Diário do Amapá - 02 e 03/08/2020

LUIZ MELO Diretor Superintendente ZIULANA MELO Diretora de Jornalismo Circulação simultânea em Macapá, Belém, Brasília e em todos os municípios do Amapá. Os conceitos emitidos em artigos e colunas são de responsabilidade dos seus autores e nem sempre refletem a opinião deste Jornal. Suas publicações são com o propósito de estimular o debate dos problemas amapaenses e do país. O Diário do Amapá busca levantar e fomentar debates que visem a solução dos problemas amapaenses e brasileiros, e também refletir as diversas tendências do pensamento das sociedades nacional e internacional. ZIULANA MELO Editora Chefe MÁRLIO MELO Diretor Administrativo DIÁRIO DE COMUNICAÇÕES LTDA. C.N.P.J: 02.401.125/0001-59 Administração, Redação e Publicidade Avenida Coriolano Jucá, 456 - Centro CEP 68900-101 Macapá (AP) www.diariodoamapa.com.br or que notícias falsas correm rapida- mente nas redes sociais?Qual a inten- ção de tudo isso? Para que serve esse tipo de (des) informação? Em síntese, pode- ríamos dizer que as falsas informações per- correm de forma extraordinárias as redes sociais porque é através delas que se tenta firmar as amizades com pessoas de mesmo caráter e que trocam conteúdos entre si. Todos nós sabemos que a informação é um fenômeno de contagio social e, nesse senti- do, nunca, como hoje, vimos a grande importância que assumiu a mídia como informação. Essa vitalidade das notícias tem uma semelhança entre as pandemias e a maneira como circula uma falsa notícia nas redes sociais, mastambém tem grandes dife- renças. A partir dessas considerações se torna difícil prever e analisar suas dinâmicas. A essa altura, podemos nos questionar: sobre esse tipo de ação nas redes, é possível con- sidera-la como inteligência grupal-comuni- tária ou poderia ser considerada uma igno- rância grupal-comunitária? Provavelmente, por que não considera-la as duas faces da mesma moeda? Uma coisa é certa: a informação é um fenômeno de con- tágio social. Assim que recebo, por exemplo, algumas informações dos meus amigos ou conhecidos e começo a repassa-las. É como se tivesse sido infectado. E, por sua vez, eu infecto os outros. Por- tanto, como se defender dos vírus das redes? Falando de informação, a socie- dade tem uma grande incidência sobre a possibilidade de contágio. E se por acaso essas informações vierem de amigos ou de pessoas que simpatizamos e que con- fiamos porque têm os mesmos interesses e pensamentos, então têm ainda mais impor- tâncias as informações. Assim sendo, é pos- sível prevê onde, quanto e quando se difunde uma informação falsa? Perante esse ques- tionamento, precisamos compreender o que é uma notícia falsa, o que é desinformação. Às vezes, é simples para entender, às vezes, é meio complicado. Portanto, compreender qual é a percepção do mundo a respeito de uma determinada notícia pode ser bem com- plexo. Precisamos detalhar o espaço, o ambiente onde nasce essa falsa notí- cia; identificar as pessoas com quem se mantém o contato cons- tantemente e seus costumes de vida, e assim por diante. Com essas novas tecnologias que inva- dem qualquer território pode ser mais possível identificar elementos para umamelhor analise da realidade e, assim, cruzar as notícias e identifi- ca-las. Mas se isso é verdade para penei- rar melhor as notícias, também é verdade que se podem difundir cada vezmais notícias falsas. Essas redes sociais, colocando a dis- posição de todos quaisquer tipos de notícia, podem iludir muitos de saber tudo, de estar informado de maneira eficiente. No entanto, isso não é verdade. É urgente nos conscientizar para evitar abrir um grande conflito entre a idade da inte- ligência coletiva e da ignorância coletiva. Infe- lizmente, essa ignorância coletiva podemudar a própria realidade: compreender uma coisa por outra pode levar a situações desastrosas. Nenhuma região do planeta está isenta de uma possível crise alimentar bem próxima causada pela pandemia covid- 19. A Organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura (FAO) em con- junto com o Programa Alimentar Mundial (PAM) prepararam uma lista de ao menos 27 países que correm o risco da fome e, em alguns casos, já estão vendo o desgaste da insegurança alimentar experimentando um aumento considerável do número de pessoas levadas à fome extrema”. Isso revela o rela- tório das duas Agências da ONU apresen- tado à imprensa alguns dias atrás. Nos próximos meses, as previsões, para alguns países da Ásia, da América e da Áfri- ca, são das piores. Também porque alguns desses países já viviam uma crise alimentar grave antes da pandemia. As causas diver- sas: recessão econômica, instabilidade e insegurança, eventos climáticos extremos como seca ou inundações, pragas na agri- cultura. Como será o futuro? Quantos milhões de seres humanos morrerão pela fome? Quantas crianças não desenvolverão as suas capacidades por causa da desnutri- ção? O que acontecerá no Brasil? No domingo do evangelho da “multipli- cação” dos pães e dos peixes começo a minha reflexão com essas notícias. Não é uma historinha imaginária. É a duríssima realidade de milhões de seres humanos como nós, com as mesmas necessidades de ali- mento e de água. Com a mesma vontade de viver!Mas o que podemos fazer? Todos nós nos sentimos impotentes frente às dimensões da crise, no entanto a nos- sa consciência de cristãos e de pes- soas “humanas” não pode nos dei- xar indiferentes. Se acreditamos, as palavras de Jesus podem nos ajudar a entender e, espero, tam- bém a agir. A primeira palavra é “compai- xão” (Mt 14,14). Ao sair do barco, Jesus vê o povo e se enche de com- paixão. É o sentimento de quem abre o seu coração para deixar entrar o sofri- mento dos outros. A dor alheia se torna também a nossa.Mexe conosco. O contrário, evidentemente, é fechar os olhos, virar as costas e esquecer ou a desculpa de sempre: eu não sabia! São tantas as formas para calar a nossa sensibilidade. Curioso: choramos e torcemos para que o bem triunfe assistindo a filmes e telenovelas, mas estamos prontos a julgar um pobre como preguiçoso e vaga- bundo. Quando desistimos de ser “huma- nos”, deixamos também de sermos imagem e semelhança de um Deus que se revelou amoroso e compassivo. A segunda palavra de Jesus é um ver- dadeiro desafio para os discípulos: - Dai- lhes vós mesmo de comer! (Mt 14,16). Eles só têm “cinco pães e dois peixes”. Pouco demais para a fome da multidão. Contudo, dá para começar. Talvez o segredo esteja nisto: ousar algo novo, algo que parece impossível. Arriscar a partilha, arriscar uma nova economia mundial. Ilusão? Papa Fran- cisco sempre nosfala para sermos cria- tivos, de abrir caminhos novos, de não esperarmos pelos outros. Não é possível que uma humanidade tão fecunda de tecnologia nas comunicações, nas armas letais, nos gastos enormes para shows espetaculares, não saiba o que fazer para resolver a fome nomun- do. Estamos chegando em Marte, mas estamos “perdidos” ainda por aqui, no planeta Terra, porque estamos “perdendo” milhões de vidas humanas. A terceira palavra de Jesus é: - Trazei- os aqui (Mt 14,18). Ele pede que confiem nele, que acreditem que o impossível pode acontecer com a compaixão e a partilha. Mas não só naquele momento, por causa daquela fome, mas sempre. Jesus nos pede para apren- dermos com ele a vencer o medo de sermos mais fraternos e solidários. É por isso que o evangelista Mateus nos deixa perceber, ante- cipadamente, os gestos da Eucaristia, o que Jesus fará na despedida da Última Ceia. Esse é o “milagre” que não pode parar de acontecer: uma turma de discípulos que con- tinua a manter viva a memória-presença de Jesus, reparte o Corpo e o Sangue dele, para construir uma humanidade “nova” de irmãos, sem ódio, sem ganância, sem fome. A Eucaristia não é só a “comunhão” com Jesus Cristo sacramentado, é também comu- nhão com aqu ele Jesus que está com fome e que um dia vai nos dizer “foi a mim que o fizestes”.

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