Diário do Amapá - 16 e 17/03/2025

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIODECOMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) - Fone: 96-3223-7690 www.diariodoamapa.com.br COMPROMISSOCOMANOTÍCIA |OPINIÃO | DIÁRIO DO AMAPÁ DOMINGO E SEGUNDA-FEIRA | 16 E 17 DE MARÇO DE 2025 2 A corrida dos cachorros das mais diversas raças tinha acabado naquele momento. Todos estavam cansados, ofegantes e com a língua pen- durada fora da boca. Quase não conseguiam falar. Mais uma vez, ti- nham feito o possível para pegar aquela lebre que corria na frente deles. – A próxima vez teremos que nos esforçar mais – disse Branca, a única fêmea que tinha participado da corrida. – Quase eu alcancei aquela maldita lebre, reclamou Silver, um cachorro de pelo prateado. - Um dia conseguiremos, somos os mais velozes do mundo – gritou Mel, um labrador cheio de boa vontade. Nenhum deles sabia que corriam atrás de uma lebre de mentira. O falso animal era movido por um motor elétrico e controlado a distância para ficar sempre na frente dos cachorros. O evangelho de Lucas deste Quinto Domingo do Tempo Comum nos fala de uma pesca extraordinária no lago de Genesaré e do chamado dos primeiros apóstolos para serem “pescadores de homens”. Tudo começa com o ensinamento de Jesus às multidões. O Mestre está sentado na barca de Simão e de lá fala ao povo que fica à margem do lago. Ao concluir o seu ensinamento, Jesus pede a Simão para sair com o barco para pescar. O experto pescador revela que já trabalharam a noite inteira e não conseguiram nada. - Mas, em atenção à tua palavra vou lançar as redes - diz Simão (Lc 5,5). O peixe foi tão abundante que quase as redes se rompiam. A reação de Simão Pedro e dos demais companheiros foi de espanto e de medo. Jesus os encoraja e os chama ao seu seguimento. Eles deixaram tudo para participar de uma “pescaria” muito diferente: juntar pessoas dispostas a confiar naquele homem que Simão já chamou de “Senhor” (Lc 5,8). Podemos pensar que nada podia conquistar mais facilmente o coração daqueles pescadores do que uma pesca milagrosa. No entanto eles não fi- caram por lá aproveitando da fartura. “Deixaram tudo” diz o evangelho. Algo novo devia ter chamado a atenção deles. Acredito que foi o ensinamento de Jesus. De fato, Simão Pedro declara confiar na- quela palavra que se tornou quase uma ordem: “Avança para águas mais profundas” (Lc 5,4). Esse é um convite que Jesus sempre faz a todos nós. Não é algo reservado a alguns. Todos somos cha- mados a confiar mais sobre a sua palavra. Como Simão Pedro temos sempre muitas desculpas para não responder, porque estamos conscientes das nossas limitações e fraquezas. No entanto, é justa- mente dessa situação de acomodação e preguiça que o Senhor quer nos tirar. Podemos dizer também que estamos cansados como Simão e os demais que haviam trabalhado a noite inteira. No fundo, a questão é simples: confiamos demais nas nossas forças e capacidades e menos na sua palavra. Jesus quer e precisa, sim, da nossa participação – ele usa o barco e as redes de Simão – mas, antes de qualquer organização e iniciativa, a primeira das nossas ações é a prática da sua palavra. Dar ouvido à Palavra do Senhor, para nós cristãos, não significa desistir de usar a nossa inteligência e a nossa criatividade. Contudo devemos sempre nos perguntar se o que al- cançamos é para o bem de todos ou somente de alguns, se a humanidade fica melhor, mais fraterna e solidária, ou se aumentamos as diferenças, as divisões e as disputas com as relativas brigas e invejas que vão juntas. A “ordem” de Jesus de avançar para águas mais profundas não é um convite para correr atrás de qualquer sonho ou ilusão por impossível que nos pareça, em busca talvez de um grande sucesso, mas passageiro. Ao contrário, é acreditar que ele será o primeiro a nos ajudar quando os nossos projetos serão mais de justiça, de paz e de partilha. O Reino de Deus que Jesus veio inaugurar não é como a lebre de mentira que serve para fazer correr os ca- chorros enlouquecidos. É o motivo da nossa fé e da nossa própria vida. ■ DOMPEDROCONTI E-mail: oscarfilho.ap@bol.com.br Administrador Apostólico da Diocese de Macapá De outra forma, corremos o risco de dar demasiado valor ao resultado das nossas capacidades e esquecer o sentido daquilo que nos parece sucesso extraordinário. Vez por outra, ouvimos falar de “milagre econômico”. Todos os dias aprendemos notícias de novas conquistas tecnológicas e escutamos que alguns conseguem multiplicar “milagrosamente” as suas já enormes fortunas. A lebre e os cachorros U ma questão que ouço constantemente na vida das pessoas é esse tipo de queixa: “Deus, por que permite essa violência, essas atrocidades no meio de nós? Morte de crianças, sequestros, homicídios, imoralidades, deturpação da realidade, corrupção...” As pessoas querem entender a dif ícil convivência da humanidade. Mas parece que não conseguem dar uma razão. Lendo o salmo 72, das Sagradas Escrituras, pode-se tentar dar uma resposta. "Oh, como Deus é bom para os corações retos, e o Senhor para com aqueles que têm o coração puro! Contudo, meus pés iam resvalar, por pouco não escorreguei, porque me indignava contra os ímpios, vendo o bem-estar dos maus: não existe sofrimento para eles, seus corpos são robustos e sadios. Dos sofrimentos dos mortais não participam, não são atormentados como os outros homens. Eles se adornam com um colar de orgulho, e se cobrem com ummanto de arrogância. Da gordura que os incha sai a iniquidade, e transborda a temeridade. Zombam e falam com malícia, discursam, altivamente, em tom ameaçador. Com seus propósitos afrontam o céu e suas línguas ferem toda a terra. Por isso se volta para eles o meu povo, e bebe com avidez das suas águas. E dizem então: Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disto? Assim são os pecadores que, tranquilamente, au- mentamsuas riquezas. Então foi emvão que conservei o coração puro e na inocência lavei as minhas mãos? Pois tenho sofrido muito e sido castigado cada dia. Se eu pensasse: Também vou falar como eles, seria infiel à raça de vossos filhos. Reflito para compreender este problema, mui penosa me pareceu esta tarefa, até o momento em que entrei no vosso santuário e em que me dei conta da sorte que os espera. Sim, vós os colocais num terreno escorregadio, à ruína vós os conduzis. Eis que subitamente se arruinaram, sumiram, destruídos por catástrofemedonha. Como de um sonho ao se despertar, Senhor, levantando- vos, desprezais a sombra deles. Quando eume exas- perava e se me atormentava o coração, eu ignorava, não entendia, como umanimal qualquer. Mas estarei sempre convosco, porque vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios me conduzirão, e, por fim, na glória me acolhereis. Afora vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra.Meu coração eminha carne podem já desfalecer, a rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus. Sim, perecem aqueles que de vós se apartam, destruís os que procuram satisfação fora de vós. Mas, para mim, a felicidade é me aproximar de Deus, é pôr minha confiança no Senhor Deus, a fim de narrar as vossas maravilhas diante das portas da filha de Sião." Esse hino inicia louvando o Senhor porque Ele é bom com aqueles que são transparentes na vida. Não são duplos, isto é, que se comportam dizendo uma coisa e fazendo outra. Porém, o fiel fica irritado e amargurado vendo esses ímpios malvados tendo uma existência esbanjando riqueza e felicidade e, no entanto, ele lutando para sobreviver. Ele rezando manifesta toda essa preocupação, porque o ímpio se enche de orgulho, estufa o peito e pratica a violência. O coração do malvado é um vaso cheio de loucuras e a sua boca desafia céu e terra: “dizem então: Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disto?” No entanto, o justo é colocado à prova e sofre todos os dias a diferença do sucesso do malvado. A segunda parte dos versículos 17 a 20 marca a mudança do salmo. O fiel desse salmo muda de opinião: aquela posição fatalista do infiel que é mais feliz do justo se inverte. Por que? É entrando no santuário que lhe permite de fazer uma experiência mística em que descobre o destino último dos ímpios e dos justos. Nessa experiência de oração, consegue discernir a verdadeira realidade da humanidade: o malvado não tem futuro e será destruído. Aquela felicidade inicial foi só uma ilusão, um sonho que termina o quanto antes. O justo, no entanto, vive a grande esperança da imortalidade pela comunhão com Deus, Senhor de tudo e de todos. Portanto, é a proximidade com Deus que ajuda compreender a preciosidade da vida dos justos. ■ CLAUDIOPIGHIN E-mail: clpighin@claudio-pighin.net Sacerdote e doutor em teologia. O coração do malvado é um vaso cheio de loucuras e a sua boca desa-a céu e terra: “dizem então: Porventura Deus o sabe? Tem o Altíssimo conhecimento disto?” No entanto, o justo é colocado à prova e sofre todos os dias a diferença do sucesso do malvado. Entrar no santuário do senhor

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