Diário do Amapá - 18/03/2025

| ECONOMIA | DIÁRIO DO AMAPÁ 7 ECONOMIA TERÇA-FEIRA | 18 DE MARÇO DE 2025 C ondições climáticas e mudanças no uso da terra que privilegiaram culturas de exportação nos últi- mos anos causaram redução no ritmo de crescimento da produção de alimentos no país e explicam o aumento no preço da comida. A constatação faz parte da Carta do Ibre, análise de conjuntura eco- nômica publicada mensalmente pelo Ins- tituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). O texto, assinado pelo economista Luiz Guilherme Schymura, traz a cola- boração de outros pesquisadores do Ibre e aponta motivos que explicam a inflação de alimentos subir em velocidade maior que a inflação oficial do país, apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Con- sumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A análise aponta que a alta no preço da comida é reflexo do fato de a produção no campo não acompanhar a demanda da população. O IPCA de fevereiro mostrou que a inflação do grupo alimentos e bebidas subiu 7,25% no acumulado de 12 meses, acima do índice geral, que apresentou alta de 4,56%. A Carta do Ibre observa esse descolamento entre inflação da co- mida e inflação geral durante um tempo mais longo. “Entre 2012 e 2024, o item alimen- tação no domicílio teve alta de 162%, enquanto o IPCA geral elevou-se 109%”, afirma o documento. Clima e dólar O Ibre ressalta que “a alta dos ali- mentos – que tem peso maior na cesta de consumo dos mais pobres – no Brasil e no mundo é um processo que já tem quase duas décadas, commuitos e com- plexos fatores explicativos”. Schymura destaca como responsáveis pelo descasamento entre a inflação dos alimentos e o índice geral as mudanças climáticas, com aumento de eventos ex- tremos e maior imprevisibilidade me- teorológica, que “provocam perturbações crescentes na oferta de commodities [mercadorias negociadas com preços in- ternacionais] e produtos alimentícios, num processo que afeta diversas partes do globo e, de forma bastante nítida e relevante, o Brasil”. A análise frisa que efeitos negativos das mudanças climáticas começaram a emergir claramente a partir de meados dos anos 2000, com efeitos ainda mais negativos em partes mais quentes do globo, como no Brasil. O documento assinala também que a “expressiva desvalorização cambial” possui parcela de culpa no encarecimento dos alimentos, uma vez que estimula a exportação. Com o real desvalorizado, vender para outros países e obter receita em dólar torna mais lucrativa a atividade do produtor. Mais um impacto do fator câmbio alto é o encarecimento de insumos agrí- colas importados, como defensivos, fer- tilizantes, máquinas e equipamentos. ■ CLIMA E FOCO EM EXPORTAÇÃO EXPLICAM ALTA DE ALIMENTOS NO LONGO PRAZO PRODUÇÃO V Foto/ Joédson Alves/Agência Brasil

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