado federal, governador do Maranhão, senador e presidente da república. José Sarney ■ Cappelli já presidiu a UNE, atuou noMaranhão e integrou governo Lula entre 2003 e 2006. Émelhorsairdapolíticamuito bemdoque jávelho

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